Queria Estar Lendo 19/09/2017
Resenha: Os 27 Crushes de Molly
The Upside of Unrequited é o segundo livro publicado da autora Becky Albertalli, que também escreveu Simon vs A Agenda Home Sapiens. Aqui no Brasil o livro foi publicado pela Editora Intrínseca, que também publicou Simon, com o título de Os 27 crushes de Molly.
Molly é uma adolescente de 17 anos que, apesar de já ter tido 26 crushes nunca chegou a de fato beijar um garoto. E isso passa a ser um desafio na vida da garota a partir do momento que sua irmã gêmea, Cassie, conhece uma garota e passa a se interessar por ela. Mais do que se interessar, Cassie está se apaixonando por Mina e as duas se envolvem em um relacionamento. O que está ok para Molly, afinal ela ama a irmã e quer que ela seja feliz, o problema é que com o namoro de Cassie ela começa a ter de dividir a atenção da mesma, e, pela primeira vez na vida, Molly se vê sozinha.
"Eu sempre nos imaginei casadas, com nossas próprias casas e companheiros e um grupo de crianças incríveis. Eu nunca pensei no tempo entre essas coisas. A parte de onde nós passamos de "nós" para "ela e eu"."
É por isso que quando a irmã sugere uma operação secreta para arranjar um namorado para Molly, a garota topa, porque se ela tiver um namorado - principalmente se ele for o Will, melhor amigo da Mina - então elas poderiam fazer programinhas de casais, e Molly e Cassie estariam na mesma página de novo. O plano tinha tudo para funcionar, exceto que Molly não tem certeza se ela realmente quer namorar com Will, ou se ela ao menos tem uma crush nele, e principalmente, ela não tem certeza se está pronta para se arriscar.
Porque o motivo de Molly ter um total de 26 crushes e nenhum beijo, é ela nunca ter feito nada sobre isso. Porque se ela se arriscasse, ela correria o risco de levar um fora, e talvez ela não esteja preparada ainda para isso. Um amor não correspondido platônico soa muito melhor do que um amor não correspondido real, do que levar um fora.
"Mas há essa sensação terrível que vem quando um cara pensa que você gosta dele. É como se ele estivesse completamente vestido e você nua na frente dele. É como se o seu coração subitamente vivesse fora do seu corpo, e sempre que o cara quiser, ele pode estender a mão e apertá-lo."
E para ajudar a deixar a garota ainda mais confusa, sua relação com seu companheiro de trabalho começa a mexer com seus sentimentos. Reid é um nerd engraçado e cheio das suas peculiaridades, que em um primeiro momento não tem nada a ver com os garotos em quem Molly costumava ter crushes, mas que vai crescendo cada vez mais no dia-a-dia dela. As diferenças entre Reid e Will são enormes, e Will é o cara ideal para que Molly possa retomar a boa relação que tinha com a irmã, mas as conversas com Reid fluem muito mais fácil, é quase como se ela não estivesse falando com um garoto e então, do nada, ela se pega flertando com ele. Naturalmente, como se não fosse nada de mais, enquanto com Will ela está sempre nervosa e pensando no que fazer e como fazer.
"Nunca disse isso a ninguém - nem para as minhas mães, nem para Cassie - mas é o que mais temo. Não ser importante. Existir em um mundo que não se importa com quem eu sou."
The Upside of Unrequited é um livro maravilhoso e não consigo fazer jus a essa leitura por meio de uma resenha, então mais do que dar uma premissa da história preciso contar sobre como ela me fez sentir, e ela me fez sentir com um sorriso no rosto, uma esperança renovada no amor e uma vontade louca de sair pelo mundo e me apaixonar. Os prazeres deste livro estão nos pequenos detalhes, na maneira como Becky Albertalli nos presenteou com personagens tão bem escritos e tão diversos, sobre como ela nos contemplou com um livro cheio de representatividade e fez isso de uma maneira simples e sem grandes estardalhaços. A representatividade esta ali, pura e simplesmente, na família e no dia-a-dia da vida de Molly porque é assim que ela está na nossa vida. O mundo é um lugar de diferenças, e quando percebemos isso não existe o porquê dar destaque a isso. Porque ser diferente é ser normal.
A primeira coisa interessante sobre a família da Molly é que as mães dela são de origem e sexualidade distintas. Elas não são duas lésbicas, uma delas é bi e isso é vivido de uma forma muito clara na história, sem apagar a sexualidade da personagem só por ela se relacionar com outra mulher. Molly, Cassie e Xav, o irmãozinho delas, são todos filhos do mesmo doador anônimo, mas Molly e Cassie são gêmeas gestadas por Patty enquanto Xav foi gestado por Nadine. Molly tem uma família na qual, descartando o pequeno Xavier, ela é a única personagem heterossexual; um lado da família é judeu e tanto Xav quanto Nadine são personagens de cor. Já deu para perceber apenas neste núcleo familiar o que eu disse sobre representatividade sendo abordada da maneira mais natural o possível, não é mesmo?
"Odeio que estou sequer pensando nisso. Odeio odiar meu corpo. Na verdade, eu nem odeio meu corpo. Eu apenas me preocupo que qualquer outra pessoa possa fazer isso. Porque as garotas gordas não têm namorados, e elas definitivamente não fazem sexo. Não nos filmes - não de verdade - a menos que seja uma piada. E não quero ser uma piada."
Outro ponto importante da leitura é o fato da protagonista ser uma personagem gorda. Nada de gordinha, fofinha ou "levemente acima do peso". Molly é gorda e se assume como tal, e eu espero sinceramente que seus leitores façam o mesmo. Ser gorda é um problema para Molly a partir do momento que isso cria algumas inseguranças, afinal vivemos em uma sociedade que em sua grande maioria é gordofóbica, se ela não se importasse ou percebesse situações envolvendo seu peso eu acharia ela muito fora da realidade, principalmente se tratando de uma adolescente de 17 anos. Mas as inseguranças geradas por causa do seu peso são também relacionadas às inseguranças da adolescência. Gostei muito de como a Molly não deixa que o seu peso anule a sua beleza. Ela se veste bem, tem estilo, ela é bonita, e não "bonita para uma garota gorda". Bonita e fim.
Molly é maravilhosa, e eu amei cada segundo da leitura com ela. E ela precisava mesmo ser uma boa personagem, porque os personagens secundários são simplesmente fantásticos. Amei cada um deles, e gostaria de poder dar o destaque especial que cada um deles merece, mas vou deixar para que vocês descubram durante a leitura. Embora o romance seja muito fofo e do tipo que deixa o leitor com um sorriso no rosto, são estes outros detalhes que fizeram do livro algo tão mágico. Terminei a leitura com uma fé na humanidade que me faltava, com uma vontade de me apaixonar (pelo mundo, pelas pessoas... não sei!). Com vontade viver e ser feliz!
Becky Albertalli ganhou meu coração de uma maneira incondicional, não tem nada dessa mulher que eu não leria. Indico esse livro de olhos fechados e com minha mão no fogo, se fosse o caso. Os 27 crushes de Molly é um livro para rir, para amar e para renovar as esperanças em um mundo melhor.
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