Os Cinco do Ciclo

Os Cinco do Ciclo Elias Flamel




Resenhas - Os Cinco do Ciclo


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thabooks 15/03/2021

Interessante
Livro nacional! (entra aqui o meu apelo para darem uma chance aos livros contemporâneos nacionais, porque eles valem a pena.)

É uma leitura empolgante. Conta a jornada de um líder e seus filhos na luta para preservar seus costumes e religião. Confesso que, de início, estava meio estranho a forma como eles falam, mas depois fica tudo certo.
Elias Flamel 16/03/2021minha estante
Eles valem sim e é ótimo ter reconhecimento dos leitores.
Costumes e religião são a base por trás de muitos personagens.
Tenho que aprender a melhorar o início dos livros e agradeço pela leitura e pelas considerações.




Diego VF 28/05/2021

(in)tolerância religiosa
O assunto principal do livro são as diferentes religiões e o fanatismo em algumas delas e as descobertas do protagonista sobre o mundo em que vive, pois ele parecia saber muito, mas não sabia quase nada. Porém, nessa resenha vou falar sobre o livro de uma maneira mais superficial, pois não acho que eu tenha experiência de vida o suficiente para falar sobre assuntos sérios e discutir sobre eles, então se você quer uma resenha mais aprofundada, não é essa, procure outra.

A história do livro é bem cativante, apesar de ela só aparecer mesmo da segunda metade pra frente, pois todos os capítulos anteriores foram introdutórios, ou a grande maioria pelo menos. Esse é o primeiro aspecto ruim do livro: ele não tem um ritmo muito constante. Tem vários momentos em que ele é bem parado e nada acontece, ao mesmo tempo em que tem momentos bem tensos, como o momento da tempestade ou o final (o final é muito mind-blowing, você foi avisado).

Os personagens são bem legais, e você se apega à eles bem facilmente (apesar de que em alguns casos, você se apega e depois já odeia, oi Alain, tudo bem?). O protagonista é um homem já meio velho, diferente do clássico adolescente que vai salvar o mundo, e eu achei esse toque bem legal. Ele também é o líder do vilarejo em que ele vive, e isso põe peso nos ombros dele, e dá pra sentir a pressão do personagem junto com ele, pois as ameaças e discussões do livro podem facilmente serem adaptadas para o mundo real, e isso cria uma certa conexão com todo o universo do livro (teve uma parte que apareceu, bem de raspão em uma página, uma "casa do prazer". Eu tive que parar de ler pra rir, eu pensei "sério que até aqui já existia isso? KSKSKSSK").

A escrita é suave ao seu próprio estilo. O que quero dizer é: o livro tem uma escrita formal e rigorosa, porém consegue ser bem leve dentro de seus próprios limites.

Enfim, o livro é bem legal, e eu recomendo bastante, mas acho que o público mais jovem não iria gostar muito (eu tenho 14 anos e estou falando isso, meio controverso, mas relevem por favor), pois hoje em dia as crianças e pré-adolescentes preferem muito mais jogar Free Fire e assistir Felipe Neto do que ler um bom livro, muito menos um que trata de assuntos sérios e/ou pesados. Mas pra pessoas mais maduras, seja em idade ou em espírito, eu recomendo sim.

Minha nota é 4/5, pois é um livro bom, porém poderia ser melhor (mas é o primeiro livro do autor, deem um desconto).

"Fazer o que é preciso não é bonito e fácil, mas é preciso."
Elias Flamel 31/05/2021minha estante
Curti demais a sua resenha sincera e as reflexões sobre a sua idade em relação aos temas do livro. Você riu, achou os personagens legais e gostou do final. Isso me deixa muito satisfeito e eu dei muita risada quando você citou os jovens e o Felipe Neto huahuahauhauhauha.

Valeu pelo desconto e espero que a continuação te agrade muito mais.


Diego VF 01/06/2021minha estante
Esse livro já é muito bom, a continuação deve ser ainda mais incrível.

SPOILER PRA QUEM AINDA NÃO LEU O LIVRO

A cena do final em que o Yosef se "rebela" e não jura pra nenhum deus que vai vingar seu lar me deu arrepios. Muito bom mesmo.




SaraBorges 04/07/2022

Acho que não é pra mim!
Primeiramente, quero agradecer o autor por me enviar o livro por email, eu fiquei bem contente.
Em seguida, quero pedir desculpas pela nota baixa. Eu não quero que a minha crítica seja motivo de desânimo, pois sei como é difícil escrever num país onde não se tem muito incentivo.
A verdade é que eu estava esperando uma fantasia, mas a história é sobre política e religião, então acho que não sou o público-alvo. Para alguns, os acontecimentos podem ser incríveis, mas pra mim foi um pouco difícil insistir na leitura pois não gostei do andamento da narrativa.
A escrita é boa e tem momentos muito inspirados, bem detalhistas e dá pra notar o quanto o autor se esforçou pra contar nos mínimos detalhes o que o protagonista estava pensando e sentindo.
Entendi também as críticas ao fanatismo, em como a pobreza não significa nada para quem tem poder, mas no fundo, não curti tanto a jornada.
Espero que esse livro encontre os leitores que amam esse estilo e desejo muito sucesso para o autor!
Elias Flamel 06/07/2022minha estante
Obrigado por ter lido.




ltsalviolo 07/12/2021

A primeira metade desse livro me deixou saudosista. O clima leve de pré-jornada, o cenário rural aconchegante e as descrições intimistas dos habitantes de Keltoi, sob o ponto de vista de um protagonista apaixonado por seu povo, provocaram-me um forte sentimento de pertencimento. Esses elementos, somados à escrita poética do autor, me lembrou de quando ia pra roça com meu avô aos domingos e participava dos eventos da comunidade residente... me lembrou dos passeios pelos cenários medievais dos jogos de RPG enquanto interagia com os amigos das guildas.

Amei como o autor rapidamente me introduziu na dinâmica daquela sociedade, estabelecendo desde cedo que tipo de pai e líder era o protagonista. E amei porque, uma vez consolidada a sua personalidade, a história ganhou novos contornos e me bagunçou inteira! Me perguntei como aquele homem, pai e líder, que conheci na primeira metade do livro, sendo como era, lidaria com as mudanças que começavam a surgir ao seu redor... como os personagens pacíficos, humildes e de forte cultura interiorana poderiam ajudá-lo a enfrentar os perigos que vinham com essas mudanças... o autor me lançou numa jornada de muitos possíveis resultados, e eu amei isso.

Na segunda metade do livro, num ritmo mais fluido, me peguei envolvidíssima na leitura, não só aproveitando cada acontecimento presente, como também antevendo os possíveis destinos reservados à Yosef e seu povo. O melhor é que eu não poderia estar mais enganada em todas as minhas previsões. Que final poderoso (em muitos sentidos)! Corri pra comprar o segundo volume no mesmo dia, de tão empolgada que fiquei!

