@blogleiturasdiarias
14/01/2020Resenha | A Sombria Queda de Elizabeth FrankensteinMais uma vez Kiersten White soube ousar e trazer sua criatividade. A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein é uma releitura do grande clássico da Mary Shelley, que me encantou. A homenagem aos 200 anos foi primorosa.
Elizabeth Lavenza tem uma vida miserável. Com um dia-a-dia nada fácil para uma criança — sendo espancada e com escassez de comida recorrente — ela vê uma oportunidade de mudança de vida, quando a família Frankenstein a quer para fazer companhia ao seu instável filho, Victor Frankenstein. O problema é que para conseguir essa proeza, ela se tornará alguém completamente maleável, alguém que o agradaria. E dá certo. Ano após ano, a sua dependência está mais interligada ao fato de acalmar e entender Victor. Porém, seu conforto está em risco pelo fato dele ter saído de casa para estudar, sem previsão de volta. O que Elizabeth é capaz de suportar e fazer para sobreviver?
Em minha opinião, releituras é algo arriscado dentro da literatura porque é um estilo que pode dar certo, agradando, ou pode dar completamente errado. O desenvolvimento precisa trazer, na medida certa, o enredo original que foi baseado e o que será inovador. Com uma escrita voltada para o público jovem adulto, os elementos da narrativa nos prendem do início ao fim, o que faz a junção ter dado certo, felizmente. É um enredo cadenciado, que pode demorar a crescer — tendo uma longa introdução necessária para o entendimento do todo — deslanchando do meio para o final, o que é um ponto positivo.
Sobre os personagens, o que me conquistou foi o fato de termos a perspectiva feminina presente. Ganhando holofotes, Elizabeth é o elo principal de diversos acontecimentos e modificações ao longo da história. Conhecer e entender sua dependência a uma pessoa problemática, avistá-la se transformando em algo que não queria em função de alguém e posteriormente sua rendição, é interessante. Pelo fato da narrativa ser em seu ponto vista, conseguimos captar o que a levou tomar decisões equivocadas e que a torna "indiretamente" culpada de quem Victor ´é — e essa é uma das justificativas do elemento surpresa.
"Apesar de todos os meus esforços para aprender a ser o que os outros precisavam que eu fosse, eu não percebera que já era perfeitamente adequada para aquele hospício. Eu era exatamente quem queriam que eu fosso. Que a mão e o pai de Victor tinham me educado para ser. Quem Victor me criara para ser. Eu era uma prisioneira." pág. 285
Apesar de conhecermos o fim da obra original, Kiersten White trouxe sua singularidade, construindo grandes reviravoltas e descrições que nos deixam de queixo caído — mostrando seu estilo de trabalho diferenciado. Com um andamento acelerado do meio para o final, muitas perguntas elaboradas vão sendo respondidas. Abrilhanta termos um início, meio e fim bem pontuados e surpreendentes. Fora o grande mistério sendo resolvido de uma forma peculiar, ou melhor dizendo, com explicações que requer pensar na ambientação como um todo. Aliás, prepare-se para se manter em alto teor de tensão até o epílogo!
Preciso falar dos ares sombrios que o exemplar percorre, e necessários. A construção de um ser humano de cadáveres/corpos, o embate entre a vida e a morte traz essa ambientação para pano de fundo — junto do cenário vitoriano do início do século XIX. Acredito que era algo a ser imaginado nesse universo, então espere encontrar cenas que possam ser impactantes nesse sentido. Gostei do modo como foi abordado, e que novamente expôs as qualidades da escrita da autora.
De uma forma geral, super recomendado! Realmente me divertir realizando a leitura, ficando de boca aberta, me prendendo ao suspense gerado e a tudo que ocorria, sendo compatível ao grande clássico que é associado. Espere bastante aventura, coisas a descobrir e aquele quê reflexivo característico da obra de Frankenstein — que foi inclusive foi diversamente explorado.
Na parte física, a Plataforma 21 inovou. Fazendo a alusão da anatomia e tudo que envolve a ciência da criação de um "monstro", sua lombada diferenciada — que mostra a costura e a cola — é um chamariz. Temos o título em alto relevo, e não preciso nem dizer que a escolha da arte é bonita. Enfim, só elogios! A parte interna também tem seu charme com uma diagramação cheia de detalhes. Não encontrei erro de revisão ou ortográfico. Como falado anteriormente, a narrativa é feita pelo ponto de vista da Elizabeth em primeira pessoa.
"Eu amava Justine. Assim como amava Henry. Mas não amava ninguém como amava Victor, porque devia tudo a ele."
Estou me tornando fã da autora, e ficará para 2020 a leitura de outro livro dela — Caçadora, que inicia outra série dela. Espero que tenham gostado!
site:
http://diariasleituras.blogspot.com/2019/12/resenha-a-sombria-queda-de-elizabeth-frankenstein-kiersten-white-plataforma-21.html