BiCarrie 06/03/2021
Envolvente
Em O crime do Cais do Valongo, obra realizada pela autora Eliana Alves da Cruz, trata-se de uma narrativa com o ponto de vista de dois personagens: Muanda e Nuno, alternando-se entre capítulos, a vivência de cada um. A história também abrange outros personagens que possuem grande importância no contexto do assassinato de Bernardo Lourenço Viana, um rico comerciante, branco, dono da escrava Muanda e credor de Nuno.
Apesar da morte de Bernardo, o cenário principal não se dá por isso, e sim através de relatos pessoais sobre a vida de Muanda, abrangendo sua antiga vida, expondo sua religião, cultura e sua trajetória até o Cais do Valongo e também através de pequenos relatos de Nuno, sobre o fato de ser nem branco e nem negro, mas ainda assim, ser ser excluído socialmente.
Como dito anteriormente, Muanda narra sobre sua cultura, religião e até mesmo sobre rituais realizados em determinados momentos, porém, num dado momento, ela se vê tendo que adotar hábitos e ritos de outra religião, mas para infiltrar-se melhor para conviver naquele povo que não era seu de nascença, pois estava em fuga com sua família, devido a um líder inimigo que queria entregar-lhes ao portugueses, ou seja, vender-lhes como escravos. Já nesse contexto, é possível perceber a mudança de hábitos devido a uma imposição exterior, por estarem num local em que seus costumes não são válidos, mas, seguidamente deste ocorrido, Muanda, após ter sido capturada e trazida para o Brasil, percebe-se que o catolicismo é lhe imposto também. Durante sua vinda para o Rio de Janeiro, ela relata sobre as precárias condições dos navios negreiros, onde as doenças eram facilmente transmitidas, causando a morte de diversos negros naquele minúsculo local de tráfego. Após sua chegada, Muanda acaba sendo comprada pelo Bernardo juntamente com mais dois outros negros que possuem um papel importante na narrativa, o Marianno e a Roza. Durante a história, é possível perceber que há casos de assédio e estupro, mas não acaba sendo dito explicitamente sobre, deixando mais oculto tais ocorridos, porém sabe-se bem que eram recorrentes.
Nuno, por sua vez, era um rapaz nem branco e nem negro, mas que se vê excluído da sociedade, onde amigos aconselhavam-no de casar-se com uma moça branca para ?esbranquiçar? e ?purificar? seu sangue, mas, ele se dá por apaixonado por Tereza, uma escrava que vendia frutas para comprar sua alforria. Nuno tinha o sonho de abrir um estabelecimento chamado Mazumba, onde o nome explica-se na própria história, porém que refere-se ao fato dele ser um rapaz nem branco e nem negro, porém livre. Com isso, para conseguir abrir seu negócio, necessitou de empréstimos, feitos através de Bernardo. Quando soube-se de sua morte, Nuno pulou de alegria por não ter de pagar mais sua dívida, o que fez com que ele acabasse sendo mais um entre os suspeitos, que eram os três escravos que trabalhavam na casa do comerciante.