Um dos melhores livros, do gênero, que já li.
Elias Flamel 07/12/2021minha estante
As palavras de quem, nitidamente, convive com as histórias há um bom tempo me fizeram lembrar do passado. Sou um escritor que demorou para se encontrar com os livros. O conviver com as histórias vem desde a infância. Mergulhar no infinito da literatura foi um presente dado por destino só no final da adolescência. Mal havia começado a enfileirar lombadas finas e grossas na prateleira e já pensava em construir o meu mundo. Um sonho que me fazia imaginar o meu livro ao lado de grandes clássicos da fantasia e também relacionado de alguma forma aos grandes jogos de vídeo game, séries de tv... já até sonhei com uma roda de RPG onde a minha obra era a base para o criar entre amigos. Ver a sua mensagem me deu a sensação de realização, muito obrigado.

Escrevi Os Cinco do Ciclo com intuito de criar cenas na cabeça e fomentar emoções no coração do leitor. Consegui, estou tão feliz por ter conseguido. Hoje me permito ser confiante por completo ao ver como você vivenciou cada palavra da minha história.

Resenha maravilhosa que termina com o seu surpreender. Neste momento só queria estudar mil formas de te dizer obrigado. Uma leitora de J.K. Rowling, George R. R. Martin, Patrick Rothfuss, George Orwell, J. R. R. Tolkien, Rick Riordan, Leigh Bardugo, Bernard Cornwell, Malba Tahan e Stephenie Meyer coloca o meu livro como um dos melhores que já leu. Graças a você me senti muito grande, Priscila Mesquita. Serei eternamente grato, muito obrigado.




Jonatas Costa 09/07/2020

Yosef de Keltoi
Yosef, o líder de um vilarejo pertencente ao império de Numitor, é tão dedicado ao seu povo que chega a esquecer da sua família. O livro, escrito em primeira pessoa, conta a história de um povo, semelhantes aos nórdicos na crença politeísta, através da figura de seu líder. Pode-se perceber diversas alusões e referências históricas, o que deixou o livro ainda mais poético, dentre muitas dessas, é notório: O pagamento, em produção, de um tributo para a cede do império (próximo ao pagamento do “Quinto do Ouro” feito pelo Brasil para a coroa portuguesa no período colonial); o uso de chibatas como punição para marinheiros (no Brasil, isso resultou na “Revolta da Chibata”, ocorrida em 1910); e, a maior e melhor referência de todo o livro foi o “Mito de Rômulo e Remo” para explicar a origem do nome “Numitor” (Avô materno de Rômulo e Remo). Me desculpe se fui muito longe nas referências kkkk. Os cenários, acontecimentos e sonhos de Yosef são criados, no desenrolar da história, de forma muito objetiva, quero dar ênfase ao naufrágio do navio de Hodar e a fuga de Numitor, após brigar com um capitão no porto, foram momentos em que parecia que eu estava vivendo e participando das ações de Yosef. Quero destacar também, o grande número de personagens que, na minha opinião, deixaram a leitura mais fluida. Muitos assuntos das sociedades antigas e atuais foram tratados nesse livro, principalmente, a questão religiosa com tensões e intolerâncias: “Deuses não mais existirão. Somente um Deus restará” – Lucien. É importante ressaltar a linguagem fácil e rápida do autor (eu ficava 50/60 páginas lendo sem parar e sem ter dificuldades com as palavras). Sobre o final: eu realmente estou sem palavras para descrever o turbilhão de pensamentos ao ler a fala da velha Guilda e a descrição de como ficou Keltoi. Espero, ansiosamente, ler a continuação dessa maravilhosa obra.
Frase Marcante: “Às vezes, quando temos um conhecimento tão vasto, o simples se torna invisível.” (Foi bastante complicado escolher apenas uma frase diante de uma obra tão poética e marcante).
Apesar de ficar alguns dias impossibilitado de ler, terminei essa obra maravilhosa dentro de um prazo, razoavelmente, curto.
Jonatas Costa 09/07/2020minha estante
Obs.: Esse quadradinhos que apareceram alguns vezes são aspas


Nati Morgan 09/07/2020minha estante
Uauuu, que ótima resenha!


Elias Flamel 09/07/2020minha estante
Que resenha maravilhosa.

Senti que o meu trabalho foi um objeto de estudo e provocou inúmeras sensações. Tanta coisa elogiada, tantos pontos criados com carinhos sendo destacados e tanta satisfação para um único autor. Ler a sua resenha foi como ouvir aplausos depois de se apresentar em um palco.

Obrigado, Jonatas.


Jonatas Costa 09/07/2020minha estante
Eu que agradeço por ter a oportunidade de ler essa obra incrível... Parabéns


Elias Flamel 09/07/2020minha estante
É ótimo ter um leitor como você e é ainda mais maravilhoso ver alguém se divertir, refletir e se emocionar com o meu trabalho.

Espero que também goste da continuação.




Liny Arguilera 24/10/2021

Os Cinco do Ciclo
O livro é perfeito, foi um presente incrível que eu ganhei em agosto, e nem sei por onde começar, e poderia contar toda a história de Yosef e sua amada Keltoi, mas aqui não é o lugar propicio.
Eu refleti muito com livro, seja sobre a luta humana, a mente humana, sobre religiões, não devemos impor jamais nossas religiões, devemos respeitar a todas, e encontrar um meio para que todas possam conviver no mesmo lugar harmoniosamente, porquê é possível.
Todos os personagens são incríveis, mas alguns me chamaram mais atenção. Yosef tem uma esperança incrível, é forte, luta com bondade, e vê o melhor possível em cada ser humano, não vou dizer que ele é inocente, porquê nem mesmo eu sei qual é o limite da inocência, mas posso dizer que mesmo em meio a dor ele não desistiu de acreditar em sua cultura, e sendo um bom líder ele luta e guia seu povo, como um líder deve ser, sendo diferente de um chefe.
É lindo como ele ama sua família, a líder de Keltoi é como o próprio líder, porém um pouco mais séria, Yohan enxerga o melhor da vida assim como seu pai, e Julian com, Liane não tenho nem palavras.
O livro conta de algo que seria antigo, mas é atual, atualmente somos números algoritmos para o governo, e os que deveriam nos guiar não olham para a dor de seu povo. Ainda há brigas de fanáticos por impor suas religiões, mas ainda assim devemos lutar com sabedoria por nossas culturas, e aprender com outras culturas também, devemos contemplar a vida e a beleza que existe em cada pessoa, devemos ser amigos leais como Hodar, e não deixar a esperança ir embora mesmo nos piores momentos.
É um livro para ler, contemplar e examinar.
Elias Flamel 24/10/2021minha estante
Você viveu cada página do meu livro.

