Tamirez | @resenhandosonhos 02/08/2018ANNE FRANK: A Biografia IlustradaTudo o que diz respeito a 2ª Guerra Mundial é algo que me interessa e, por Anne Frank ter sido um dos meus primeiros contatos com a temática, ela acaba por ter um lugar especial entre as minhas escolhas. Então, quando essa HQ foi anunciada eu fiquei super empolgada em descobrir como a história seria retratada através dos quadrinhos.
Porém, durante e após a leitura, o sentimento foi de decepção. Diferente do esperado, devido ao nome, essa não é totalmente a história de Anne Frank ou uma reprodução gráfica do Diário. O que temos aqui é uma contextualização bem mais ampla, desde antes do nascimento de Anne, da história da família Frank, Otto em especial. E é aí que reside o problema aos meus olhos.
Há muitos mistérios que residem na relação da família Frank. Pelo diário de Anne há um retrato de proximidade com o pai e uma certa desavença com a mãe, porém, levando em consideração que tínhamos a visão de uma jovem adolescente, é complicado medir ou apontar o peso e a veracidade de certas coisas na intensidade da situação em que eles estavam.
Porém, aqui, não há um ponto de vista determinado, e certas coisas foram tratadas com demasiada leviandade. Edith, a mãe, é muitas vezes retratada como alguém egoísta ou que pensava mais no seu conforto acima de tudo. E isso é retratado através de pensamentos que ela tem. Agora me diga você: como alguém poderia saber o que se passava na cabeça daquela mulher? Ninguém. Seguindo por outra linha temos uma exaltação demasiada da figura de Otto. Tem um trecho ridículo onde se fala que Otto era maravilhoso, ou outro adjetivo semelhante. Que veracidade de constatação temos nisso?
Já foi-se muito debatido ao longo das décadas o quanto do diário é realmente real, já que desde sua primeira publicação ele sofreu intervenções do pai de Anne, a fim de podar e reter informações para “preservar” a família. Como único sobrevivente do holocausto entre os Frank, há também uma margem para que ele conte a história como quiser e sem contestação. Porém, até então, eu nunca tinha entrado muito em problematização com isso, porque não encontrei nada gritante, diferente desse trabalho.
Se fosse para exercer uma apresentação fiel, essa HQ deveria ser apresentada como a história da família Frank, ou de Otto, que é o que mais aparece, já que Anne tem mais foco somente a partir da metade do quadrinho. Mas, como é vendida de outra forma e apresenta algo que, se tratando de uma história real, não pode ser chamado de “licença poética”, meu sentimento final foi de irritação com os fatos.
Se formos fazer vista grossa a tudo isso, há uma boa exploração do contexto histórico e eu diria que para aprendizado com alunos, por exemplo, essa seria uma boa opção para fixação da matéria, pois é bem didático e apresenta mapas e explicações sobre o que e como aconteceu, podendo, portanto, ser usada como material didático.
O traço é bem bacana e a HQ é toda em cores, mas a edição carecia de um cuidado especial, já que é bem frágil, em capa brochura e sem orelhas. Falando nisso, pode-se ressaltar que recentemente, com lançamento pela editora Record, também tivemos uma HQ com foco na Anne, mas com uma proposta diferente, e que tem uma edição mais caprichada. Estou com bastante curiosidade de conferir, pra ver as diferenças e, principalmente, a abordagem.
De qualquer forma, acho que há material válido aqui, se os traços da família não forem levados tão a sério, o que pode ser difícil já que é através deles que se passa a narrativa. Pra mim, infelizmente, não funcionou. Mas se você também curte essa temática, talvez valha a pena dar uma chance e ver se funciona contigo.
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