Rafael 07/02/2023
Epopeia humana
Sublime! É essa a palavra que define a epopeia de Odisseu no seu retorno à Ítaca. No início, achei que não ia conseguir acompanhar os versos e que muito ficaria incompreendido. Porém, mais uma vez a editora 34 entregou uma tradução primorosa que permitiu sentir na pele as desventuras do grande Odisseu. Fantástico como Homero constrói a narrativa, revelando como o povo ocidental enxergava, na época, os Deuses e o destino dos humanos. Impressiona, também, ver como muitas das coisas daquele tempo ainda repercutem na vida social e na condição humana de hoje. A hospedagem, aqui entendida como o acolhimento do estrangeiro que, por alguma razão, visita sua morada, é, igualmente, um dos enfoques dessa obra, mostrando que os Deuses valorizam a solidariedade humana. Aliás, os seres humanos da narrativa, cujo destino (jornada de vida) foi primordialmente traçado pelos Deuses, revelam como o homem daquele período lidava com a morte, os infortúnios do viver e o imponderável, ou seja, a alea que domina nosso dia a dia e que, na nossa ignorância, é explicada por algo que transcende (divino), como se fôssemos marionetes manejadas por forças ocultas. Tudo isso sem olvidar da trama magistralmente construída para contar a estória desse arguto herói inspirado por Atena que é Odisseu. Vale muito a pena ler essa obra que, para além de ser a fundação da literatura ocidental, é um monumento à natureza humana.