spoiler visualizarGabriela1970 01/05/2023
Uzumaki é uma obra rodeada de nojeira, mas disso todo mundo sabe. Rodeada de nojeira, gente piradinha, e muito, muito romantismo.
Eu lembro de ter lido essa história no meu celular em uma só lapada, enrolada em um edredom felpudinho em um quarto escuro, enquanto rolava uma churrascada no quintal. Cada capítulo passado era mais um tremilique, mais um olho arregalado, mais um grunhido de pura ânsia de vômito ? e é claro, eu me apaixonei pelo mangá. Recebi a versão física como um presente dos meus amigos, pois sabiam o quanto essa era uma obra especial para mim. Isso, é claro, só aumentou meu apego pela obra.
Não estou mentindo quando digo que é uma das maiores canetadas do Junji Ito. Possui uma estética extremamente interessante, que já é característica do autor mas parece que foi particularmente diferenciada nessa obra, o que dá vontade de continuar lendo mesmo pela nojeira ? que não é pouca. A protagonista é a Kirie, e pelos olhos dela são apresentados temas de loucura, de necessidade, desamparo pelo estado, de ignorância, de gravidez ? tudo que me dá nos nervos. Mas ela não vê tudo isso rolando sem aviso prévio, pois Shuichi, namorado dela, tenta constantemente fazer com que ela concorde em sair da cidade com ele, pois ele parece saber o que vai acontecer. Shuichi parece cada vez mais exausto e sugado a cada capítulo que passa, e eu suponho que esse seja o preço de saber de tudo, mas Kirie está ali para passar o tempo com ele, dar comida, até salvá-lo quando algo dá errado.
Eu não sei bem como a Kirie se manteve sã até o fim, mas acho que isso é parte da aura que o Junji quis criar. A protagonista no meio do caos, mantendo a calma e tentando lidar com tudo do melhor jeito possível, narrando o rolê com uma voz neutra que frequentemente se mostra bem perturbadora. E o Shuichi não sai de perto dela.
Todo o horror da cidade se mostrou cíclico, como desastres que se repetem e se repetem, e que tornam as pessoas compelidas a aguentar tudo, uma vez que já estão dentro. O fim deles foi muito mais piedoso do que o do resto: fisicamente fundidos no epicentro da loucura, em um abraço que duraria até o próximo cíclico. Me pergunto se isso já havia acontecido. Se Kirie e Shuichi não fossem as primeiras versões deles mesmos, e se em cada um desses loopings Kirie se recusasse a deixar sua casa e família, e Shuichi não tivesse forças para deixá-la.
Essa provavelmente é a obra mais romântica do Junji Ito.