spoiler visualizarLiteratania 17/10/2021
Ave, Conceição Evaristo! Ave, Ponciá Vivêncio! ??
Ponciá Vivêncio #literatania #literaturabrasileiracontemporânea
A diegése inovadora de seu romance, ou seja, o modo de narrar as ações, me surpreendeu, não só pela poeticidade da linguagem, pelo encadeamento das ações focando nas repetições, mas pelos níveis narrativos na apresentação das personagens.
No nível intradiegético temos a apresentação da Ponciá, a história de sua família, a morte e a causa da morte do avós (pais de seu pai), a semelhança de Ponciá com o avô que ela nem conheceu direito, pois era de colo quando ele morreu.
No nível hipodiegético, as personagens são desvendadas, Ponciá e seus devaneios, seu mergulho no eu profundo, os desencontros e os sonhos por dias melhores.
No nível extradiegético: a voz da autora. A reflexão da autora sobre o passado, presente e o futuro vazio num estado de profundo niilismo diante da vida. A aparente alienação de Ponciá é, na realidade, uma rebelião silenciosa e mística ligada a pequena escultura que ela fez do avô, ambos foram feitos do mesmo barro.
O retorno de Ponciá às suas origens é a representação do abandono dos sonhos que morreram como os seus filhos, porque neste mundo de desigualdades e injustiças não há espaço para eles. A loucura, a revolta e a morte do avó pelo avô, o desespero e a dor da escravidão e subserviência é metaforizada nos objetos de barro feitos pelas mãos de Ponciá e sua mãe. Estes objetos agora estão em exposição e são comercializados pelos donos da terra, donos dos nomes dos Vivêncios e, consequentemente, de suas vidas.
O alheamento de Ponciá Vivêncio à vida e ao seu próprio eu, é na realidade a ausência, o vazio, o desamparo de toda uma etnia de descendentes da diáspora em busca de sua identidade e de sua memória. Enfim é um belíssimo romance. Ave, Conceição Evaristo! Ave, Ponciá Vivêncio! ??