Eliz/@nossaliteratura 07/10/2018Um livro sincero e importanteConfesso que as primeiras 50 páginas do livro seguiram lentas em minha leitura, não conseguia entender o ritmo, a variação de pessoa narrativa, ou para onde aquilo iria me levar. Sem ler nem ao menos a sinopse me arrisquei e, agora que escrevo essa resenha, sinto o quanto valeu a pena ter continuado.
Primeiramente destaco a escrita simples, – longe de ser simplista – direta e rica em detalhes que, às vezes, me fez reler alguns trechos para mergulhar nas figuras de linguagem que Caden Bosch, o adolescente de 15 anos e nosso personagem principal, tentava repassar. Somos conectados a ele.
Embarcamos na sua viagem em alto mar, com criaturas excêntricas que o fazem pensar ser o único ‘normal’ no navio. Um capitão e papagaio, ambos, sem um dos olhos, um zelador que passa íntimas lições de moral, cérebros selvagens correndo pelo navio e colegas de quarto que o fazem refletir sobre questões inimagináveis. No meio de todo esse tumulto, Caden apenas tenta seguir viagem para alcançar o tesouro buscado pelos marinheiros e sua tranquilidade.
O livro inteiro é uma viagem, – sem trocadilho medíocre – passamos pela infância e vamos até a adolescência de Caden, entramos em situações que nos levam a entender porque ele foi parar num navio em alto mar.
Durante toda a leitura tive a sensação de urgência, pressa, sentimento reforçado pelo tamanho curto dos capítulos que, inicialmente, me deixaram alheia à história. Me sentia incomodada.
Agora, após finalizada, vejo o quão importante foi sentir esse incômodo com a história, creio que foi isso que o autor quis nos passar. Trazer incômodos para nos tirar de uma zona de conforto carregada de preconceitos criados há séculos por gerações de pessoas que passaram pela mesma viagem a qual Caden é submetido.
Grifo: “As coisas que sinto não podem ser traduzidas em palavras, ou, se podem, são palavras numa língua que ninguém pode compreender. Minhas emoções têm o dom bíblico de falar em idiomas desconhecidos.”
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