Carous 09/11/2020As desvantagens de bater palma para maluco dançar... Depois da leitura de "The Guinevere Deception" não estava mais tão confiante de que gostaria dos livros da Kiersten White.
Em contrapartida, tenho fascínio por releituras e o interesse nesta me dava a desculpa que procurava para desencalhar a história de Mary Shelley da estante.
Primeiro pensei ter cometido um erro ao pular para esta leitura logo após terminar "Frankenstein".
Comparações são inevitáveis nesses casos, mas geralmente estou na mesma página que os autores que escrevem releituras, enxergo de onde eles tiram todas as alterações e compreendo os assuntos que eles decidem trazer à baila.
Por isso, eu fiquei confusa e me questionei o que li em "Frankenstein" quando Kiersten White fez uma modificação significante. Porque se uma coisa é clara na história original é o quanto o Juiz e Madame Frankenstein amam Elizabeth desde o momento em que põem os olhos nela. De verdade. De coração mesmo. Ela foi levada à casa deles para servir de companhia para Victor, mas era parte da família.
Nesta versão o senhor e senhora Frankenstein a veem mais como um brinquedo caro e grande que eles puderam comprar e dar para o filho do que como um ser humano, como a filha deles.
Não entendi a linha de raciocínio da autora, mas tive que seguir o embalo mesmo assim. Depois me acostumei, lógico. Mas fiquei chateada. Essa relação era a que mais admirava na história de Mary Shelley e, pra mim, mostrava o quanto os pais de Victor não tinham culpa pelo que o filho tinha virado.
Eu dei 5 estrelas, e defendo minha nota até o fim, mas não favoritei por esse mínimo detalhe (sei que é bobagem, mas é como me sinto.)
Elizabeth é uma personagem interessante. Ela é a protagonista que procuro há anos em livros- uma antagonista.
Seus pensamentos sinceros e crus me chocaram várias vezes e até cheguei a pensar que ela e Victor faziam o par ideal - dois psicopatas.
Ela não é boazinha, nem inocente, mas não é má. É calculista e ardilosa, mas ao longo da narrativa nota-se que é para garantir sua permanência na mansão e em alta conta aos olhos dos membros da família (imagino que deva ser exaustivo, eu ficava esgotada de ver todo o malabarismo que ela fazia, as diversas facetas que ela mostrava ao mundo para nunca ser desmascarada.)
Mas é uma garota que sabe como o mundo roda e como acompanhar o ritmo dele.
Mary é minha personagem preferida. Não sei bem por que gostei dela; ela é a mistura de Elizabeth e Justine e resultou em um meio-termo interessante. Funciona bem na história.
Justine, no entanto...
É irônico que não tenha simpatizado com ela quando conheço tantas pessoas iguais que são muito queridas para mim. Mas é uma personalidade que raramente funciona na literatura (a não ser que a história seja contada em primeira pessoa) pois fica unidimensional demais, rasa, morna. Na vida real, por mais que uma pessoa seja o retrato da doçura, amorosa com crianças, ela tem as falhas que a tornam humanas e atrativas.
Victor não é menos interessante que Elizabeth. Ele é fenomenal. Em "Frankenstein" a gente nota que ele é sociopata, mas isso fica nas entrelinhas (Mary Shelley não usa essas palavras nem vai por esse caminho, mas é isso que ele é). Kiersten White não apela para sutilezas.
Por isso fiquei angustiada com a idolatria de Elizabeth por Victor a todo momento, ignorando todos os sinais alarmantes da personalidade do amigo, mas ela pagou o preço, né? Nem fiquei surpresa quando ela se viu no buraco (metafórico) que tinha cavado.
Adorei neste universo tanto a versão original quanto a releitura coexistem - meio que me lembrou de "Drácula Apaixonado". Encarei como uma homenagem à Mary Shelley.
A edição da Plataforma 21 ficou fan-tás-ti-ca. O que é essa lombada exposta? Espero que o funcionário que sugeriu isso tenha recebido um bônus.
Suspeito que a tradução esteja correta, ainda que tenha captado uns erros de revisão aqui e ali.
Depois das primeiras 150 páginas o ritmo da história muda, mas do início ao fim ele é muito bom de ler.