Ensaio sobre a lucidez

Ensaio sobre a lucidez José Saramago




Resenhas - Ensaio sobre a Lucidez


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Clio0 02/07/2023

Ensaio sobre a Lúcidez é um tratado de conscientização política.

Todo governo tem apenas o poder que o povo lhe dá. Assim, logo no prólogo, a população de um certo país vota em branco... em massa.

Saramago descreve a confusão dos políticos, a repressão do que alguns considerariam como um ato terrorista contra a democracia e a possibilidade de uma influência internacional (um vago aceno a Revolução Francesa e outros levantes que ainda assombram a Europa).

O que mais chama a atenção no texto são os atos da população que, obviamente, não reage como o proletariado em vias de revolução, mas apenas como um grupo que finalmente entendeu que a inutilização de orgãos públicos é algo possível e passível. É a anarquia de Trotski.

É uma leitura dinâmica, recheada de diálogos paradoxais numa tentativa de imitar o linguajar político. Pode ser difícil acompanhar para quem não estão acostumado com o estilo do autor que quase não utiliza parágrafos e pontuação.

Recomendo.
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Fran Kotipelto 09/04/2011

"Pois se foi permitido ao homem, tantas coisas conhecer,é melhor que todos saibam,o que pode acontecer."

Num dia comum, como outro qualquer, mergulhado na sina da rotina que insiste em nos desafiar, crianças sorriem porque neste dia não haverá aula, professores sorriem porque não darão aulas para crianças que gostariam de estar em casa vendo tv, os adultos já estão acostumados a se sentirem frustrados, as mulheres então aproveitam este dia pra se distrairem e comentar mais detalhadamente como andam as vidas dos vizinhos,os homens, reclamam porque não haverá jogo de futebol durante a tarde, e os miseráveis e extremamente miseráveis ficam absurdamente contentes, porque chegou o momento mais importante do ano: o dia de vender o voto por alguns trocados.

Enquanto isso as garotas se arrumam e se perfumam, jogam o recato no lixo e estão muito confiantes porque já escolheram os candidatos mais bonitos, e que com certeza merecem o voto delas. Os garotos, por sua vez, acordam ansiosos para comparecer às suas sessões eleitorais, porque acreditam que é uma ótima oportunidade de verem as garotas sem recato e quem sabe, conseguir executar seus atos de concupiscência desvairada.

Agora vamos aumentar o volume e ouvir “Brasil” ao som de Cássia Eller, costuma causar um impacto maravilhoso, quando o assunto é política, ou no caso, “lucidez”.

Numa manhã de votação (do mesmo jeito que acabei de narrar acima)que parecia como todas as outras, na capital de um país imaginário (que vamos chamar de Brasil), os funcionários de uma das seções eleitorais se deparam com uma situação insólita, que mais tarde, durante as apurações, se confirmaria de maneira espantosa.

Aquele não seria um pleito como tantos outros, com a tradicional divisão dos votos entre os partidos "da direita", "do centro" e "da esquerda"; o que se verifica é uma opção radical pelo voto em branco,exatamente isso, votos em branco. Usando o símbolo máximo da democracia - o voto -, os eleitores parecem questionar profundamente o sistema de sucessão governamental em seu país.

É essa "lucidez reflexiva" que "Ensaio sobre a Lucidez" aborda.E na trama Saramago retoma personagens e situações, revisitando algumas das questões éticas e políticas abordadas no também magistral romance "Ensaio Sobre a Cegueira".

Ao narrar as providências de governo, polícia e imprensa para entender as razões da "epidemia branca" - ações estas que levam rapidamente a um devaneio autoritário -, o Saramago faz uma alegoria (muito comum em seus romances)da fragilidade dos rituais democráticos, do sistema político e das instituições que nos governam.

E ele propõe não é a substituição da democracia por um sistema alternativo, mas o seu permanente questionamento. Levantando questões como sempre excepcionais, "e se conscientemente e espontaneamente, a população invalidasse uma eleição, votando em branco?", "e se conseguíssemos nos organizar sem precisar de políticos ou partidos?","e se nos desprendêssemos da ideia da ideia de organização social-política em que vivemos,e a vida continuasse em seus trilhos?"

Assim como em "Ensaio Sobre a Cegueira", nesse livro "a mulher do médico" é fio condutor da trama.Ela é apenas uma das eleitoras,uma das pessoas naquela comunidade que se organizou como pôde, para continuar a viver em liberdade. E é através dela que vemos sintomas de paranoia e teorias conspiratórias combatendo com a lucidez e serenidade,violência respondida com paz, ameaça com silêncio.

