AventureiroLiterário 07/02/2024
Trabalha com temas muito interessantes, mas a execução tem altos e baixos
"Krystallo - Jornadas para além das fronteiras" é o primeiro volume de uma trilogia de fantasia/ficção científica nacional e publicação independente do autor Raphael Fraemam. A trama principal gira em torno de governos corruptos e manipulação da população, fazendo paralelos com nossa própria realidade e se inspirando em diferentes modelos de governo. Essa premissa em que a aventura fantástica gira em torno é muito boa e a forma como Raphael a aborda é simplesmente a melhor coisa do livro.
Podemos facilmente comparar os sistemas de Econ, Opus e Cratia com os diversos governos capitalistas, socialistas e totalitários da história da humanidade. Nesse ponto, o autor também deixa claro que não quer passar nenhuma preferência política, pois faz questão de apresentar que em cada um dos governos apresentados na história existem problemas sociais óbvios. No mundo polarizado em que vivemos hoje em dia, mais do que nunca, esse tipo de tema é bem-vindo para ser explorado.
No que diz respeito ao universo e seus personagens, nota-se que é um mundo fantástico riquíssimo de cultura e sociedade. Existem inúmeras cidades, países e grupos de pessoas que agregam e servem para mostrar aos dois protagonistas principais que o mundo que eles conheciam no começo da história não representa mais do que 10% do todo. Mas, se por um lado essa riqueza de conteúdo é boa, existem alguns pontos negativos. Justamente por ter criado um universo muito repleto de conteúdo e querer mostrar desde esse primeiro livro a maior quantidade possível dele, senti que boa parte da história perde o rumo e se torna passagens de cenas cujo principal propósito é apresentar locais, sociedades, personagens e conflitos.
Isso acontece na jornada de ambos os protagonistas, mas achei muito mais gritante no caminho de Tomé, que passa de uma situação de tensão atrás da outra, durante um bom tempo. É legal ter essa apresentação de mundo conforme a história está andando, mas o excesso de entrada de personagens e situações de tensão sucessivas tiram um pouco do impacto e tornam a história inchada de informação.
Quando o livro entra na reta final e se encaminha para a sua conclusão, o ritmo melhora demais e fica super empolgante. Ponto positivo para Raphael por mostrar que nem tudo funciona da forma como gostaríamos e muitas das ações dos personagens resultam em consequências permanentes.
Os dois protagonistas, Tomé e Gray, não me conquistaram muito nesse primeiro livro, mas acredito que eles receberão melhorias nos próximos livros. Se tratando de dois adolescentes que conhecem muito pouco do mundo onde vivem e que são "arrastados" para a aventura, suas representações são condizentes. O elenco de secundários é bem diversificado e, embora não tenha amado todos eles, vários conseguiram me divertir. Algumas situações e ações de certos personagens exigiram um pouco de suspensão de descrença minha, mas nada que comprometesse a obra ao ponto de me tirar da história.
No geral, essa é uma boa obra de introdução, que tem seus defeitos, mas que entendo ser o primeiro livro do autor. Tenho plena confiança de que a experiência adquirida aqui vai impactar nas sequências e verei, não apenas essa história, como também a escrita de Raphael amadurecendo cada vez mais.
PS: Raphael, quando você ler isso, caso queira conversar mais a respeito, pode me chamar no privado e não terei problemas em detalhar mais alguns pontos tanto que gostei, quanto que não curti muito e não especifiquei nessa resenha mais generalista. 😉