Ao ler a sua resenha sinto o reconhecimento pelo meu trabalho. Dá uma satisfação ver que o meu livro gerou reflexões, fez você pensar sobre a nossa realidade e está repleto de personagens que marcaram. É maravilhoso terminar um livro e dizer com toda certeza do mundo:

"Nunca vou esquecer esta história e os personagens que conheci"

Essa sensação me guia enquanto leitor, foi o que me motivou a escrever e hoje vejo ela em um leitor da minha obra. Isso me deixa muito feliz, é como se eu tivesse escutando aplausos e só tenho que agradecer.


Liny Arguilera 25/10/2021minha estante
Eu é quem agradeço por escrever essa obra incrível, e sim, eu nunca mais vou esquecer essa história.


Elias Flamel 26/10/2021minha estante
Escrevi e ver a sua reação valeu cada dia de trabalho.
Que as lembranças te façam bem e que o próximo livro seja também marcante, mas um marcante diferente.




Marcos de Mello 13/11/2021

Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa de um líder de um vilarejo. Onde, suas crenças nos deuses estão ameaçadas pelos fanáticos do Deus único.
Está história traz uma mescla de religiosidade e política.
A narrativa é um pouco enrolada e alguns pontos são muito detalhados, o que me fez demorar 3 meses para terminar o livro.
Elias Flamel 15/11/2021minha estante
A questão do ritmo está muito relacionada a estrutura narrativa. Pequei neste ponto, agradeço por sua pontuação sincera e quero evoluir. Graças a sinceridade sei onde devo dar mais atenção e já estudei bastante a parte de estruturar uma história e o ritmo na narrativa.

Sou grato pela leitura, pelo feedback e por ter insistido por três meses. Isto mostra consideração pelo meu trabalho.




Jeniffer 13/09/2021

Necessário
Um tema bem diferente de todos que eu já havia lido ! Um livro bem construído,personagens bem desenvolvidos e uma temática religiosa que é bem legal!
Foi um livro que agregou muito para mim, me fez refletir a cerca de várias coisas que eu antes não dava valor!
Tudo começa quando o império resolve colocar a religião do Deus único, como a religião oficial . Yosef é o líder de Keltoi uma cidade onde todos tinham fé em vários Deuses, ele tem a missão de salvar sua cidade daqueles fanáticos que destroem cidades em nome do Deus único.
O livro se desenvolve em torno disso , e o final foi bem chocante (embora eu já desconfiava kkkk ).
O livro é legal, vale muito a pena e agrega muito conhecimento!
Elias Flamel 14/09/2021minha estante
Saber que você refletiu faz eu me sentir um artista completo.
Que essa tema da religião e a intolerância possa frequentar os seus pensamentos.

Que leitora atenta. Os percursos da obra levam para aquele final.
Obrigado por ler e estou muito feliz porque sinto você animada depois de ler Os Cinco do Ciclo.


Jeniffer 14/09/2021minha estante
Estou muito ansiosa para o próximo livro!




vera. 23/07/2021

O livro tem uma escrita impecável e que mesmo sendo bem detalhado e com alguns toques antigos, ainda conseguir ser agradável. O desenvolvimento é extremamente bom e bem detalhado, te fazendo entender muito bem do que se trata.

Aborda bastante temas como religião e fanatismo, acho bem interessante esse tema e o livro me prendeu bastante ainda mais por ser bem do ponto de vista de Yosef.
Elias Flamel 23/07/2021minha estante
Impecável e toques antigos na mesma sentença faz eu me sentir único. Vejo muito autores moderno querendo se aproximar do roteiro e eu gosto desse toque antigo mais elaborado. Até mesmo na fala dos personagens tento transmitir esse toque.

Que bom que você entendeu. O meu mundo é fantasioso e cheio de ideias e bate uma insegurança a respeito do leitor compreendê-lo.

Os temas gerarão conexão e você gostou do olhar do Yosef. Que perfeito, eu não podia ficar mais feliz.




Renan 25/09/2021

Cinco do Ciclo
A narrativa um tanto arrastada e em primeira pessoa não me agradaram, mas gostei dos temas políticos e religiosos abordados neste livro. Acredito que a ação ficou mais para os próximos volumes, sendo que nesse a narrativa é muito voltada a apresentação de uma pequena comunidade, seus costumes e crenças.
Elias Flamel 26/09/2021minha estante
Você enxergou a essência do livro e fico feliz por ter escolhido temas que te agradaram. Tenho que melhorar o ritmo e já fiz isso na continuação e todo o palco está montada para ação e muito movimento dos personagens no Herdeiro do Ciclo.

Agradeço pela leitura.




Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 14/06/2020

Reflexivo, introspectivo, contemplativo.
Por Eric Silva para a Tag Novos Escritores do Blog Conhecer Tudo

Reflexivo, introspectivo, contemplativo, este é o livro do brasileiro Elias Flamel, um romance extremamente difícil de classificar, porque se equilibra entre dois mundos, o da literatura como entretenimento e o da literatura como expressão da natureza humana.
Sinopse
Keltoi é um pequeno e pacífico vilarejo agrícola nos confins do império Numitor, “que cresce pouco e é alimentado pela rotina”, mas que vive seus dias tranquilos sob a proteção dos cinco deuses do Ciclo e sob a gerência benevolente de seu líder, Yosef, um homem tão devotado a felicidade de sua vila quanto ao amor que possui por sua família ou à devoção que tem pelos deuses.

Todos os anos é ele o responsável por entregar, na capital do império, o pesado imposto, pago em centeio, que Numitor lhe exige, mas nada o faz se acostumar com a capital e suas contradições, com a arrogância do império ou com o fato de que grande parte do esforço de sua vila alimenta a enormidade de uma nação de corruptos, assassinos e preguiçosos. Mas diante da força do maior império do mundo, Yosef prefere submeter-se a pôr em risco sua família e seu povo.

Fora seus deveres como líder de Keltoi, a vida de Yosef é pacata enquanto envelhece ao lado da mulher, Morgiana, de seu caçula, Julian, do sério Hitalo, o primogênito, do despreocupado Yohan, o filho que mais lhe causa preocupação, e da velha Guilda, que com tanto amor cuidou dele e agora cuida também de sua família. Mas há algo que o preocupa, que o inquieta e não o abandona, porque se prenuncia em todos os lugares e em todas as bocas: os ventos da mudança.

