Letícia 24/06/2022
Passei raiva? Passei. Mas também me identifiquei muito e saí da leitura transformada!
Neste segundo livro da Tetralogia Napolitana, Lila e Lenu testaram a minha paciência. Contudo, apesar de suas atitudes terem me exasperado em vários momentos, a estória e as personagens permaneceram muito verossímeis. Afinal, em História do Novo Sobrenome acompanhamos as duas protagonistas durante o fim da adolescência e o início da vida adulta. Elas ainda são imaturas, ingênuas e cometem erros que, embora crassos, são típicos de sua idade. Tais falhas as tornam mais complexas e, por isso, mais reais.
Ficou ainda mais claro como Lila é uma mulher a frente de seu tempo, execrada por todos justamente por se comportar como os homens: é uma personagem independente, perspicaz, empreendedora, magnética e que desafia as normas vigentes. Além de lidar com o assédio e brutalidade masculinos, não é poupada nem pelas mulheres de seu meio, que, condicionadas aos papeis tradicionais de gênero, reproduzem o machismo e condenam sua insubmissão.
Lenu, por sua vez, é dócil e bem-comportada, altamente crítica com si mesma e afeita a comparações com os outros. Por meio do estudo, ela adquire certa mobilidade social e passa a circular por meios mais intelectualizados, travando contato com pessoas politizadas e de melhores condições financeiras. No entanto, o sentimento de desajuste continua e até aumenta, já que ela não se encaixa mais na dinâmica familiar e do bairro, ao mesmo tempo em que não se sente completamente integrada a esse novo mundo. Lenu torna-se uma outsider, condenada ao não-lugar e ao não-pertencimento.
As duas, por vias distintas, ultrapassam as fronteiras de sua comunidade e daquilo que se esperava de uma mulher periférica nos anos 1960. Por outro lado, e esse provavelmente é o aspecto mais difícil da leitura, vemos como há um distanciamento crescente entre as duas, o que torna sua relação cada vez menos saudável e produz rupturas.
Não a toa, esse segundo volume da Tetralogia foi o que mais me impactou até agora. A identificação com as persongens foi ainda maior e me fez refletir muito sobre minhas próprias vivências e origens. Já me sinto uma verdadeira Ferranter!