Luciano Luíz 02/09/2023
Algumas coisas quando as mesmas permanecem são muito bem-vindas. Outras não. Para que sejamos receptivos, o ideal é que aquele mais do mesmo continue tendo qualidade. No caso dum romance, trata-se de dois fatores: narrativa e enredo. A narrativa é a linguagem utilizada, a forma de escrita que os escritores usam. Cada um tem seu próprio estilo, apesar outros se copiarem ou tentarem simular escritas de terceiros. O enredo é tão somente a trama. A história que apesar de ser diferente das anteriores, ainda é sustentada pelos mesmos alicerces fundamentais que deram certo. No caso de DAN BROWN, seus sete romances são basicamente construídos com os mesmos ingredientes. Podemos em verdade deixar de lado FORTALEZA DIGITAL e PONTO DE IMPACTO pelo fato de que estes tem grande vantagem sobre os outros protagonizados pelo professor de Simbologia de Harvard.
ORIGEM usa como pano central as duas famosas perguntas tão disseminadas pela humanidade ao longo de sua breve existência: de onde viemos e para onde vamos?
A ideia em si nada tem de novo, porém, aqui vamos nós para mais do mesmo, no entanto, sem a qualidade de ANJOS & DEMÔNIOS, O CÓDIGO DA VINCI e INFERNO. O SÍMBOLO PERDIDO é horrível de tão tosco em todos os sentidos, mas deixa ele lá.
ORIGEM tem as mesmas correrias, ficar decifrando códigos, aquela guerra sem fim contra a igreja católica, um assassino grande forte, másculo que em nome de Deus e sua fé vai destruir qualquer um que seja uma ameaça em potencial aos planos divinos, uma moça magrinha e alta que nos acompanha pra cima e pra baixo, um monte de informações históricas sobre obras de arte, arquitetura, etc. e blá, blá, blá...
Vou ser sincero. O livro que mais gosto do autor é FORTALEZA DIGITAL. Também curto os demais (tirando O SÌMBOLO), mas é cansativo ler mais do mesmo quando este mesmo não traz algo novo. ORIGEM mais parece uma cartilha didática tentando lhe convencer de que pode ser um bom romance. A narrativa é boa, mas as cenas de luta são ruins, independente das personagens trocarem socos ou tiros. Em todos os livros isso sempre foi deficiente, mas não estragava o curso da coisa.
Só que agora, depois de tantas repetições fica difícil de continuar lendo mais do mesmo sem ser a mesma qualidade. Os diálogos empobreceram ao longo dos anos. Não há mais cenas impactantes, revelações num próximo capítulo que te prensam a atenção, não tem um incentivo de querer saber o que há na próxima página. Os capítulos concluem com momentos que depois se revelam como coisa comum ou nem isso.
As conversas são repetitivas demais. Toda aquela coisa de batalha entre bem e mal, ciência e religião, já vi nos volumes anteriores à exaustão. Se ao menos tivesse alguns detalhes inéditos, tudo bem, mas ORGIEM não brilha em nenhum fragmento.
O futurólogo que diz ter descoberto as respostas para as duas grandes perguntas nos dá respostas que já conhecemos há décadas de outras fontes literárias e obviamente científicas. É desprezível descobrir que ali naquela história está apenas o que já temos conhecimento.
Para alguém que está entrando agora na leitura, seja jovem ou com mais idade e tem pouca ou nenhuma bagagem literária é fascinante e principalmente se nada souber sobre origem e destino da humanidade. Mas o problema é que geralmente quem vai ler esse romance já possui algum grau de conhecimento e se decepciona quando em verdade passou horas lendo para pouco ou nada poder extrair da obra. Apesar de que pouco ainda é melhor que nada. E neste caso vai variar de leitores e leitoras.
Mas dividi com você o que senti. Se for para dar um resumo mais simples, é um livro que não é bom, mas também não é ruim (uma estimativa baseada no que mencionei acima para tentar equilibrar). Seria algo como desbom, da mesma maneira que foi cravado em 1984 de GEORGE ORWELL.
Ou se for para desenhar de outra maneira, uma leitura repleta dum vazio de mais do mesmo sem a qualidade necessária para se aprofundar.
Ou ainda é só um romance que tendo o nome famoso do autor, vai vender bem porque ele tem um contrato com a editora mesmo sendo um texto que não é grande coisa...
Enfim, se leu os anteriores, dá uma conferida nesse e tire suas própria conclusões.
L. L. Santos
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