É com essa inquietação que Yosef chega a capital do império para entregar mais um carregamento de seu precioso centeio e é também lá que ele ouve boatos sobre uma nova ameaça que não só colocaria em risco o seu povo, mas a sua cultura e crenças: uma nova religião, monoteísta e conduzida por fanáticos que ameaçam a vida daqueles que consideram pagãos. E com a urgência de manter protegido tudo que ama, ele se vê no difícil desafio de buscar ajuda no seio daquele que mais o enoja: o poderoso Império de Numitor.

Resenha

Quando Flamel me convidou para ler seu livro e opinar sobre esta longa narrativa, imaginei que encontraria ali uma saga ao estilo fantasy, cheio de cenas dantescas, batalhas épicas, criaturas improváveis e muitos desafios no caminho de um protagonista que tem uma missão preciosa e perigosa a cumprir. Mas me enganei completamente.

O que eu tinha na tela do meu tablet não era o livro que imaginei, mas outro, um romance extremamente difícil de classificar, porque se equilibra entre dois mundos, o da literatura como entretenimento e o da literatura como arte que versa sobre a vida e a natureza humana.

Reflexivo, introspectivo, contemplativo, escrito com uma qualidade narrativa acima da média, num estilo de escrita que parece morrer frente ao imediatismo e superficialismo de nossos tempos, que atinge as novas gerações de leitores, me atinge (não me excluirei), e a tantos outros. Uma forma de contar histórias que parece flertar com alguns estilos comuns à literatura mais clássica e menos comercial.

Mas vamos ao livro.

O medo da mudança e liberdade religiosa

Os Cinco do Ciclo é daquelas obras que o livro e o personagem principal são uma coisa só. Ele é a própria narrativa, porque não nos deixa espaço para contemplar o mundo por outra janela que não seja a do seu próprio olhar. Isso, obviamente, é característica fundante dos romances escritos em primeira pessoa, mas nem sempre um livro escrito neste foco narrativo tem um narrador que se preocupe tanto em expressar, nos mínimos detalhes, suas próprias emoções e opiniões sobre o que vê, e que acabe por dominar completamente o ritmo em que a narrativa vai seguir como é o caso de Yosef, líder de Keltoi. Sua alma envelhecida e cansada, o seu olhar sempre tão alongado, contemplativo e introspectivo, domina toda a peça e dita o ritmo.

O líder de Keltoi é um homem digno e respeitável, fascinado pelos livros e que ama com intensidade seu povo e se dedica para garantir o bem-estar dos mesmos, ainda que para isso faça enormes sacrifícios pessoais e carregue sozinho o peso de um passado do qual não se orgulha.

Yosef é também um homem muito observador e reflexivo. Influenciado pela sua fé e pelos livros que lê e valoriza enormemente, o velho líder tem um olhar afiado que observa o mundo com curiosidade e sobre o qual tece reflexões longas e desapressadas. Pouca coisa escapa desse olhar afiado que a tudo observa e processa compondo o mosaico do mundo e das muitas pessoas e realidades que surgem em seu caminho. O mundo parece caminhar devagar enquanto Yosef o observa e descreve e essa natureza observadora, que dita o ritmo lento da narrativa, lhe dá um certo caráter de romance filosófico.

Por ser uma pessoa íntegra e dedicada, Yosef exige de sua família os mesmos valores, por isso sua convivência com o filho mais extrovertido e relaxado, Yohan, quase nunca é fácil e as comparações com o primogênito extremamente responsável são invitáveis. Ainda assim, ambos os filhos desejam, cada um ao seu modo, honrar e conquistar o respeito e aprovação do pai.

Por sua vez, a seriedade que o líder de Keltoi demonstra é a daqueles que tem uma grande responsabilidade, mas que confia que há forças superiores que o guiam, e que sempre o permitiram prosseguir com sua missão, por isso, a fé que Yosef deposita em seus deuses é imensa e sólida. Pelo mesmo motivo, ainda que admire a seriedade solene e grave de seu filho mais velho, Hitalo, Yosef não a toma para si em mesma medida e se permite seus momentos de tranquilidade, bom humor e relaxamento, ainda que nunca se esqueça por completo de seus problemas e preocupações.

Sobre a gerência desse homem amigo de todos, honesto, generoso e compassivo, Keltoi não é a vila mais rica, mas segue prosperando e feliz. E a história do livro de fato começa quando este homem tão arraigado às tradições, a sua terra, seu povo e suas crenças, se dá conta de que o mundo para além do que ele conhece, sempre fechado em sua bolha, está em uma rápida e violenta mudança e que essa mudança ameaça transformar e destruir tudo o que ele conhece. Por isso, digo que Os Cinco do Ciclo é também um livro sobre o medo da mudança.

[Citação]

“[...]. Mudança, meu amigo. Essa palavra está na boca daqueles que amo. Querem que eu a veja, dizem até que ela me cerca e isto me preocupa.”

Falando de minha própria crença religiosa, nós budistas acreditamos que nada é eterno ou premente, mas que tudo nesse universo é feito de impermanência, nós e tudo ao nosso redor estamos sempre em ininterrupta mudança. Desse modo, um estado de vida que hoje existe nunca será permanente e dará lugar a outro, e devemos aceitar essa mudança. O mesmo não se dá com Yosef, que meio cego – apesar de tão lúcido (eis aí uma contradição) – parece alheio as mudanças, ou tem, no início, uma posição “negacionista”. Acho que de tão fechado em seu mundo – que quase se resume a Keltoi – ele não pode notar o começo de um novo ciclo, e acabou não tendo o alcance de visão que outros demonstravam. Por isso, a mudança se impõe violentamente e sua ameaça obriga-o a mover-se na esperança de conservar o que ele conhece.

O livro de Flamel, por sua vez, parece querer nos ensinar que a mudança é algo que sempre vem, que se move independente da vontade contrária dos homens, mas que, contraditoriamente, também pode ser acelerada pelas ações humanas. Mesmo os impérios mais poderosos estão sujeitos aos caprichos da mudança e devem se adaptar ou sucumbir aos seus efeitos.

Vivemos hoje um momento assim, no qual um surto viral tomou proporções tais que força governos, o mercado e a sociedade civil a repensarem o mundo e como as pessoas vivem suas vidas. A mudança chegou a galope e pegou a todos desprevenidos. O mundo voltara a ser o mesmo? Provavelmente não.

Mas para qualquer mudança que se abate sobre o mundo, os impactos não excluem o campo da cultura, sobretudo quando se vive em um mundo violento como o de Yosef, no qual os mais poderosos impõem os seus desejos pela força e pela manipulação política. Tomando isso por base, Os Cinco do Ciclo aborda uma realidade muito comum no passado humano: se uma nova religião estende sua influência até aqueles que governam com tirania, as consequências sobre os que não compartilham da mesma fé costumam ser desastrosos (imposições e perseguições, ou seja, violência física e simbólica). É o que o líder de Keltoi teme quando finalmente a mudança fica evidente aos seus olhos.

