Vitoria.Milliole 28/01/2024
A Heroína da Alvorada fecha a história da Rebelde do Deserto com chave de ouro, e palmas pra progressão na qualidade de um livro pro outro. Eles sobem uma escadinha do primeiro ao terceiro, conseguindo ser cada um melhor do que o anterior.
Se a Traidora do Trono termina com a criação de uma fofoca, aqui nossos rebeldes se aproveitam dela. E são tantas reviravoltas nessa rebelião que nunca fica tedioso. Antes de ler, eu tinha receio pelos livros serem um pouco curtos para o gênero, e não poderia estar mais errada: todos têm início, meio e fim, explorando e desenvolvendo cada trama e encerrando com todas as pontas devidamente amarradas.
A leitura foi repleta de tensão, horas em que eu não fazia ideia do que estava prestes a acontecer e só queria que tudo desse certo. Mas muitas vezes não dava. E depois dava. Senti meu mais profundo ódio por alguns personagens e meu mais sincero amor por outros, porque é isso que bons livros conseguem despertar.
Continuo dizendo que a Amani é uma personagem incrível, e A Rebelde do Deserto está repleto de personagens femininas incríveis. O que dizer da nossa general Shazad peitando os homens que ousam duvidar da sua capacidade?
Também achei doido como a autora me fez ter empatia por quem eu nunca pensei que teria, ainda que no momento da morte. E que mortes bem elaboradas, hein?
Com essa trilogia eu consegui entender um pouco melhor o meu amor pela fantasia. Ela nos insere em universos novos, mágicos, diferentes, mas com um pouquinho do nosso. Com seres humanos, como nós. Com semelhanças suficientes com o mundo real para nos sentirmos ali dentro, mas não o suficiente pra querermos correr, como corremos dele. E então a gente passa a torcer por aqueles personagens porque, quando eles vencem, é como se pudéssemos vencer também. Afinal, de formas diferentes nós lutamos pelas mesmas coisas, não? É uma pena que os bons líderes, como o Ahmed, estejam escondidos atrás de uma submissão cega com medo de assumir uma liderança que pode matá-los. Não os julgo, estamos no mundo real. Aqui, morrer não é heroísmo.
Queria deixar aqui o xingamento mais feio que a autora consiga imaginar, porque, meu deus, precisava matar tanta gente? E então eu quero deixar o agradecimento mais lindo que ela consiga imaginar, porque nunca antes eu li um livro que a cada morte tivesse um próximo pequeno capítulo em memória ao personagem morto. E também o melhor elogio que ela já possa ter ouvido, porque fazer um epílogo embutido num último capítulo foi magnifico.
Tenho um péssimo hábito de me esquecer, um tempo após a leitura, de vários acontecimentos ao longo dela. Então, um dia eu contarei histórias de uma certa trilogia sobre uma garota do deserto que saiu de onde morava pra mudar o mundo, mas provavelmente esquecerei de contar quantas pessoas ela precisou perder pra isso. Assim como as histórias provavelmente esquecerão de contar que a Bandida de Olhos Azuis é, também, uma demdji. Mas tudo bem: ao contrário das pessoas que ouvirão essas histórias, eu posso voltar e reler.