gabriel 01/08/2023
Estruturalismo e raça
Sinceramente, não gostei muito desse livro não. A tese principal dele é de que o racismo é "estrutural" e o livro já começa com essa pegada. Mas eu senti que a tese nunca foi efetivamente abordada de frente em nenhum momento do trabalho, mas apenas repetida indefinidamente, sob as mais variadas formas.
Isso torna o livro uma incômoda "sinfonia de uma nota só". É como se fossem aquelas músicas que possuem um tema, e este tema é repetido em vários instrumentos e em diferentes tons e formas. Não ajuda também o fato de o livro ser no estilo acadêmico, com aquele tradicional "repeteco" de outros autores e citações a rodo (o que torna a leitura muito, muito chata).
Aqui talvez nem seja culpa do autor, mas uma exigência do seu tipo de trabalho. De qualquer maneira, acho que é chegada a hora de teóricos, intelectuais e similares, saírem um pouco deste vício e produzirem livros mais acessíveis ao grande público (e mais agradáveis de ler, se possível).
O grande problema, para mim, foi que a tese parte de um certo lugar em que "deveria ser óbvia por si só", e este é justamente o ponto a ser provado (ou, pelo menos, discutido). Mas não há discussão, pois o estruturalismo já é o pano de fundo. Ele já assume de antemão o que deveria provar.
O livro cresce quando entram questões econômicas (como o neoliberalismo) e aqui ele junta as pontas. Mas isso somente demonstra a fraqueza da tese. A economia fornece a estrutura (já disse um certo teórico aí de alguns séculos atrás), não a cultura. A cultura é fenômeno, não causa.
De qualquer maneira, o livro é cheio de informações interessantes, ainda que vistas sob a ótica "antiocidental" e "antirracional" que o seu autor insiste em pincelar, o que faz sobrar porrada para tudo quanto é lado. Aqui, sobrou até para o cogito cartesiano (visto como uma base para um certo "universalismo europeu" de caráter opressor), Hegel também roda por alguma observação racista infeliz (retirada do seu contexto), etc etc.
Acho este tipo de crítica bastante inoportuna, ainda mais num momento em que querem retirar a Filosofia das grades escolares, esta tradição do pensamento que é uma verdadeira arma, e pode ser um auxiliar na luta contra opressões e no desenvolvimento da crítica.
Sinto, então, que Almeida encontra o problema correto, mas aponta para os culpados errados. A cultura sofre ataques, o iluminismo sofre ataques, assim como a filosofia e a ciência; ignorando o progresso que estes proporcionaram.
Isso não nos isenta de criticar os exageros de todos eles, e os movimentos anti-iluministas também são interessantes. Achei que faltou dialética aí para o nosso autor, para incorporar a natureza contraditória destes termos.
É com um gosto amargo que termino esta resenha, constatando a brutalidade e a injustiça do Estado brasileiro, mais especificamente o Governo do Estado de São Paulo. Deixo aqui o meu humilde protesto contra as chacinas perpetuadas pela PM na cidade do Guarujá, neste julho/agosto de 2023.
Um livro importante, Almeida é o atual Ministro dos Direitos Humanos da atual gestão Lula e contém opiniões fortes, uma denúncia importante do racismo, mas para mim se engana com algumas das suas premissas e não desenvolve muito bem a ideia do racismo estrutural. De qualquer forma, indico a leitura.