Carla.Parreira 21/10/2023
Análise da inteligência de Cristo
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Vou tentar fazer um resumo pequeno endossado por pedaços de história.
Antes de iniciar, quero apenas adiantar minha única discordância com o autor: para mim Jesus não é Deus da forma como foi abordado. Prefiro crer que todos nós somos Deus. Mas deixemos esse mínimo detalhe de lado e vamos ao que interessa. O primeiro comentário da historia de Jesus que gostei refere-se à ressurreição de Lázaro. Jesus fez um dos maiores milagres da historia, contudo, pediu para que os homens retirassem a pedra diante da tumba. Se tinha tanto poder, porque também não retirou a pedra com a força de seu pensamento? Daí uma alegoria nos leva a entender que primeiro precisamos tirar a pedra do medo, da insegurança e do desespero para que Jesus possa intervir e nos ajudar. Jesus recomendou que déssemos atenção aos aleijados e pobres, pois estes nada teriam a nos recompensar e a retribuição viria do Pai. Não apenas os doentes do corpo, mas principalmente da alma. Imagine como isso era visto pelos fariseus da época, os quais achavam que Jesus tinha de ter nascido em berço de ouro. Dá para perceber que ele deveria ser drasticamente rejeitado pela cúpula judaica, bem como todos os partidos de Israel (fariseus, saduceus e os herodianos).
Segundo o autor, os lideres judeus tentaram matar Jesus anteriormente, mas falharam. A cada dia Jesus se tornava mais famoso e conhecido. Foi por tal motivo que seu julgamento acelerou-se. A multidão tinha de ser pega de surpresa e o ônus de tal morte tinha de recair sobre a política romana, o que seria uma tarefa difícil e poderia gerar grande revolta. Então Jesus facilitou o processo indo para o Jardim de Getsêmani, onde se entregou sem qualquer tumulto. A cúpula judaica desejava matá-lo, mas ela jamais imaginava que Jesus também tinha um desejo ardente de morrer. É curioso investigar como alguém tão calmo, feliz e sociável desejasse atravessar a mais humilhante e sofrida travessia da morte. Daí nós tiramos uma boníssima lição: a pior vingança que fazemos aos inimigos é perdoá-los, pois assim nos livramos deles. Isso faz conexão com a parte da historia em que Jesus foi traído com o beijo de Judas. A escolta de soldados precisava de uma senha identificadora, mas por certo não imaginariam que esta seria um beijo afetuoso. Judas não poderia traí-lo com injurias ou difamações, pois o Mestre era amor inatacável e doação constante. Somente um beijo poderia identificá-lo.
Depois de prendê-lo, Jesus teve a grande nobreza e afetividade de interceder pelos seus discípulos. Somente repleto de serenidade (como Jesus) alguém seria capaz de se preocupar com as demais pessoas num momento tão tenso para si próprio. Quando estamos debaixo de um sério risco de vida, nossos instintos prevalecem e perdemos a capacidade de pensar. Não existe espaço para reflexão sobre a ameaça. Esse é, para mim, um dos maiores dons divinos de Jesus: manter sua emoção intacta. Uma pessoa agredida, ofendida, sob risco de vida, tensa ao extremo, precisa retomar as rédeas da sua inteligência e fazer o ?eu? interior gerenciar os pensamentos negativos, duvidando deles e criticando-os. Somente assim é possível controlar as emoções e ser mais forte que elas. Jesus era assim e só se permitia ser controlado pela emoção do amor. Sem dúvida, para mim essa é a maior lição que Ele deixou e não obstante, a mais difícil de se cumprir. Quando um dos soldados o agrediu para ganhar credito diante de Anás, Jesus manteve-se digno e gentil, fazendo com que sua reação fosse totalmente oposta aos limites instintivos do ser humano. Além disso, Ele carregava consigo um poder descomunal e demonstrou isso ao dizer que se rogasse ao Pai, este poderia lhe atender mandando naquele momento mais doze legiões de anjos. Se cada legião do exercito romano tinha aproximadamente seis mil soldados, quantos anjos poderiam estar com Jesus? Ele entendia os limites humanos e vivenciava isso amando e ensinando muito, porém exigindo e cobrando pouco. Ele protegia sua emoção e não se decepcionava com ninguém. Foi para proteger os discípulos que advertiu sobre o abandono que estes teriam para consigo no momento mais angustiante de sua vida, pois queria precavê-los contra o sentimento de culpa, de incapacidade e de auto-abandono quando a reflexão mostrasse suas fragilidades e fracassos. Jesus deixou visível que não procurou por gigantes ou heróis para seguirem-no, mas sim humanos com coragem de se levantar após a queda e retomar o caminho após o fracasso.
