DRK 09/03/2022
A paixão é o melhor dos defeitos
?Irei contar a história de Artur, meu senhor, meu líder e meu maior e melhor amigo. Como sinto saudade de Artur!?
Essa trilogia foi algo bastante sui generis para mim, além de nunca ter lido um romance histórico, esse também foi meu primeiro contato com as lendas arturianas na literatura, e possivelmente o melhor contato possível que pude ter.
A história narrada por Derfel Cadarn é bastante linda, estamos vendo um senhor idoso, monge, que está escrevendo sobre a melhor época da sua vida, quando realizou seu sonho de ser um soldado, conheceu o amor de sua vida e mãe de seus filhos e também época que se uniu a Artur, o maior homem que já pisou na Britânia.
Já analisei separadamente aqui os dois livros anteriores, mas dentro de mim eu sinto que com esse terceiro eu devo analisar ele observando essa trilogia como um todo, como um grande livro de 1500 páginas, um épico de intrigas, traição, amor e esperança.
Acompanhamos a história de Derfel envelhecendo, desde o primeiro até o terceiro se passam 30 anos de sua juventude, ele cresce, se torna o Lord Derfel Cadarn e ao longo do tempo é testemunha das maiores batalhas que definiram a alta idade média britânica, época em que os Santos se criaram, os mitos se estabeleceram, as lutas contra os Saxãos apenas começaram e o cristianismo dominou o mundo.
A reinterpretação realista de Cornwell sobre o mito é bastante eficiente em nos colocar sobre a vida do século V, é absurdo o quanto esse autor entende sobre a cultura de diferentes épocas e de como as pessoas levam suas vidas, de detalhes desde como agiam com surpresas e como julgavam as ações dos deuses, que eram apenas ignorâncias racionalizadas; a densidade disso na trilogia é impressionante, é fácil imaginar aquele mundo pois dá pra sentir que o próprio autor ama o que está escrevendo, é isso só me conecta mais com os personagens dele.
Derfel é fiel e honrado, Merlin é obtuso e orgulhoso, Nimue é sonhadora e esforçada e Artur é? é o maior homem que possivelmente já pisou na Britânia.
Apesar de seu personagem honroso e sonhador, Cornwell não o romantiza como perfeito de retidão, Artur é bondoso sim mas é um idealista, ele prefere idealizar a humanidade e o amor do que os enxergar como de fato são: falhos.
A confiança por mais densa que se pode ter, é quebrável, o amor por mais puro que pode ser, é composto por pessoas falhas, e essa natureza tem seu valor.
Artur demorou pra aceitar a falta de virtude das pessoas, acreditava que poderia salvar a Britânia, criar um mundo gentil e pacífico, mas tudo o que conseguiu foi criar inimigos, Reis que invejavam seu carisma e poder, cristãos que odiavam sua bondade com os pagãos e visse versa; É interessante como esse livro tem correlações com o A Dança da Morte do King, onde mesmo após alguma situação terrível acontece, as pessoas continuam errando, elas querem ter algo a fazer, querem ter conflitos, querem ter intrigas, o tédio cria guerras e isso é inexorável.
O DESTINO É INEXORÁVEL!
Merlin sempre esteve certo deste o início, mesmo sendo um homem falho ele esteve sempre de acordo com suas falhas, pois como eu disse, essa é a natureza das pessoas e tem valor nisso.
Pra todo lado que olho essa história eu vejo um elemento: amor.
O amor pela perfeição foi a falha de Artur, o amor por seus filhos foi a falha de Merlin e o amor a situação confortável foi a falha de Derfel, o destino é inimigo do confortável, o destino é inimigo da idealização e todas as coisas precisam do caos pra prosseguir.
Os personagens dessa crônica me fascinam bastante, sempre que os imagino consigo ver com bastante clareza seus pensamentos, e todos esses pensamentos são repletos de idealizações, e ela também não é uma bela falha? Uma linda falha por sinal, idealizar é amar uma ideia, um pensamento, um objetivo traçado, os maiores heróis fazem isso, tanto da vida real como da ficção, e isso só torna eles mais reais, consigo ouvir Merlin gritando ?Absurdo, Derfel!?, consigo ver os olhares preocupados de Derfel e isso me encanta.
Nessas análises provavelmente eu venho sendo bastante obtuso em meus elogios, talvez não cite com frequência nenhuma os destinos injustos, os resultados vitoriosos frequentes e nem consigo enxergar os ritmos mais lentos tão relatados pelas pessoas, mas isso é apenas paixão; Apaixonado é como me sinto pelas Crônicas de Artur, reluto em observar seus poucos defeitos e vejo qualidade onde outros possam ver defeitos? e esse meu erro é bonito também, não?
Fico feliz de ter iniciado essa leitura, fico feliz de ter conhecido Cornwall e mais ainda, fico feliz em ter amado Derfel, meu guia, meu relento, meu querido amigo que nunca me conheceu mas vive idealizado em meus pensamentos.
Como sentirei saudades de Derfel!
10/10 para Excalibur.
11/10 para essa trilogia.