Marina 17/06/2018Camila Coutinho para além da modaObra: Estúpida, eu? : a blogueira que conquistou o seu lugar no mundo da moda
Autor: Camila Coutinho
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 176
Preço: até r$ 49,90
Nota: 4 de 5
Se você espera um livro sobre moda, ou biografia, ou histórias de blogue, ou mais uma historinha enche prateleira de livraria, sinto te informar, mas você está bem errado. Conheci a Camila Coutinho através de um programa de TV e passei a acompanhar seu Instagram, descobrindo que trata-se de alguém que tem know-how para estar onde está, e é isso que o livro vem apenas nos comprovar, como diria Thaís Farage. Camila sempre parece diferente em se tratando de seu mercado e agora traz sua linguagem fácil, sendo provocadora e inovadora, para as “antigas” páginas dos livros.
Confesso que fiquei meio em dúvida na compra, por não saber o que esperar. Após dar uma olhada ao vivo, me identifiquei com o capítulo sobre network. Li as primeiras páginas e quase não deu para acreditar que falava sobre as experiências da Camis no começo da carreira, sobre como abordar pessoas, que tratá-las bem pode fazer uma grande diferença na hora de divulgar-se, exatamente o que o meu professor de Gestão de Negócios havia dito na mesma semana. Então, percebi que a Camila não estava para brincadeiras.
Ao se deparar com “Estúpida, eu?” em qualquer lugar, ele chama a atenção. Talvez nem a própria Camila tenha ideia de quanto a Intrínseca se empenhou e arrasou nesse projeto (é bom lembrar que sou tendenciosa devido a minha fascinação pela editora), capa dura com jacket, o que faz os olhos de admiradores dos livros pularem e quererem levar para casa para complementar a estante. A primeira euforia passou? Abra o livro e verás como a obra de arte continua por dentro: papel couché e fotos em preto e branco, claro, para abrilhantar o primeiro trabalho de Coutinho para as livrarias. O estilo provocador é logo confirmado no início da leitura, pois para perfeccionistas como eu... Bem, é doloroso. Camila traz seu texto alinhado à esquerda, sem o famoso justificar, mas logo a importância desta ferramenta é esquecida.
Camis começa resumindo de forma bastante carinhosa como é sua relação com seu trabalho, que diga-se de passagem: é inspirador e reflexivo. Faz nos questionarmos se estamos fazendo o que amamos e, lembra o quanto devemos agradecer por estar onde estamos.
O livro começa com uma introdução da Costanza Pascolato, alguém que, pelo que li, Camila admira bastante, e dá para ver que é recíproco. Com a benção da Pascolato, ela começa trazendo um pouco de biografia, contando como o Garotas Estúpidas (GE) nasceu, de onde veio a ideia e como ela começou no ramo, conciliando faculdade, estágio e o blog, mostrando que se você quer chegar em um lugar especial, precisa sair da zona de conforto, dar a cara a tapa e se esforçar para se destacar. Sim, terá alguns conselhos de empreendedorismo, coisa que quem é da área sabe, mas que para quem estuda ou está entrando nessa maratona, podem ser pontos fortes a serem lembrados. Dá para perceber que Camis consegue equilibrar tudo desde seu tempo de universitária, pois aqui ela se debruça pouco sobre sua vida pessoal, mas traz os pontos que a fizeram crescer, ensinando e divertindo o leitor.
Como mencionado o livro trás alguns pontos fortes e importantes sobre empreendedorismo, o que traz uma caraterística meia que atemporal. Porém, com as mudanças sociais sendo cada vez mais rápidas e radicais, as histórias abordadas ou algumas palavras utilizadas podem ficar desconhecidas, como as dicas sobre o Instagram. Camila vem reforçar apontamentos já bastante batidos, mas que por estar registrada em livro torna-se mais duradoura como: a dificuldade que é manter uma vida ralando muito; os problemas que se pode ter na internet, devido as regras desta ainda estarem em construção, como quando foi multada pelo Conar; os ataques da imprensa em querer que pessoas da mesma área se ataquem e sejam rivais; ou mesmo no jogo de cintura que ela e muitos do ramo têm que ter para que o trabalho com a imagem não dê direitos a todo mundo em meter a colher onde não é chamado. Assim, vem reforçar que a carreira de viajar ou ganhar produtos, que é o que mais vemos, tem também um ônus bastante doloroso.
Partindo para o lado profissional, como já disse, Camila fala sobre relações e como elas podem fazer a diferença. É sobre como mudar a chavinha do faço porque gosto, apesar de não ganhar e a fase do gosto aliado a rentabilidade. Trazendo sempre experiência, sendo de sucesso ou não, mas valorizando cada uma com sua devida importância para a construção do seu caminho. Assim, Camis mostra as possibilidades (não regras, que fique claro) de fazer o seu projeto dar certo, mesmo que esteja fazendo o que muitos fazem, mostrando que isso não é pecado e que é plenamente possível quando você tem um diferencial. Ou seja, procure saber quem você é.
Camila se mostra bem reflexiva e certeira em seu último capítulo, onde vem falar de seu meio de trabalho e de suas possibilidades, sendo visionária e bastante inteligente ao não definir o que veio para abalar com as estruturas de tudo que era bem definido graças à internet. É justo ressaltar que as vezes a escrita dela torna-se um tanto confusa pela não linearidade cronológica, incomoda, mas não é algo que pode atrapalhar no que acredito ser o tema principal.
Vale lembrar que Camis fala sobre a dissociação da pessoa Camila Coutinho e do blogue Garotas Estúpidas, dando assim explicação ao seu público de que a figura dela não se limita ao blog e que o blog não se limita a ela, por isso a separação das imagens. Camila mudou sim, mas para alçar novos voos em direção a onde ela planeja estar e sempre estando um passo na frente de onde as pessoas acham que ela está.
“Estúpida, eu?” é isso, Camila se mostrando como equilibrista desde sua época de universitária, jogando com conhecimento do que faz, empreendedorismo, esperteza, clareza ao se posicionar, contando sua trajetória com características que a fizeram ser Camila Coutinho, a primeira blogueira de moda do Brasil.