Um romance que não só nos chama atenção para o despertar de questões políticas,mas também para nosso amadurecimento como seres humanos, a razão é a única coisa que nos distingue dos animais,então que possamos usá-la com sabedoria, porque assim ao invés de mães clamarem lamuriosamente por justiça nos telejornais, nós poderemos conclamar alegremente que conseguimos realmente fazer jus à célebre frase que nosso imperador entoou às margens do riacho Ipiranga: "Independência ou Morte".
Jow 11/04/2011minha estante
Uma dádiva de livro, uma dádiva de pensamento e como sempre, uma dádiva de resenha.
Um show, Fran!


Alan Ventura 12/04/2011minha estante
Mais uma resenha magistral à altura das obras de Saramago e à sua altura Fran, e sua genialidade. Parabéns.


Tir 17/06/2011minha estante
Por demais marxista sua análise... prefiro a filosofia que está na questão fundamental do ser humano que ele tentou trazer à tona - o que é mais forte que a organização coletiva? O que tem organização coletiva a ver com esquerda (marxista), direita (mercantilista), centro, cima e baixo, frente e trás?

A questão é intrinsecamente ligada com o livro anterior - uma organização baseada em amor fraterno, em sentimento de família, já basta. O resto, só dá margem à tudo que descreveste...


Flávio 05/02/2021minha estante
Obra maravilhosa ?




annacsfraccaro 17/01/2024

Quase uma realidade!
A escrita do Saramago é bem complexa porque não tem travessão, vários parágrafo, e isso faz muita diferença para o ritmo da leitura, porque parece que a leitura demora muito mais.
Eu, particularmente, gostei muito mais do Ensaio sobre a Cegueira, achei a história mais envolvente, mas o final desse livro é surpreendente.
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Cinara... 11/02/2022

"A mim, a experiência tem-me ensinado que os piores filhos de p*** são alguns que não têm aspecto de o serem..."


Essa frase resume perfeitamente tudo o que o Saramago nos quer passar em todas as suas obras e essa frase resume tudo o que eu aprendi sozinha vivendo minha vida.
Acho que se alguém está por um fio de perder toda sua fé na humanidade tem que passar longe do Saramago, ele te amassa, te pisa, te destrói e te joga fora junto com todas as suas esperanças.
Você se pergunta quase até a página 200 onde está a continuação de Ensaio sobre a cegueira, mas quando você começa ver os personagens chegando você também começa a querer descer do mundo e não acreditar no que está acontecendo. Você não tem vontade mais de compactuar com qualquer tipo de coisa que envolva o ser humano! Você quer fugir dessa bagunça! Você quer desconhecer todo ser humano que já possa ter conhecido! Você que correr!
Saramago você me destrói, e eu te amo por isso!

A caligrafia da capa é de Julián Fuks.
Juliana 11/02/2022minha estante
Adorei a resenha. Saramago é foda. Adoro. Fiquei animada em ler.


Cinara... 12/02/2022minha estante
Leia sim Juliana é maravilhoso, mas depois você não fica animada de viver ???


Alexandre 12/02/2022minha estante
Exatamente esse o sentimento, hahaha.


Juliana 12/02/2022minha estante
Ah, isso faz parte, rs...




Vênus_Alice 29/11/2022

Ensaio sobre a lucidez
"Nascemos e nesse momento parece que firmamos um pacto para toda a vida, mas o dia pode chegar em que nos perguntamos Quem assinou isto por mim."

Uma sequência de Ensaio sobre a Cegueira, onde se passa quatro anos e uma eleição está em curso, mas o que os políticos não contavam era com praticamente toda a parcela da população votasse em branco.

Há o grande descontentamento e o terror dos políticos e da polícia de perder o poder.
O que vão fazer?
Abusar do poder enquanto tem, perseguir e achar um culpado.
Sempre alienando a população.

"Talvez antes de ti, o seu corpo já soubesse que vão te matar."
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Bárbara Matsuda 12/09/2022

“Ensaio sobre a Lucidez” de José Saramago:

A capital, em época de eleições, em duas tentativas acabam com o mesmo resultado: Entre os partidos de direita, esquerda e do meio, o que vence é a porcentagem altíssima de votos em branco.
A indignação cívica que seria o motivo mais óbvio, na realidade não se mostra entre os cidadãos; ao contrário, só se percebe apatia e o niilismo geral.

