TatáVasconcelos 10/09/2018
Chamá-la de Diabo é Um Apelido Carinhoso...
Meryl Streep é a melhor de todas, definitivamente! Se eu tinha qualquer dúvida disso, acabou depois de ler O Diabo Veste Prada.
Pode parecer estranho dizer que cheguei à conclusão definitiva sobre o talento de uma atriz depois de ler um livro – sem que tenha sido escrito por ela. Mas o caso é bem fácil de ser explicado: Miranda Priestly é o personagem, ser humano, criatura, a coisa mais repugnante do planeta! Paranoica, mal-humorada, déspota, tirana (eu sei que essas duas são sinônimos, mas ela vale a redundância), bipolar, perversa, sádica, são algumas das palavras que a definem. Ela é uma megera sem atenuantes! E o fato de ela ter me despertado completa e absoluta repulsa no livro, prova o talento desta dama do cinema americano, que se não me fez morrer de amores pela personagem, ao menos tornou-a suficientemente carismática para ser aplaudida. E principalmente, marcante. Portanto, permitam-me repetir: Meryl Streep é a maior de todas, definitivamente. Ponto.
O filme não foi cem por cento fiel ao livro, mas também não chegou a mostrar mudanças significativas. Para dizer a verdade, a ordem dos acontecimentos e o desfecho de algumas situações foi o que mais divergiu. Sem grandes spoilers: Andy ainda não conhecia Christian quando teve que revirar Nova York de ponta-cabeça em busca do próximo volume de Harry Potter para as filhas de Miranda, e o desfecho dessa história não foi completamente feliz; quer dizer, ela conseguiu o livro, mas apenas um. Falando em Christian, não houve romance, embora ele quisesse, e até tivesse feito com que Miranda a levasse a uma festa onde ela teve que passar a noite toda como sua baby sitter (não perguntem!). E o mais importante: o final da história é completamente diferente. Pessoalmente, gostei mais do final do filme. No livro, achei que – embora tenha lavado a alma de muita gente –, An-dre-ah podia ter achado uma forma mais diplomática de explicar à Miranda – que já mostrava sinais de simpatia com ela, e de que estava disposta a conceder sua alforria acompanhada de uma bela carta de recomendação à revista onde Andy almejava trabalhar em seguida – que não havia meios de realizar a nova Missão Impossível. Todavia, em vez de ligar para o Tom Cruise, ela preferiu jogar fora os onze meses que passara suportando o inferno – no emprego pelo qual, diz a lenda, milhões de garotas dariam a vida; ou, no caso, venderiam a alma –, perdendo a linha com a chefe na cara de um monte de fotógrafos e repórteres, e sair da Runway conservando sua integridade e o ódio definitivo da Sra. Priestly. Estranhamente, esse último detalhe foi o que acabou lhe abrindo algumas portas para trabalhar com o que realmente queria desde o início, então, deve ter valido a pena. E lavado a alma, com certeza.
Também houve algumas mudanças em relação à vida pessoal de Andy: no livro ela não morava com o namorado – que aqui se chama Alex e não Nate, e ele é professor de uma escola primária no subúrbio e não chef de cozinha. A princípio ela divide o apartamento com duas garotas indianas que apenas piscam na história, sem serem praticamente notadas, e depois passa a dividir outro apartamento com Lily, sua amiga de infância, que aqui dá indícios de ser alcoólatra – e uma piranha de mão cheia, também –, que no filme, foi representada pela amiga que deu um esporro em Andy ao descobrir que ela estava dando muita confiança ao Christian.
Para quem gosta de comparar a descrição da aparência dos personagens com a adaptação cinematográfica, segura essa: Nigel, aquele editor de moda baixinho, careca e narigudo que no filme estava para se associar a James Holt, no livro tem algo em torno de 2,10m de altura, é super musculoso, super bronzeado, adora macacões super colados, casacos e mantos de pele legítima. E apesar da voz de falsete, e de só falar aos berros, parece exatamente o tipo de cara que teria um namorado personal trainer com aparência de modelo de catálogo de cuecas a tiracolo. Ah, e Andy é loira; mas isso só é vagamente mencionado.
Sabe a Jacqueline Follet? Aquela que estava prestes a assumir o posto de Miranda, se a monstra não tivesse sido esperta e apunhalado Nigel pelas costas para que a inimiga ficasse com a vaga na firma de James Holt? Não existe no livro. Nem esse enredo de intrigas, também. Existem intrigas, mas de outra natureza, a maioria relacionadas a pessoas que adoram falar mal de Miranda pelas costas dela, e se retratar dez segundos depois, temendo que seu veneno chegue ao conhecimento da megera.
O livro é realmente engraçado. Chick-lit é um gênero em que costumo pisar com muito cuidado, porque, pela minha experiência, ou o livro será completamente clichê, e nesse caso, adorável; ou ele será maçante, com uma protagonista completamente sem noção e sem sal, que me fará xingá-la de todos os nomes que mamãe me ensinou a nunca falar na frente de pessoas civilizadas, durante a leitura; ou eu terei que fazer novecentas pausas para respirar e esperar a barriga parar de doer para prosseguir com a leitura e as crises de riso.
Bem, O Diabo Veste Prada não se encaixa em nenhuma dessas categorias. Não me fez exatamente morrer de rir, mas tem diversas passagens engraçadas; não chega a ser um enorme clichê, no nível em que esses livros costumam ser – quando o drama gira em torno do relacionamento de um casal, e não de uma funcionária com sua chefe –, mas é uma leitura maravilhosa. Não importa se você já viu o filme umas setecentas vezes (meu caso!); ou se o filme é um dos seus favoritos do gênero, e por isso você tem medo de pegar o livro e descobrir que a história escrita não é tão incrível (de novo, meu caso!); dificilmente irá se decepcionar.
Pode ser até que tenha pesadelos com essa diaba que não é tão carismática no livro quanto Meryl Streep a interpretou no cinema – se eu já não era absolutamente fã de Lady Meryl, agora preciso colocá-la definitivamente no hall das grandes estrelas que admiro. E, embora o título revele sua marca favorita, An-dre-ah usou muito mais Prada do que Miranda nessa história. Uma grande ironia...
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