Cida Zientarski 28/01/2023
Tórrido, emocionante, absolutamente encantador
Yejide está casada há quatro anos com Akin, mas ainda não engravidou. A família do marido espera avidamente por uma criança, uma vez que a tradição local está bastante ligada à continuidade da linhagem familiar. Por isso, eles pressionam Akin a aceitar uma nova esposa, chamada Funmi, embora ele e Yejide tenham concordado em serem monogâmicos. A chegada da segunda mulher de Akin coloca Yejide no limite, e disposta a tudo para engravidar.
É uma leitura sensível e extremamente emocional. A escrita de Ayòbámi Adébáyò é precisa, sendo capaz de expressar as emoções dos personagens e torná-las parte do leitor. Por sua linguagem fluida e muitas vezes poética, devorei o livro em um misto de querer avançar pelas páginas e precisar interromper a leitura, sufocada por todas as dores a que o casal é submetido. A narrativa principal em primeira pessoa é de Yejide, mas há algumas também de Akin, além de alguns capítulos se passarem no futuro da narrativa, durante o ano de 2008. Com isso, a autora antecipa ao leitor parte do desfecho da história do casal, potencializando as angústias do que estamos lendo.
O cenário principal de Fique Comigo é a Nigéria dos anos 1980, de maneira que o contexto político da trama é bastante presente e importante na narrativa. De certa forma, Ayòbámi Adébáyò traça um paralelo entre a história individual do casal e a história do país naquele momento, afetado pela ditadura militar, como se ambos desenrolares acontecessem em ritmo e trajetórias semelhantes.
Embora o romance de Ayòbámi Adébáyò retrate uma realidade bastante diferente da brasileira — o que faz de Fique Comigo interessante por, também, nos aproximar de outra cultura —, a maneira de como os sentimentos dos personagens são trabalhados é universal. Acima de tudo, essa é uma história sobre os sacrifícios feitos em nome de um desejo maior, e o preço a ser pago quando se escolhe vivê-lo em detrimento de tudo mais. As relações familiares são trabalhadas com cuidado e sinceridade, e as reviravoltas do livro fazem dele ainda mais viciante, além de surpreendente. Antes da metade do romance, eu já não sabia mais o que esperar em termos de eventos.
No geral, Fique Comigo me devastou por tudo que Yejide e Akin são obrigados a viver, com seus três filhos, Olamide, Sesan e Rotimi. Porém, mais do que os acontecimentos em si, fui impactada pela escrita de Ayòbámi Adébáyò, capaz de tornar tudo ainda mais visceral e ao alcance do leitor. Finalizei o livro, sabendo que carregarei essa história comigo por ainda muito tempo.
"Além disso, o que seria do amor sem a verdade exagerada até o limite, sem as versões melhoradas de nós mesmos que apresentamos como se fossem as únicas que existem?"
"Mas as maiores mentiras são na maioria das vezes as que contamos a nós mesmos."