Todavia o tema de Os Cinco do Ciclo está longe de ser desatualizado, pelo contrário, nos tempos atuais a falta de liberdade religiosa e conflitos de cunho religioso são realidades comuns para dezenas de povos, atingindo, sobretudo, grupos minoritários como o povo de Keltoi. A imposição brutal pelo grupo Estado Islâmico da Sharia, código religioso que regula a vida privada e civil , o conflito entre budistas e muçulmanos na Tailândia, entre muçulmanos e não-muçulmanos no Sudão, de xiitas e sunitas no Iraque, e tantos outros de grande ou pequena projeção internacional evidenciam a atualidade do livro de Flamel, que, através de um narrador-personagem politeísta, tenta exprimir o medo ao qual as minorias são impostas quando suas tradições são ameaçadas pelas diferenças religiosas com outros povos.

Diante da iminência de que uma profunda mudança religiosa no império ameace a sobrevivência de seu povo, o líder de Keltoi resolve lutar com as ferramentas que possui, mas toma para si uma tarefa tal qual a de Sísifo, personagens da mitologia grega citada pelo próprio Yosef.

Sísifo era um mortal, filho do rei Éolo, da Tessália, que foi condenado no Reino de Hades a empurrar para o alto de uma montanha uma pedra imensa, mas que logo depois de todo o esforço do rapaz, sempre rolava montanha baixo, forçando Sísifo a repetir seu esforço inútil. Essa é a melhor analogia que se pode fazer em relação a tarefa a que Yosef se propõe com determinação: rolar uma pedra montanha acima, uma vez que ele tentará lutar contra algo contra o qual aparentemente não tem poder para mudar.

Numitor: uma releitura do Império Romano

Se por um lado, a questão religiosa é o tema que mobiliza o velho Yosef, outro tema é bastante destacado pelo narrador: a subjugação de um povo por outro, com a subsequente tirania e exploração aos quais os povos são submetidos para sustentar a elite da nação dominante. O povo de Keltoi é um desses povos subjugados e obrigados a sustentar com o seu suor uma nação estrangeira, distante, mas poderosa o bastante para fazer valer a sua vontade pela força e pela coerção.

Para ambientar Os Cinco do Ciclo Flamel não cria exatamente um mundo alternativo e fictício, mas adapta uma época da história humana no qual um povo guerreiro e de exércitos poderosos construiu pela guerra um dos maiores impérios da Terra: o Império Romano.

Na história da Idade Antiga, Roma é particularmente conhecida por ter deixado de ser uma vila empobrecida da península itálica e ter estendido seu domínio por uma vasta extensão de terra, colocando sob seu julgo centenas de povos, até o ponto de ser conhecido como um dos maiores e mais duradores impérios da História. Entretanto, Roma é igualmente lembrada por sua política corrupta, cheia de traições, golpes, e pelos muitos regentes vaidosos, inescrupulosos e genocidas que a governaram ao lado ou contra o Senado. Contudo, em Os Cinco do Ciclo Roma não é Roma, é Romula, e o Império Romano tem outro nome, Numitor, que na mitologia romana, foi rei destituído do trono de Alba Longa e avô dos gêmeos que fundaram a Roma real.

Flamel faz uma releitura do poder, política e cultura romana, recontando, inclusive, uma das versões do mito de Rômulo e Remo, e desse modo cria seu próprio império dominador dos quatro cantos do mundo sem obrigatoriamente se atrelar a nomes reais e fatos históricos datados. Uma saída inteligente, porque o desobrigou de ter que envolver na sua narrativa a complicada tessitura histórica, repleta de personagens e de ações muito bem datadas do Império Romano, o que só tornariam mais complicada a narrativa e engessaria o seu desenvolvimento. Mas é fato que a política e o poder do exército e do senado romano está ali retratado sob o nome de Numitor. Egípcios, gregos e nórdicos também são citados como povos que foram subjugados pelo poder do império, e a incorporação do cristianismo ao império (que obviamente não recebe esse nome na narrativa) é também retratada.

Mas um fato que, particularmente, me chamou a atenção foi a opção do autor de não retratar a capital do império como um lugar suntuoso como nunca visto em outro ponto do mundo antigo, mas como era de fato a Roma real: uma grande cidade, cheia de riquezas e de vida comercial, mas também de pobreza, e assaltantes. Um lugar onde a riqueza proeminente contrasta com a horda de mendicantes morrendo de fome, mas cuja miséria é ignorada pela multidão. Senti falta apenas do pão e circo .

Tomando essa releitura como cenário, o autor se dedica a demonstrar a opressão e descaso do império em relação aos seus súditos e dominados através do olhar de Yosef. O líder de Keltoi, com sua mente lúcida e observadora vai pouco a pouco nos mostrando a injustiça de um império que não deseja mais nada do que expandir o seu poder e explorar ao máximo os povos que vivem dentro dos seus domínios, sendo indiferente as necessidades e dificuldades dos mesmos.

Aponta também como cada povo tem que entregar uma grande parcela dos frutos da terra que produz, como os impostos aumentam a cada ano, e como são tratados com indiferença e até desprezo pelos representantes do Estado. E vai além quando desnuda a corrupção, os jogos políticos e de aparência e a boçalidade e pompa dos dirigentes de Numitor, tecendo uma crítica a como determinadas classes sociais dirigentes vivem e legislam na opulência e cercados de ritos sem sentidos às custas do suor da população empobrecida, que por meio da opressão e coerção se vêm obrigados a contribuir com impostos pesados, sem, no entanto, receber em retorno o que lhe é legítimo por parte daqueles que governam. Como eu disse, um livro atual.

Em lento e contemplativo compasso: sobre o ritmo e o estilo

Contudo, se Os Cinco do Ciclo trata de um tema atual e se inspira na empolgante história de um dos mais famosos impérios da antiguidade. Por outro lado, o seu lento desenvolvimento foi algo que me aborreceu bastante durante a leitura que intercalei com outros quatro livros, todos concluídos antes de terminar Os Cinco do Ciclo.

Por ser muito detalhista e contemplativo, Yosef analisa o mundo num ritmo que é só dele e acaba por ditar o ritmo do próprio livro que conta com 556 páginas, sem que haja grande dinamismo em sua maior parte. Mas a verdade é que para entender porque Os Cinco do Ciclo é um livro de extensão tão grande, mas com desenvolvimento tão lento, é preciso entender o próprio estilo do autor.

Flamel é um autor que escreve bem e com uma fluidez que, normalmente, só é encontrada nos escritores mais experimentados. Não há nele uma preocupação com o imediatismo, com que as coisas fluam rapidamente para um clímax, porque prefere trabalhar profundamente a complexidade da personalidade de seu narrador.

