Gabriela 14/12/2023
Escrevivência dos Becos
Nessa narrativa memorialista, é contada a história do desfavelamento de uma comunidade, de forma que o tempo da narração e o tempo da narrativa são diferentes. A narratária é Maria-Nova, que, de um tempo futuro, recorda-se daqueles dias de sofrimento e escreve uma homenagem póstuma a Vó Rita e a tantos outros personagens que compõem os Becos da Memória.
Esses personagens se amontoam lado a lado nas páginas, como os próprios barracos da favela. A história de cada um é revelada devagar, ao passo em que a favela está sendo destruída, as histórias de todos se entrelaçando à história do lugar.
Maria-Nova, sempre atenta, acolhe em seus ouvidos-conchas as histórias dos demais personagens, majoritariamente contadas a ela por Bondade, homem de idade infinita e sem casa própria, que se hospeda na casa dos demais moradores. Além de Bondade, também Tio Totó conta-lhe muitas histórias. Diante de tudo que vê e ouve, Maria-Nova faz um compromisso consigo mesma de escrever a história de seu povo.
É um livro sensível, profundo, reflexivo, que mostra a aproximação entre senzala e favela. Através da figura de Negro Alírio, muitos costumes da ordem social hegemônica são contestados e colocados em cheque. As tantas mortes causadas pela miséria e pelo desconhecimento são dolorosas e sofridas, uma denúncia da realidade social que Conceição escolheu retratar ? em que há muito de autobiográfico.