Outro ensinamento fundamental pode ser extraído: somente os que compreendem as suas próprias limitações podem compreender as limitações alheias. Os homens mais rígidos e críticos são os que menos conhecem as áreas intimas do seu próprio ser. Ainda por cima, vale respaldar que a ferramenta do silêncio é o estandarte dos fortes. Somente alguém destemido e que tem consciência de que nada deve é capaz de usar o silêncio como resposta.
As acusações que Jesus recebeu eram totalmente infundadas. Os judeus fizeram três graves acusações para Pilatos: primeira - agitar a nação. Jesus não fazia isso, mas apenas balançava o coração dos homens. Os judeus viviam na obscuridade e a luz do Mestre os incomodava. Assim, preferiram destruir a luz a ser iluminado por ela. Segunda - vedar o pagamento de tributo a César. Jesus não queria que o homem deixasse de ser ambicioso, mas ensinou-nos a diferença entre a ambição material e a ambição por aquilo que as traças não corroem e nem os ladrões podem roubar. Disse que o tributo pago a César dependia do suor do trabalho, enquanto o tributo pago o Deus dependia apenas do coração simples e disposto a amar. Terceira ? fazer-se rei. Ele era rei, mas rejeitou ser visto como tal. Indicava que seu trono era noutro mundo, numa dimensão incompreensível ao pensamento humano. Jesus não era rei do mundo, mas rei do amor. Certa vez, Jesus agradeceu calorosamente seu Pai dizendo que ele ocultou seus mistérios aos sábios e instruídos e se agradou em revelar-se aos pequeninos, rejeitando o orgulho e a auto-suficiência para agradar-se apenas singeleza e humildade. O mestre da vida só conseguia ensinar as pessoas que não estavam entulhadas com velhos conhecimentos, preconceitos cristalizados e verdades absolutas. Fiquei a refletir o quanto os habitantes de Jerusalém ficaram chocados ao ver o mais forte e brilhante dos homens numa situação tão frágil e solitária sem nenhuma mínima fuga da própria morte. Imagino como deve ter sido estranho ver o único homem que tinha capacidade de ressuscitar os mortos estar diante da morte também e não poder ?salvar? a si mesmo. De fato a fé do mundo deve ter ficado muito abalada e acho que se isso ocorresse atualmente cairíamos na mesma situação de espanto e dúvida total. E foi de tal modo que Barrabás saiu da banalidade para a aclamação, da clandestinidade para o heroísmo. Jesus permaneceu em silêncio e não se desesperou ou se indignou com tal rejeição. O mestre da vida usou a ferramenta do silêncio para nos ensinar a não travar batalhas com o que os outros pensam ou falam sobre nós. Como aponta o autor, será que esta é uma maneira de não cairmos na armadilha da emoção? Concordo que nunca ninguém pagou tão caro por amar incondicionalmente. Realmente a história do mestre dos mestres abala qualquer um que a investiga. Pilatos com toda sua autoridade, tendo o destino dos homens da região sob sua jurisdição, tentou intimidar Jesus, mas recebeu uma única resposta que foi implacável: toda a autoridade vinha do alto e nada Pilatos conseguiria se o Pai antes não o permitisse. Logicamente isso foi recebido como um ameaçador insulto. Essa afirmação queria deixar claro que só há um poder no universo do qual emanam todos os demais. Inferia que o poder político era temporariamente permitido e que o que é permitido seria posteriormente cobrado. Pilatos achava que seu poder fosse permitido por Tibério, o imperador romano. Fico imaginando a cena de Pilatos escutando de um homem todo edemaciado e cheio de hematomas (como estava Jesus naquele momento depois de tanto ser maltratado) retirando de forma tão suave e numa única frase toda a sua autoridade. Creio que Jesus deveria muito ser temido pelos os homens perversos e egoístas daquela época, principalmente por ser intrínseco do ser humano saber que o bem do amor a tudo vence e supera. Jesus foi morto fisicamente de uma maneira