Neste livro ele opta por desenvolver uma obra que se inclina para o filosófico, para a reflexão do personagem-narrador acerca de seu mundo, sobre como nele funciona a vida, sobretudo a vida cotidiana. Para tanto ele desenvolve um personagem nostálgico e que beira ao poético, extremamente descritivo, atento aos detalhes e compassos, intuitivo até, e que apesar de parecer absorto em seus pensamentos, na verdade está atento aos movimentos da vida, às expressões, aos sons, aos ritmos.

O autor também gosta de sobrepor na linha de desenvolvimento da história o presente e o passado e por diversas vezes faz com que seus personagens contem suas histórias para o protagonista escutá-las com atenção, ou dá espaço as memórias do passado do próprio Yosef. Por conta disso, alguns diálogos são arrastados e algumas histórias simples chegam a ser contadas sem objetividade. Mas também não se pode deixar de mencionar que o livro é povoado por muitos monólogos interiores do narrador. E é nesses aspectos que Os Cinco do Ciclo testou minha paciência.

Em minha visão de mundo, considero que ler é algo que exige esforço, é diferente de assistir a um filme, no qual as cenas já prontas passam em seu próprio ritmo indiferente se nossa compreensão segue com o mesmo compasso.

Ler exige esforço do leitor que precisa se acomodar, experimentar uma boa luz em uma posição confortável e exigir de seus olhos que leia e da sua mente que imagine, até que texto e imaginação fundam-se numa coisa só. Por conta disso, leitura e mente devem estar em perfeito compasso. No entanto, se o desenvolvimento da narrativa se arrasta, junto com diálogos igualmente arrastados, o resultado é desastroso, porque a mente não espera e passa a vaguear indo para direções opostas a leitura. Foi assim que me senti lendo Os Cinco do Ciclo e acabei lançando mão de um recurso que não gosto de utilizar: o autoestímulo.

As vezes quando uma leitura não está dando certo ou eu estou me amarrando para prosseguir com ela, leio o epílogo ou as últimas páginas do capítulo final, para ter um lapso fragmentado do desfecho, mas somente até um ponto em que continue impossível a compreensão de como a história chegou aquele ponto. As vezes leio as páginas de trás para frente, e quando vejo que é informação demais, paro. Isso cria artificialmente um interesse em mim de entender aquelas páginas dispersas e retomar a leitura se torna mais fácil.

Isso significaria que Os Cinco do Ciclo é um livro ruim e sem qualidade? De forma alguma.

Flamel tem muito talento para a narração, é detalhista sobretudo na construção de seus personagens e sua escrita é fluida e muito bem estruturada. Se eu fosse comparar Os Cinco do Ciclo a algum livro que já tenha lido, o compararia, talvez com um livro intimista de um grande escritor, a exemplo de Histórias da outra margem clássico da literatura japonesa escrito por Nagai Kafu, mas principalmente ao livro O tigre na sombra, de Lya Luft, ambos com coincidentes 128 páginas.

Esses são os estilos mais aproximados ao de Flamel, levando em consideração apenas livros que já li. Ambos são livros cheios de monólogos interiores, extremamente voltados para seus narradores, para as percepções que os mesmos têm do momento, da vida, dos lugares e do passado. Mas com algumas diferenças cruciais em relação a obra de Flamel: são narrativas baseadas na vida cotidiana simples e puramente, sem criar um mundo para ambientá-las e que precise ser descrito para fazer sentido, e, principalmente, são livros desenvolvidos em narrativas rápidas, a fim de que não se perca o frescor do personagem-narrador que por si só é a principal razão do leitor ler a obra. Digo isso, porque do meu ponto de vista, Dôda, de Lya Luft, e Tadasu Oe, de Nagai Kafu, são as razões desses dois livros existirem, porque os mesmos são lidos não pela narrativa, mas pelo personagem que é foco, centro e praticamente único tema da história. São obras intimistas com personagens voltados para si, vendo o mundo sob sua ótica, contando fragmentos de seu cotidiano, obras que se fossem maiores do que são, seriam extremamente enfadonhas para o leitor médio de nosso tempo.

Outro livro a que Os Cinco do Ciclo me remete é Naufrágios, obra de outro japonês, Akira Yoshimura. Esse é também um livro que tem ritmo muito próprio, que não tenciona acelerar a narrativa porque o tempo não é acelerado na realidade; segue o compasso e o ritmo da natureza. Fala também da sobrevivência de uma pequena comunidade, mas no caso, trata-se de aspectos de subsistência puramente. Todavia, mais que isso, é um livro bastante descritivo como o de Flamel. Há nele a preocupação quase obsessiva de descrever a vida cotidiana, a cultura e as dificuldades da pequena sociedade, fazendo com que a história em si se preocupe mais com descrever o movimento da vida (e no caso do japonês também da morte) do que contar uma história que prenda seu leitor seja pela força da curiosidade ou pela adrenalina da ação.

O que quero dizer com essas comparações é que Flamel não escreve um livro comercial, cinematográfico, repleto de clichês e fórmulas manjadas, mas que conquistaria facilmente o leitor médio, aquele que está mais interessado no entretenimento do que no lado humanista da literatura. Não que o cinematográfico falte ao livro. Ele está lá, em muitas cenas, no naufrágio do navio, nos sonhos com os deuses do ciclo, no desfecho da narrativa. Mas o principal do livro flerta com outro tipo de literatura, mais clássica, mais preocupada em desnudar questões existenciais, humanas, e encarem isso como um elogio, porque o é.

Tamanha é essa suposta despreocupação de escrever um livro comercial que não sei em que gênero enquadro o livro de Flamel, porque ele pode até parecer pela sinopse como uma espécie de fantasy, mas sua narrativa não tem elementos mágicos ou sobrenaturais que justifique essa classificação, além disso, o enredo poderia facilmente se passar pelo relato de fatos reais acontecidos em qualquer lugar da Europa entre o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média.

Seria este um livro existencialista? Não sei dizer. Um personagem obrigado a sair de sua zona de conforto e do mundo por ele conhecido que precisa encarar a mudança me faz lembrar vagamente o estilo. Mas a despeito disso, é um livro que beira muito o realista, não em relação a harmonia um tanto idealizada da aldeia, mas com relação a todo o resto, da descrição daquele mundo imperialista ao desfecho da narrativa. Além disso, é intimista, muito ligado a memória e profundamente imerso nos pensamentos, sensações, observações de seu personagem narrador. Um livro assim é difícil de colocar em uma caixinha, o que é estupendo, mas o desenvolvimento arrastado quebra parte do potencial da obra.

