Bebele 08/12/2009
Relatório
A história é sobre Andrea, que consegue o seu primeiro emprego, como estagiária, na mais importante revista de moda de Nova York, a Runway Magazine. Ela será a segunda assistente da editora-chefe Miranda Priestly, cargo conhecido por ser disputado por um milhão de jovens mulheres que poderiam se matar para ter esta oportunidade.
Andrea acabou de formar-se jornalista e tem um bom currículo estudantil, mas acredita que se conseguir ficar um ano nesse cargo, muitas portas se abrirão para o que ela realmente quer fazer: ser jornalista em algum grande jornal ou revista. Porém, nada é fácil para manter esse emprego dos sonhos.
Miranda é dura, workaholic, excêntrica e arrogante. Não é uma pessoa fácil, e todos do mundo da moda já conhecem seu perfil, mas a agradam e mimam por ser influente e por definir o que sai ou não na famosa revista. Seguem seu ritmo frenético para poder ascender em suas posições, ou, no mínimo, mantê-las. A primeira assistente de Miranda, Emily, é o maior exemplo de como as pessoas se vendem pelo sucesso, como a dieta que ela faz para emagrecer e, consecutivamente, ter mais chances profissionais.
Emily tem que procurar uma segunda assistente, mas todas as suas tentativas são fracassadas. As selecionadas abandonam o emprego em menos de duas semanas. Miranda aposta na contratação de Andrea, justamente por ela ser diferente das anteriores. Não é magra, não conhece nada no mundo da moda, não se preocupa com roupas nem com dietas. Ademais, nunca lera a revista, ou ouvira falar sobre Miranda. Finalmente, Andrea é escolhida para a vaga, a contragosto de todos, inclusive de Emily, que acredita que a jovem, de estilo brega e cafona, não vai durar na revista.
A recepção para Andrea na empresa é a pior possível. Todos a encaram, analisando-a e criticando-a por seu estilo, ou falta de estilo. Todos dirigem um ar de superioridade sobre Andrea, mas nada é pior do que o olhar de Miranda. Ela dá ordens à revelia e é extremamente perfeccionista nos detalhes fúteis e ridículos. É proibido fazer perguntas a Miranda. Suas decisões mudam em instantes. Quando um problema é resolvido (como o filé do restaurante que fecha em poucos minutos e que tem que estar em sua mesa já), ela não faz a mínima questão em saber sobre a solução encontrada (nesse caso, avisa que não vai comer mais, pois vai a um almoço para se reunir com um estilista).
O maior problema encontrado por Andrea é conseguir o manuscrito do próximo livro de JK Rowling, que nem havia sido publicado, pois as filhas gêmeas de Miranda não estavam mais agüentando de curiosidade quanto ao próximo livro da série Harry Potter. Com isso, Andrea vai conquistando Miranda, adiantando os pedidos de Miranda. Antes que ela exija ou reclame da falta de algo, Andrea diz que tudo já está resolvido e da melhor maneira. Quando entrega a cópia do manuscrito à Miranda, Andrea já havia enviado duas cópias para as meninas, devidamente encadernadas, para que se parecessem com um livro.
No começo, Andrea se faz de difícil, e até faz ironia de como os funcionários da revista se comportam. Mas acaba se encaixando nesse estilo de vida para conseguir ficar no cargo. O celular de Andrea toca a todo o momento para resolver as solicitações de Miranda. São todas as 24 horas do dia, atormentando sua vida pessoal, escravizando-a. Andrea começa a abandonar sua família, seu namorado e amigos. Quando aparece atrasada no encontro semanal com um casal de amigos e seu namorado, chega com vários brindes de marcas famosas, que Miranda não aceitou. Mas logo tem que sair, pois Miranda precisa dela.
Num encontro com o pai, que faz uma viagem para visitá-la, ele pondera que a filha está muito estressada e que deveria analisar se esse esforço valerá para a sua carreira profissional. Todos sabem que sua carreira nunca alavancaria assim, mas que Andrea acabaria sendo engolida pelo sistema imposto. No meio do jantar com o pai, ela tem que sair correndo para conseguir um vôo de Miami para Nova York para Miranda, mas todos os vôos estão cancelados por causa de um furacão. Andrea nada consegue e Miranda a culpa por isso.
Andrea sente-se humilhada e inferiorizada por Miranda nunca valorizar seu trabalho. E quando algum pedido seu não é atendido, ela agride Andrea moralmente.
Então, um produtor da revista resolve dar uma ajuda para que ela “tenha um estilo”, e a revista cede roupas Prada, Gucci, etc para que Andrea trabalhe. Assim, a moça começa a freqüentar festas de personalidades, indo até para a Semana da Moda em Paris, junto com Miranda, desbancando Emily, que tinha se preparado durante o ano para esse evento. Conforme Andrea começa a mudar sua vida e sua maneira de ser, ela avança na carreira, ocupa o lugar da primeira assistente, mas perde suas relações familiares. Ela muda tanto que não é mais a mesma namorada ou amiga.
Miranda chega a comparar sua vida com o sucesso da carreira de Andrea. Afinal, Andrea acaba passando por cima de Emily ao ir para a França no lugar da outra. E realmente Andrea caminha no mesmo rumo. Porém, finalmente enxerga que não é isso que valoriza ou que acha eticamente correto. Abandona a revista e arruma um emprego num jornal de pequeno porte.
O poder da insensível Miranda mostra como ela é capaz de controlar todas as situações. Na possibilidade de ser substituída por uma mulher mais jovem, responsável pela Runway Magazine na Itália, ela articula secretamente: derruba seu produtor de um novo negócio como sócio e argumenta com o dono da Runway Magazine com uma lista de estilistas, fotógrafos e outros profissionais do ramo, que a acompanharão para onde quer que ela vá. A influência de Miranda é mais forte do que ele esperava. Sua arquiinimiga estava agora ocupada em outra função, não substituiria mais Miranda, que não foi demitida e, acima de tudo, estava com sua posição mais do que garantida. Miranda consegue o que quer e, para isso, passa por cima de qualquer um.
O culto às marcas e às celebridades fica bem evidente no mundo fashion, onde as pessoas superam sua integridade para conseguir qualquer coisa. É um jogo complexo de falsidades, manipulações e interesses doentios. A vida perde valor frente a grandes corporações. O ego é fortalecido por futilidades e necessidades impostas e variadas que aumentam o consumo e a ostentação.
O filme relata bem o quanto um profissional se esforça para conseguir criar uma carreira sólida, mas perde sua vida pessoal. É difícil manter esse equilíbrio quando você tem que escolher a empresa em detrimento da família. A escolha é forçada, pois não estar totalmente disponível significa, para muitas empresas, que você não está apto, e que é melhor economicamente demiti-lo e contratar outro para o seu lugar. Afinal, o desemprego é grande, e os cargos são muito disputados. O mesmo tema é mostrado no filme “Click”, que mostra que a vida pessoal não pode ser abandonada por sonhos profissionais, comumente ilusórios ou frustrantes. Não é apenas socialmente que somos devassados. A saúde também é degradada em ritmo alucinante, stress, noites maldormidas, alimentação rápida e de péssima qualidade.
Escolha se quer trabalhar no seu final de semana ou se quer que seu colega de trabalho execute e tenha as suas oportunidades. A empresa acaba incitando uma competitividade interna. Sua evolução depende de você derrubar alguém, de ser melhor que seu colega, passar por cima de sua ética, família, saúde, de você mesmo.