O ministério então entra em Estado de Sítio: Abandonam a capital, deixando-a sem leis, mas não sem vigilância; como modo de punir os “brancosos”, nome para segregar aqueles que votaram em branco.
E mesmo os poucos que votaram nos partidos, se vêm na mesma situação, afinal de contas, é uma democracia. O governo entra em investigação para achar o inimigo invisível de tal movimento que ameaça o sistema e a ordem, fazendo de tudo para torcer os fatos ao seu favor e criar a própria “verdade”.

Saramago é cirúrgico demais. O estilo de escrita, de ritmo próprio, com poucas pausas e diálogos inteligentes, elegantes, sensíveis e humanos que tomam a cabeça do leitor.

“Ensaio sobre a lucidez” tem o mesmo cenário de “Ensaio sobre a cegueira”, os personagens e os eventos vão se interligando, nos mostrando mais uma vez uma lucidez tão clara e evidente, que preferimos continuar cegos.
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Juliete Marçal 28/04/2020

Os Brancosos.
"Votou em branco?"

A narrativa começa num dia de eleição, no qual os políticos de uma capital não nominada de um país fictício, estão aguardando a chegada dos eleitores para dar os seus votos. Nesse dia, acontece uma chuva forte, e consequentemente, poucos eleitores saem de suas casas. Mas, no final do dia quando a chuva passa, os políticos ficam aliviados com o fato da população sair de casa para depositar os seus votos. No entanto, acontece algo inédito na história daquele país: mais de 70% dos votos foram em branco, além das abstenções. Inicialmente, conclui-se que a população não quis sair de casa por causa da chuva, e decide-se realizar uma segunda votação. Surpreendentemente, os resultados são mais de 80% dos votos em branco.

"Sim senhor, votei em branco, que eu saiba não é proibido."

A partir, da preocupação do governo e dos partidos politicos em relação aos votos em branco, vamos acompanhá-los se unindo pelo "bem da democracia", fazendo discursos que dizem que a população está acabando com a democracia ou que ela está sendo influenciada por subversivos que tem a intenção de instaurar o caos na cidade. Com isso, o governo toma medidas drásticas contra a população daquela cidade, indo do abandono até o isolamento desta.

As medidas e retaliações tomadas contra a população trazem um efeito contrário: ela passa a viver em paz, sem desordem e sem aumento de crimes, vivendo em cooperativismo. Os políticos retratados no livro, são políticos desonestos que só pensam em si e nos seus cargos. Penso que o autor coloca todos eles de uma forma estereotipada como uma crítica à democracia burguesa.

"Há pessoas que continuam de pé mesmo quando derrubadas."

Além da crítica política, Saramago faz crítica contra os meios de comunicação, que deveriam ser democráticos e transparentes em passar as informações verdadeiras, e que no caso do livro, eles favorecem os governantes reproduzindo o que o governo quer que seja reproduzido, caso contrário, haverá censura.

A cidade que vive o fenômeno do voto em branco é a mesma de anos atrás que viveu a inexplicável epidemia da cegueira branca, relatada no livro 'Ensaio sobre a cegueira'. Enquanto, a cegueira branca é ligada à alienação e à cegueira moral da população, o voto em branco está ligado à lucidez dos cidadãos daquela cidade. Ou seja, eles não estavam gostando daquela política e não se sentiam representados, e por isso, resolvem se manifestar exercendo o seu direito civil de não votar em nenhum candidato. Para os políticos, essa atitude não é de lucidez, é vista como algo irracional e antidemocrático.

Basicamente é um livro que fala da conscientização social e da desconstrução do poder de políticos que só pensam em si próprios. É interessante a conexão do livro com o 'Ensaio sobre a cegueira', mostrando que a cegueira foi necessária para que essa mesma população tivesse uma lucidez, que futuramente fosse utilizada para votar de uma forma consciente. Saramago satiraza a própria democracia ao apontar como a tirania não é peculiar a regimes totalitários ou ditatoriais.

Quanto à leitura, no começo ela foi bem arrastada, mas depois de lidas as cem primeiras páginas os acontecimentos se desenrolam. Talvez o livro não agrade algumas pessoas pelo viés político presente. Quando eu terminei o livro, fiquei com uma sensação de desesperança pelo desfecho. Saramago acabou comigo no final desse livro. No entanto, casou com a realidade, infelizmente. Os desfechos saramaguianos são os melhores!