No passado, obras com a pegada de desenvolvimento lento e compassado costumavam ser longos e ainda assim fazerem muito sucesso, porque eram obras escritas para um público que vivia em um ritmo diferente do público atual. No passado, seguia-se uma cadência muito mais paciente, muito menos imediatista, um ritmo muito mais próximo do tempo da natureza, de seus CICLOS.

No entanto, nesse admirável mundo novo em que vivemos, um mundo globalizado ditado pela velocidade de trilhões de gigabytes correndo por fibra óptica superavançada, é muito difícil que um livro com o estilo de Flamel e com seu volume que passa das 500 páginas, consiga conquistar o seu público-alvo em geral impaciente e desejoso de emoções rasas, fáceis, ou de simplesmente viver momentos febris de emoções arrebatadoras, além de ansioso para ver um pouco de si no personagem que lê. Ainda assim, Flamel conseguiu uma nota bastante elevada no Skoob por Os Cinco do Ciclo, porque o livro evidencia seu talento indiscutível para a escrita e para a narração.

O autor brasileiro escreve bem e com esmero, mas, na minha opinião, peca por escrever um livro tão grande em um ritmo de desenvolvimento tão lento e com pouquíssimo dinamismo. Por isso, sigo com a opinião que, nos nossos tempos, onde há muita oferta de leitura e pouca paciência por parte de um grupo expressivo de leitores, o leitor espera de um livro extenso que a narrativa seja instigante e dinâmica o máximo de tempo possível, para que ele possa correr as páginas sem sentir, nem que já leu muito além do que pretendia, nem sentir o tempo que passou veloz como um corcel adentrando a madrugada fria.

Para finalizar, um ponto que não compreendi perfeitamente

Uma coisa que me intrigou bastante no livro de Flamel é o universo mitológico-religioso da crença seguida pelos habitantes de Keltoi. Vejo agora que talvez alguma coisa me escapou e não pude compreender por completo a crença defendida por Yosef e que baseia em uma certa “ciclicidade”.

Segundo o que entendi, o mundo seria governado por Destino (uma referência a inevitabilidade da repetição de um ciclo?), e por um conjunto de cinco deuses que compõem uma espécie de ciclo que dita a própria vida na Terra e que dão nome ao livro. Ao mesmo tempo, ao que me parece, para o povo de Keltoi ciclos são iniciados e interrompidos, são períodos de tempo, sinônimos para estações, o tempo de vida e também trajetórias seguidas por cada vida e pela própria natureza. Mas um trecho em especial me deixou confuso:

[Citação]
“Cada escolha é um novo ciclo, cada ciclo é um novo mundo. Assim os Cinco do Ciclo aprenderam com Destino e nos ensinaram. Minha escolha já foi feita e um mundo se abre diante de mim."

No meu entendimento, uma filosofia que acredita em circularidade, acredita que tudo volta a um estágio inicial e novamente caminha por estágios anteriormente superados, porque círculos não bifurcam, se repetem.

Ciclos são repetições, como os ciclos na natureza, das estações e a da alternância entre vida e morte. É como acreditar em ouroboros, a serpente que morde a própria calda, e que representa movimento, continuidade, autofecundação e eterno retorno . Essa ideia simples parece dominante na narrativa, mas esse trecho quebra a lógica, porque um novo ciclo não se abre para outro, é apenas repetição do mesmo ciclo, porém em uma outra época, com outras pessoas, mas é sempre repetição de situações similares. Uma ideia que vi ser construída com bastante lucidez em Naufrágios, o livro de Akira Yoshimura, que enfatiza o ciclo das estações e a constante repetição das atividades sazonais que garantia a sobrevivência dos personagens.

Por isso, esse ponto sobre a cresça de Keltoi me deixou um tanto confuso, porque, se escolher significa ter dois caminhos e abandonar um em favor de outro, como isso pode ser um ciclo? Já que repetição não significa ruptura, e ruptura significa abandonar, romper o ciclo. Em vários momentos a ideia de Flamel concorda com essa repetição, mas nessa passagem, a contradiz, por isso não ficou claro para mim. Então, como um bom resenhista perguntei diretamente a fonte e recebi uma explicação com a cara das reflexões de Yosef:

“Sobre o ponto que te causou confusão. Os Cinco do Ciclo servem a Destino que controla todos os Ciclos. O que pensei com esses Ciclos? Vejo que muitas coisas se repetem no mundo: guerra, fome, revoluções, esperanças, catástrofes e etc. Apesar desses Ciclos se repetirem, eles nunca são os mesmos. As guerras do passado e do presente podem aparentar semelhanças, mas tem as suas diferenças e são travadas em mundos diferentes. A idade de bronze, a idade medieval e o mundo moderno repetem ciclos, mas são mundos diferentes. Para mim, um ciclo só se fecha quando há a completa destruição. Caso ela não ocorra, o ciclo vira aprendizado.
"Cada escolha é um novo ciclo, cada ciclo é um novo mundo".
Cada nova escolha pode gerar uma mudança, sendo assim, cada escolha pode influenciar em um novo ciclo. E, se influencia em novo ciclo, então influencia no mundo.
O fechar de um ciclo já marca o início do outro. E, esse outro ciclo, é influenciado pelo anterior. Não há repetição, há evolução. Assim Os Cinco do Ciclo aprenderam com Destino e ensinaram para o povo de Keltoi. Uma flor sempre vai crescer na terra, isso é um Ciclo. Porém, nunca vai crescer da mesma forma.”

Poético.

Mas, deixando os pormenores de lado, Os Cinco do Ciclo é um livro que nos apresenta um autor de qualidade que tem a sua frente o desafio de continuar refinando sua arte, definir por completo o seu estilo e conceber muitas obras de boa qualidade como esta. Digo que Os Cinco do Ciclo me causou impaciência pela sua extensão combinada ao ritmo lento e à narração detalhista, porque sou imediatista, ansioso e perco facilmente o interesse, infelizmente, mas isso faz parte da minha contradição como ser humano que ama filosofar, especular e se alongar em resenhas intermináveis, mas que não tem igual paciência para o alongar alheio.

A edição lida é uma produção independente, do ano de 2017 e possui 556 páginas. A continuação da obra se dá com o livro Herdeiro do Ciclo, outra produção independente, do ano de 2020 e que possui 708 páginas.

