Amanda 22/02/2018Mais receita de boloDan Brown alcançou sua fama com O Código Da Vinci, um livro com polêmicas e questionamentos religiosos, tramas cheias de suspense e um professor universitário com QI elevado e disposto a resolver um grande mistério. E assim se iniciou a saga Langdon.
O problema é que Dan Brown ficou tão apegado ao sucesso que fez com essa fórmula mágica que passou a produzir histórias previsíveis, maçantes e frustrantes seguindo o mesmo modelo livro após livro. O autor está definitivamente na sua zona de conforto, que eu ouso chamar de bolha de conforto, e se recusa a explorar novos ares, expandir seu leque como escritor.
O que ele parece não entender é que depois de se criticar religião uma, duas, três vezes a coisa deixa de ser polêmica, que deveria ser o efeito desejado, e se torna esperada. Chata. "Esse discurso de novo?". Parece uma pregação, só que o equilíbrio sempre triunfa e várias questões morais são discutidas ao longo das histórias para amenizar o impacto. Sempre a mesma coisa.
Deixando um pouco de lado a minha insatisfação com esse ponto, Origem promete um mistério grandioso, uma revelação prestes a abalar o cerne de todas as crenças religiosas no mundo inteiro com a premissa "De onde viemos? Para onde vamos?". Ok, poderia ser interessante. Eu quis que fosse interessante, dei esse voto de confiança no Dan. Mas não rolou.
Esse clima megalomaníaco e pretensioso que ronda o livro, especialmente pelo personagem Edmond Kirsch, um cara que, sinceramente, só posso descrever como pedante e insuportável. Mas vamos seguindo em frente na esperança de que a tal resposta seja mesmo tão impressionante. E é aí que ele decepciona de vez com questionamentos datados e que revelam um profundo desconhecimento de um dos temas principais do livro: os rumos e limites da tecnologia. Tema esse polêmico por si só e cheio de vertentes e pensamentos que vão desde a esfera social até a técnica em si, e o autor simplesmente escolhe os argumentos mais bobos. Estamos anos-luz à sua frente, Dan Brown.
Outro ponto que me incomodou profundamente foi a participação feminina no livro. Honestamente, era melhor que nem existisse. Se é para retratar uma personagem feminina secundária, uma das únicas, como uma tentativa de mulher independente mas que não faz nada durante o livro e no único momento importante que tinha estraga tudo, então é melhor deixar de lado. Em pleno 2018, com toda a discussão sobre representatividade, o senhor me vem com essa? Ah, não. Ambra Vidal é um fiasco de personagem.
A única coisa que Dan Brown ainda faz bem é descrever. Sua passagem pela Espanha desfila cenários grandiosos pelo livro, cheio de arte moderna e locais impressionantes. Mas é só.
Sinto muito pela opinião decepcionada e sincera, mas dificilmente Dan Brown conseguirá acertar nesse passo marcado e temeroso.