Mila F. @delivroemlivro_ 19/06/2018
Já pode publicar um novo livro, esse também está aprovado! Amei :-)
Confesso que estava com as expectativas muito altas em relação a Nunca Houve um Castelo, pois tinha amado o estilo de narrativa de Martha Batalha em A Vida Invisível de Eurídice Gusmão e estava ansiosa por conferir o novo trabalho dela.
Fui recompensada nas expectativas e ao mesmo tempo frustrada, não sei como explicar bem, vejamos: aqui vamos acompanhar a história de várias gerações de uma mesma família. Johan Jansson e sua esposa atravessam o oceano e vem morar no Brasil, ele se torna o cônsul da Suécia no Brasil em 1904, logo construíram um castelo na Praia de Ipanema e ali tiveram filhos que tiveram filhos que tiveram filhos.... Enfim acompanhamos os descendentes dessa família.
O fato é que acompanhar a família nem chega a ser o tão mais emocionante no livro, mas sim a evolução do passar dos tempos, as referências históricas, culturais, o advento de novas tecnologias, a constituição de novos modelos de família, assuntos tabus como homossexualismo, separação e traição vindo à tona. Esses detalhes, pelo menos para mim, foi o que mais me encantou na estória.
Fica evidente a grande pesquisa bibliográfica de Martha Batalha em todos os aspectos para tornar a narrativa coerente e verossímil ao contexto e ao tempo narrado.
Quando digo que acompanhar os elementos históricos foi a parte que mais me agradou, não quero dizer que não tenha gostado de acompanhar os passos da família retratada, até porque gostei, foi a partir deles que a escritora desenvolveu todo o trabalho da narrativa, todo o retrato da sociedade do Rio daqueles remotos anos, além de nos fazer refletir sobre aspectos como memória, conflitos e tudo o que é necessário para seguir com a vida.
Acompanhar essa família foi incrível, pois vemos como país, filhos, netos, noras e amigos vão conduzindo suas vidas e o quanto a inevitabilidade do passar do tempo vão modificando não apenas as pessoas mas a própria cidade do Rio.
Nunca houve um castelo retrata bem o quanto o tempo foi transformando a cidade do Rio de Janeiro e seus moradores, o quanto esse passar do tempo foi tornando histórias, lendas, mitos até ninguém mais falar sobre elas, e ninguém saber como a história começou. O quanto o Brasil mudou e, inclusive, partes em que a posição e o papel das mulheres na sociedade começam a ser mudados com o advento do principio das ideias feministas no país.
Por fim, não me decepcionei com Nunca Houve um Castelo, a narrativa de Martha segue incrível e instigante, fazendo-nos refletir não apenas sobre a estória contada, mas faz uma reflexão profunda sobre o passar do tempo e o quanto, por mais que tentemos fazer as melhores escolhas sempre iremos carregar muitos arrependimentos, além de mostrar que o tempo passa não só para cada pessoas que vai envelhecendo, mas o exterior: prédios, tecnologias, tudo vai mudando tão rápido e se tornando tão obsoletos tão rápidos.
Martha Batalha segue também com suas ironias, e humor sarcástico em alguns momentos, proporcionando uma crítica à sociedade daquele tempo e, obviamente, à nossa sociedade, pois, por mais que muitas coisas tenham mudado, parece-me que alguns vícios e costumes deploráveis persistem com os séculos.
Será que é sonhar muito, desejar que logo em breve a escritora nos presenteie com um novo livro? Fico na ansiedade e na curiosidade sobre o que ela poderá retratar.
site: www.delivroemlivro.com.br