Sobre o autor

Sou Elias Flamel, tenho dois volumes publicados da saga do Ciclo na Amazon, sou pós-graduado em escrita criativa e análise literária pelo Instituto Vera Cruz e resenhista do site Leitor Cabuloso. Aficionado por mitologia, desde a grega até a africana, vejo genialidade em Hamlet e no Batman e confesso somente para os íntimos que ainda espero a carta de Hogwarts (no mundo bruxo existe tanta coruja destrambelhada).


site: https://conhecertudoemais.blogspot.com/2020/06/novos-escritores-os-cinco-do-ciclo.html
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Kaguya22 18/01/2021

Resenha de "Os Cinco do Ciclo"
Acabei lendo esse livro a convite do próprio Elias Flamel, eu já conhecia o livro e pensava em ler em algum momento dai chegou o convite e resolvi ler logo, demorou um tempo pra ler poq tava travado com outro livro mas li e vamo falar sobre oq achei desse livro

O começo do livro já conseguiu me pender nos primeiros capítulos a leitura tava bem fluida mas tive a sensação que o começo foi um pouco parado, mas depois de alguns capítulos parece que a coisa começou a avançar mais rápido

A historia como um todo foi praticamente perfeita, tirando uma ou duas partes que fiquei um pouco confuso e tive que reler para entender, gostei muito dos personagens apresentados, menos o Alain que achei um grande de um fdp, e também gostei muito da parte mitológica do livro e do desenrolar do conflito principal e como o Yosef tentou buscar a resolução desse conflito

SPOILER ALERT
E não é possível falar do final sem spoilers então esteja avisado que agora ira conter muitos spoilers do final, se não queres tomar spoiler pule para o ultimo paragrafo

E que final foi aquele, eu não achava que o livro terminaria com tragedia mas começou a acabar as paginas e nada do Yosef chegar em casa, o Yosef sonhando com os deuses esquecidos e no meio tava os cinco do ciclo, dai chega perto de Keltoi começa a chover cinzas ai eu comecei a pensar "não é possível que vai dar merda" e deu né

Eu achei um final amargo, triste e incrível, por alguma razão achei incrível, deu pra sentir a dor do Yosef ao ver a vila destruída e sua familia morta e sua raiva pelo império, que já tava crescendo a alguns capítulos e agora parece que vai crescer mais e mais, e seu desejo por vingança por todos seus amigos e pela sua familia

FIM DOS SPOILERS

Então foi isso amei o livro a escrita do Elias achei muito boa e agora to louco pra ver a continuação dessa historia em "Herdeiro do Ciclo" e espero que a vingança seja realizada
Elias Flamel 18/01/2021minha estante
SOILER ALERT

Sinto que você nunca mais esquecerá o final. Estou muito feliz por você ter gostado tanto.

O começo é um pouco mais lento porque há uma construção delicada e minuciosa de toda a vila de Keltoi e dos personagens. A construção do começo influencia no impacto gerado no final.

E eu gostei da sua raiva pelo Alain huahuahuahauhauh.
Espero que você gostei ainda mais da continuação.




Yuji 22/06/2020

Tudo o que queremos é nos aventurar entre mundos, isso é errado?
O livro é muito bom, gostei bastante da escrita do autor, agora estou loco para ler o segundo livro. O livro tem uma escrita que prende você.

site: https://codegeekunicorns.wordpress.com/
Leitura e . 22/06/2020minha estante
Oii... Boa noitee...Tudo bem?... Desculpa por interromper sua leitura, mas gostaria de te convidar a me seguir no Instagram para acompanhar minhas leituras... te espero lá...?
Obrigado.
@leituraeponto


Elias Flamel 23/06/2020minha estante
A continuação já saiu e está disponível na Amazon.
Vou mandar o link via direct para você




Tatiana 20/07/2020

Os cinco do ciclo
Bom, o que dizer deste livro... Vamos começar falando do quão surpresa eu fiquei ao realizar a leitura e ter apreciado a jornada do protagonista. Acompanhamos a história de Yosef, líder da Vila de Keltoi. Yosef se mostra um homem responsável e preocupado com sua vila, seus amigos e sua família, sempre cumprindo suas obrigações diante do poderoso Império de Numitor. A problemática que o leva a sua jornada se apresenta quando Yosef é confrontado com mudanças em seu mundo e em suas crenças, sendo que estas crenças fazem parte de quem ele é e do que acredita, então quando ele visualiza um mundo onde seus deuses não mais existem decide partir em busca de uma solução para essa questão.
Para mim, a narrativa em alguns momentos se mostrou lenta, mas apesar disso eu apreciei conhecer Yosef, seus sentimentos, pensamentos, reflexões e descobertas. Em vários momentos eu fiquei refletindo a respeito das questões trazidas por Yosef e relacionando com o que vivenciamos na realidade (ou que já sabemos que aconteceu em tempos passados no nosso mundo). Como mencionado anteriormente, os deuses estão muito presentes na vida de Yosef e assim em vários momentos é falado sobre os deuses de sua crença, como outros que são conhecido por nós, deuses que já foram cultuados em nosso mundo. Então, posso dizer que gostei das referências da nossa realidade.
Uma coisa que eu achei bacana foi a crítica social apresentada ao Império de Numitor, e como Yosef começa a enxergar em um Império tão poderoso e rico, um lado feio e pobre.
Outro ponto legal são os personagens que Yosef vai encontrando ao longo de sua jornada, sejam pessoas que ele já conhecia ou novos conhecidos.
E posso dizer que não esperava que o final fosse da forma que foi. Com certeza fica a vontade de saber quais serão os próximos passos de Yosef.
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Elton.Oliveira 18/10/2021

Uma história de deuses e uma dominação imperial
A leitura é leve, às vezes abstrata, o autor peca um pouco no exagero ao descrever sentimentos e situações. Gosto de ficções mas achei o protagonista tão bobo , tão inocente .... O enredo é interessante ! Misturando realidade( povos e histórias reais) com a trama de uma colonização brutal , comum ao qual vivenciaram os povos dominados de toda parte do mundo. Achei o fim pouco trabalhado , um desfecho rápido e muitas pontas soltas q deixa claro a intenção de uma continuação.
Elias Flamel 19/10/2021minha estante
Agradeço por toda sinceridade e pelos comentários que provam uma longa vivência cultural.

Faltou maturidade ou a mão pesada de um editor para encurtar e quem sabe podar algumas descrições. A escrita é um aprendizado constante e melhorei esse ponto na continuação e quero melhorá-lo mais ainda.

Bobo e inocente parece algo irreal na sociedade hoje em dia, ainda mais ao se referir a uma pessoa velha. A minha intenção foi trazer uma inocência da vida do campo e das fantasias mais antigas. Depois daquele final o Yosef continuará com a mesma postura? Acredito que não e é um desfecho pensado para provocar uma mudança drástica no protagonista da saga.

As pontas soltas serão tratadas nos próximos livros e está anotado as críticas sobre o final.

Obrigado pela leitura e pelo elogio feito ao enredo.
Parabéns por ter notado a questão da colonização.


Elton.Oliveira 19/10/2021minha estante
Ótimo Elias ! Seu livro tem uma pegada muito boa de conteúdo ! Creio q vc desenvolverá bastante nos seus próximos trabalhos ! Abraços e desejo à vc tudo de bom !




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