grosseira, pesada e arrasadora, mas venceu espiritualmente demonstrando que a batalha do amor é empunhada por armas sutis, brandas e leves. Como podia os homens de tal época (e até mesmo atualmente) compreender sua linguagem de perdão, suas armas de amor, sua vestimenta de moral, seu olhar de brandura e seu jeito de ser perfeito num contraste total com a linguagem da vingança, as armas do ódio, as vestimentas do verniz social, o olhar de arrogância e o jeito tão grotesco e imperfeito de todos nós? Jesus deixou claro que tinha muito mais poder do que Pilatos e poderia safar-se de sua morte se o quisesse, mas não queria por amor, pois sabia que aquela era a única maneira de tocar os corações humanos. Os lideres de Israel ficaram abalados, mas nada abalava ou amedrontava o mestre da vida. Ele mostrava-se totalmente imbatível nas idéias mesmo quando nenhuma força tinha em seu corpo. Pilatos lavou suas mãos na tentativa de eximir-se de suas responsabilidades e proteger-se contra o sentimento de culpa. É isso o que fazemos diante de situações que precisam de atitudes delicadas: geralmente esgotamos nossos argumentos e recusamos fazer o certo. A sujeira das mãos sai com a água, mas a da consciência é retirada reconhecendo os próprios erros e aprendendo a ser fiel ao bem. Não há como ser feliz e livre se não reconhecermos as nossas fragilidades, se não procurarmos mudar nossa má índoles e estar de bem com a própria consciência. Isso é tarefa árdua. O autor está completamente com a razão ao dizer que gerenciar a emoção é mais difícil do que governar um país e mais complexo do que controlar uma grande empresa. Não é simples entender como Jesus foi tão exímio na habilidade de lidar com tanta calma e solicitude diante da solidão, da incompreensão, da rejeição, da agressividade, da dor física e psicológica. Também concordo em afirmar que se estivéssemos naquela época nossa inteligência e capacidade de decisão ficaria travada pelo medo e nos calaríamos como Nicodemos ou o negaríamos como Pedro, por mais que admirássemos o Mestre. Hoje é fácil defendê-lo, mas no momento daquele tamanho julgamento, quem conseguiria ter a coragem de apoiá-lo se Ele mesmo nenhum discurso ou milagre fazia para se salvar? Quando Jesus disse que as meretrizes e os publicanos precederiam aos fariseus no reino dos céus, evidenciava que as prostitutas e os corruptos cobradores de impostos reconheciam seus erros, injustiças, fragilidades e por isso amavam intensamente Jesus, diferente dos fariseus que em sua ética externa carregavam por dentro intenções e pensamentos reprováveis. O homem que não é juiz de si mesmo nunca está apto para julgar o comportamento dos outros. Quem não conhece a si mesmo torna-se especialista em apontar o dedo para os outros com acusações sem a mínima ponderação. Jesus disse abertamente que sabia de onde viera e para onde ia. A fé é a ausência de dúvida, mas se usarmos exclusivamente a razão, nós teremos de confessar que a duvida é a mais intima companheira de nossa existência. Ao mesmo tempo em que previa sua morte, Jesus afirmava que existia antes dessa curta vida e, depois dela, ele continuaria existindo. Logicamente seria muito difícil compreender a fundo o que Jesus tinha a ensinar e acho que ainda hoje não aprendemos tudo o que está grafado nas entrelinhas de seus misteriosos diálogos e exemplos. De todo modo, vale e muito exaltar os aprendizados já captados: Jesus se fez um ser humano como nós e superou uma grande tortura com total dignidade para mostrar-nos o valor da paciência, da tolerância, da paz na consciência, da fé e do amor. Deixou claro que podemos escrever os capítulos mais belos de nossa historia com os momentos mais difíceis de nossa vida. Ensinou-nos que jamais devemos desistir de amar e crer no Pai, até porque, Ele mesmo estaria sempre conosco ajudando-nos a corrigir as rotas de nossas vidas.