cbarbugiani 12/07/2022Helena se apaixonou e teve sua vida modificada aos 15 anos, quando visitou o padrinho no Chipre. Agora, 24 anos após os acontecimentos que tanto a impactaram, ela recebe Pandora de herança e retorna com a família ao local que desperta nela sensações tão conflitantes. E, assim como no mito grego, Helena sente que sua caixa de segredos está para ser revelada, causando com ela a destruição de tudo pelo que ela mais lutou para construir.
O livro mescla diferentes vozes narrativas: o que abre e fecha o livro é a perspectiva de Alex aos 23 anos, filho de Helena, em primeira pessoa em uma linha temporal posterior aos acontecimentos centrais da trama; o enredo em si é narrado em terceira pessoa sobretudo pela perspectiva de Helena durante a estadia de sua família em Pandora ao longo do verão, embora a narrativa se aproxime também da visão de outras personagens; e na abertura de cada capítulo, há o diário de Alex aos 13 anos, o que permite ao leitor compreender as impressões do garoto durante o desenrolar dos acontecimentos. Com isso, Lucinda Riley garante alguns efeitos na leitura: em primeiro lugar, já desperta a curiosidade do leitor desde as primeiras páginas e incita algumas dúvidas a respeito do que ele poderá encontrar; depois, torna sua narrativa mais rica justamente por sua maior abrangência.
Ainda que o cenário de O Segredo de Helena basicamente se limite a Pandora, seu enredo acaba tendo maior complexidade pela gama de personagens presente e pelas muitas tramas que vão sendo desenvolvidas. Ao mesmo tempo em que elas dão substância à obra e apresentam novas facetas das personagens, permitem que, pouco a pouco, uma teia maior de eventos seja habilmente formada em torno do conflito central.
Fui cativada pelas paisagens acolhedoras, pelos conflitos das personagens e, sobretudo, pela escrita encantadora de Lucinda. Ainda que a leitura não tenha se mostrado de fato surpreendente, já que consegui perceber o segredo da protagonista bem antes de sua revelação, ela certamente foi acolhedora.
A temática central da obra é, sem dúvidas, a familiar e a autora desenvolve com sensibilidade as relações exploradas no romance. Mas, acima disso, adorei a forma de como apresentou as diferentes facetas da protagonista: Helena é mãe, madrasta, mulher e seus conflitos são vividos de acordo com seus diferentes papéis. Ela experimenta alegrias e angústias, dificuldades e acertos através deles e demonstram ao leitor a complexidade de ações e emoções que experimentamos ao longo de nossa existência.
Embora o foco de O Segredo de Helena seja sem dúvidas emocional, tanto pelos conflitos abordados quanto pelo que busca suscitar no leitor, essa não foi, de fato, uma leitura que me provocou lágrimas, por mais envolvida que eu estivesse e por mais que tenha gostado do que li.
Mesmo que o livro não tenha me impactado e, ao seu final, tenha sido até mesmo um pouco cansativo pelo excesso de desenvolvimento dos acontecimentos futuros ao verão em Pandora, ainda assim me proporcionou uma leitura na qual mergulhei por completo desde o início, me cativando sobretudo pela delicadeza com que as relações familiares foram tratadas.