Pausa para o coração partido no que diz respeito ao cão das lágrimas. :'(

"Uivemos, disse o cão "

Última coisa importante! Recomendo ler primeiro o 'Ensaio sobre a cegueira': pimeiro, pelo fato dos livros estarem conectados e segundo, por motivos de spoilers.

"Nascemos, e nesse momento é como se tivéssemos firmado um pacto para toda a vida, mas o dia pode chegar em que vos perguntemos: Quem assinou isto por mim, [...]"

^^
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Paulo 19/02/2023

Saramago em momento menos inspirado
Trata-se talvez da obra menos inspirada do Saramago, mas que não deixa de ter o seu valor, principalmente pelo fato de ?conversar? com o excelente Ensaio sobre a Cegueira quando recupera alguns de seus personagens.
Ou seja, vale a pena, ainda que não seja o autor na sua melhor fase, quando trata de uma capital em que a rebeldia se manifesta através do voto em branco.
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Eduarda 20/04/2020

"Aqui cada um com o seu desgosto e todos com a mesma pena."
Ensaio sobre a lucidez mantém a mesma genialidade presente em Ensaio sobre a cegueira, demonstrando, com diligência, a fragilidade dos sistemas políticos, bem como os extremos da maldade e da beleza humanas. Nesse livro não tive um ritmo de leitura tão voraz quanto em seu anterior, mas é uma história bastante surpreendente e, sem dúvidas, muito recomendável.
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Cristiano.Vituri 23/05/2020

A lucidez é agora!
Em tempos de governo Bolsonaro, e políticos que se reúnem para falar coisas impublicáveis.

Saramago acertou em cheio, quando escreveu esse livro, basicamente discutindo o sistema (pseudo) POLITICO-DEMOCRÁTICO e o funcionamento das suas entranhas mais sórdidas.

A historia começa quando em uma eleição a maioria vota em BRANCO. Isso afeta o status quo vigente dos poderosos. Desconfiados de que pode se tratar de algum "golpe" contra eles, tratam de procurar um bode expiatório.

Saramago pega pesado ao detalhar como funciona o mecanismo de troca de favores, corrupção, troca de cargos, investigações inventadas, e todo dia de maracutaia escondida dentro do governo hipotético. Nada diferente do Brasil 2020. O que torna o final bem foda, não existe final florido.

P.S1: Ler antes Ensaio sobre a cegueira, já que alguns personagens surpreendentemente aparecem na trama, e são importantes.
P.S 2: Fora Bolsonaro!
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duda 23/03/2022

Democracia... mas depende
O voto é secreto. Temos o direito de votar em branco. Exceto quando o governo diz que não.

Seus direitos existem. Até alguém se achar no direito de tirá-los de você.

Esse livro é tão profundo que sinto que não absorvi tudo que precisava dele. É um livro a ser mais estudado do que lido. Saramago é Saramago né.
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Nat 04/11/2020

^^ Pilha de Leitura ^^
A “não tão conhecida continuação” de Ensaio sobre a Cegueira é uma obra super atual. A trama inicia-se com um dia de votação onde as pessoas não foram votar. Remarcada a eleição, elas comparecem, mas votam em branco em sua maioria. Esse fato gera uma cadeia de acontecimentos, sempre na tentativa de achar um culpado pelo ocorrido. É aí que retornam alguns personagens do livro anterior – e não faz muita diferença se você já leu o livro anterior ou não. Numa linguagem sem rodeios, porém um pouco cínica, Saramago nos faz questionar nossa democracia. Temos mesmo liberdade de expressão? Nosso sistema criminal/político é justo e correto? Ótimo livro.

site: https://www.youtube.com/c/PilhadeLeituradaNat
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Ludmila 15/10/2022

Impossível não amar o Saramago! E esse foi um livro extremamente apropriado para a época em que estamos vivendo! Uma dica: se for possível ler o "ensaio sobre a cegueira" antes é muito melhor. Essa história acontece 4 anos após a "cegueira branca" e alguns personagens aparecem aqui tbm.
Maria Luiza 15/10/2022minha estante
"O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente." Esse livro para mim é uma obra prima! O final até hoje aperta o meu coração.




@ALeituradeHoje 19/07/2020

Mesmo sentimento..
Assim como em Ensaio sobre a Cegueira, o livro está cheio de verdades e tem um final chocante. Ainda estou digerindo.
Saramago sendo Saramago.
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