spoiler visualizarOgaiT 15/05/2020
As consequências de um nacionalismo ingênuo
Segundo Alfredo Bosi, Triste fim de Policarpo Quaresma está para a nossa literatura, assim como o Dom Quixote de Cervantes está para a literatura espanhola, tal pensamento, se dá por conta dos aspectos “quixotescos” do major Quaresma: os delírios e as frustrações de um “visionário”.
Adepto de uma ideia bastante nacionalista, na medida que pueril, Policarpo Quaresma atravessa uma corrente de infortúnios, que vai desde a proposta de resgatar as nossas raízes indígenas, em especial o idioma tupi-guarani, passa pelas tentativas de uma vida agrícola e, por fim, entra como voluntário na Guerra da Armada. Em todas essas incursões, Policarpo obteve como resultado a decepção.
Logo, essas visões tradicionais e saudosistas são próprias das leituras feitas pelo major Quaresma. Tal aspecto pode ser observado no trecho: “A nossa terra tem as terras mais férteis do mundo…” clara alusão à carta de Pero Vaz de Caminha, que por sua vez, compõe o acervo da personagem, intitulado por Silviano Santiago de “brasiliana”.
Ademais, o chauvinismo equivocado do Policarpo Quaresma, é repreendido em todo o romance pela sociedade. Essa opressão sofrida pelo herói está presente em todas as três partes da narrativa: primeiramente no manicômio, por conseguinte nas regras municipais (questionáveis) e ainda no cerceamento de sua liberdade, ou seja, no cárcere.
Nas palavras de Santiago, “O patriotismo de Quaresma é o pássaro fênix que morre por duas vezes renasce das cinzas e por três vezes morre”. Dessa forma, o desfecho é justamente com a tomada da lucidez do major Policarpo, porém, seu destino, há muito foi vigorado pelo Floriano Peixoto.
Portanto, podemos chegar a conclusão que independentemente das ideias patrióticas do Policarpo, o que vigora o seu fim é o fato de persistir com suas ideias, mesmo que contrárias as convicções do Floriano Peixoto, isto é, o fato do major Quaresma se opor ao autoritarismo do então presidente.