Livros da Julie 21/11/2021A saga continua: Uhtred e Alfredo lutam contra os dinamarqueses pela reconquista de Wessex-----
"Prata compra terra, compra a lealdade de guerreiros, é o poder de um senhor, e sem prata um homem deve dobrar o joelho ou virar escravo."
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"Os deuses não fazem o que queremos."
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"Há bons padres (...) mas (...) a maioria dos homens da Igreja prega os méritos da pobreza enquanto corre atrás da riqueza. Adoram dinheiro, e a Igreja atrai dinheiro como uma vela traz mariposas."
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"Quando você está enfiado até o c* em merda, só há uma coisa a fazer. Atacar"
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"Chega um momento na vida em que nós nos vemos como os outros nos veem (...) e nem sempre é confortável."
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"[a espada] mata (...) mas é a raiva e o ódio que lhe dão força para matar. Se formos para a batalha sem raiva e ódio, estaremos mortos."
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"Não há sentido em chutar uma colmeia de abelhas selvagens, a não ser que estejamos decididos a pegar o mel."
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"era um guerreiro, mas, como os melhores guerreiros, não era louco.
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"a fome pode derrotar um exército muito mais depressa do que as lanças."
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"Há um enorme júbilo no caos. Jogue todos os males do mundo atrás de uma porta e diga aos homens que eles nunca, nunca devem abrir aquela porta, e ela será aberta porque há puro júbilo na destruição."
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"as pessoas não podem viver sem lei, caso contrário uma vaga desgarrada levaria a derramamento de sangue"
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"A vida é simples. Cerveja, mulheres, espada e reputação. Nada mais importa."
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"os padres dizem que todos os poderes vêm de Deus, e se algo não vem de Deus deve ser maligno (...) Os padres não gostam quando não entendem as coisas"
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"Esse é o verdadeiro dom das mulheres, ser sábias, e não são muitos os homens que o têm."
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"não há nada como a cobiça, a vingança e o egoísmo para inspirar os mortais."
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"uma pessoa é santa se for boa, mas muito poucos nos tornamos santos. Todos somos maus! Alguns de nós simplesmente tentam ser bons."
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"a batalha não tem a ver simplesmente com números, não tem a ver com mover peças (...) e nem mesmo a ver com quem possui vantagem no terreno, e sim com paixão, loucura, gritos, fúria indomável."
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O cavaleiro da morte é o segundo livro da série Crônicas Saxônicas, lido junto com as @mafaguifinhos e @nleituras.
Após as temíveis batalhas contadas no livro anterior, os saxões se permitiram respirar aliviados e retomar a vida normal. Mas a calmaria não durou muito. Em pouco tempo as hordas de vikings que ainda se encontravam no território se organizaram para fazer um grande ataque, forçando o Rei Alfredo a buscar refúgio na região pantanosa que um dia tinha sido a lendária Avalon.
De lá, com a inestimável ajuda de Uhtred, que enfim resolve se aliar a Alfredo a despeito de suas diferenças religiosas e estratégicas, as forças do reino são reorganizadas e os últimos combatentes de Wessex dos condados remanescentes são convocados para lutar ou morrer pela sobrevivência da Inglaterra.
Ainda impregnados da empolgação com a leitura do primeiro livro, vemos que este segundo dá sequência direta à narrativa, mantendo o mesmo estilo fluido, mordaz e cativante. Por ter consciência de que a saga traz uma variedade de detalhes que podem ter sido esquecidos de um livro para outro, Cornwell ajuda a refrescar nossa memória desde o primeiro capítulo, à medida que as personagens são citadas ou entram em cena.
Mesmo sem criar expectativa de grandes mudanças de rumo no enredo, o autor consegue nos manter irremediavelmente presos à história, tão interessados como antes. Há uma tensão latente ao longo de todo o texto, um eterno suspense enquanto não descobrimos o que enfim acontecerá com Uhtred e Alfredo, enquanto ainda não sabemos como eles vão se virar para dar a volta por cima.
De fato, Cornwell é muito sagaz em sua escrita. Como já foi possível perceber em O Último Reino, ele nos oferece aqui e ali pílulas de informação que dão indicações sobre o que poderá acontecer com o protagonista mais adiante, já que estamos lendo suas memórias. Mas em vez de sentirmos que estamos recebendo spoilers, tais vislumbres do "futuro" só fazem aguçar ainda mais nossa imaginação e não conseguimos parar de ler enquanto não confirmamos se nossas conjecturas se tornaram verdade, o que só deve acontecer inteiramente nos próximos livros.
Em O Cavaleiro da Morte aprendemos ainda mais sobre o modo de vida dos antigos povos. O papel de cada um na formação da atual Grã-Bretanha vai sendo esclarecido e reforçado e vemos que, antes de terem que lidar com a invasão dinamarquesa, os saxões já tiveram suas próprias divergências internas com os britânicos, longe de estarem plenamente resolvidas.
A viabilidade de construção de uma Inglaterra continuava pairando na mente de Alfredo, ainda que ninguém mais sequer cogitasse isso. Ele sonhava e desejava unir os reinos com tal ânsia que parecia se tratar de uma premonição pagã.
A fé católica, aliás, segue sendo alvo de ironia e alfinetadas, contraposta aos antigos costumes e rituais, tanto dos vikings como dos habitantes das regiões mais ermas, onde a Igreja ainda não havia imposto sua marca. Contudo, sua disseminação total é questão de tempo, considerando sua função essencial no projeto de poder do rei.
Mesmo não sendo aclamado como um grande guerreiro, e até mesmo em razão disso, Alfredo sabia usar toda a sua perspicácia para convencer as pessoas a fazerem exatamente o que ele desejava e manipular as circunstâncias a seu favor. Ele compreendia que estava fazendo história e sua preocupação com sua imagem e seu legado permeava todos os seus atos, sempre registrados por escrito.
É com espírito otimista de glória no porvir que seguimos os passos de Uhtred e Alfredo. Com eles marchamos, navegamos, avançamos embaixo de chuva e arrastamos os pés nos charcos. Sentimo-nos resignados, miseráveis e desesperançados, até podermos lutar novamente e reviver todo o ardor e a excitação do embate. A ansiedade, a angústia, o temor, tudo em nós alcança níveis estratosféricos enquanto nos preparamos para a próxima batalha. Cornwell tem a propriedade de nos colocar dentro de uma parede de escudos, em meio à ação, e nos fazer experimentar cada uma das emoções dos antigos guerreiros. O destino é inexorável e o nosso é acompanhar essa história até o fim.
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