spoiler visualizarAnaluz 05/05/2020
Passada a completa rejeição pelo filme lançado em 2018, decidi dar uma segunda chance a J.K. Rowling, dessa vez lendo o roteiro “original” (pois como ela mesma informa, é a última versão do material, já finalizado para a gravação).
Como já havia confirmado ao ler o primeiro livro da nova série, é realmente melhor ter a versão em roteiro em mãos para ter algumas informações. Pois bem, justamente por ser um roteiro, existem indicações de pensamentos de personagens que tornam evidentes as suas intenções, coisa que, infelizmente, não é passada no filme.
Informo que, nessa resenha, não me aterei a informações praticamente irrelevantes à trama, como nomes de personagens e de criaturas que, apesar de mencionados no roteiro, não nos são passados na película. Aqui, pontuarei características-chave da história.
1- QUEENIE
A primeira característica que me incomodou na nova história foi a virada de lado de Queenie. A doce e animada irmã de Tina, disposta a ajudar sempre, se mostra completamente descontrolada emocionalmente aqui.
Não vemos uma progressão entre o fim da trama anterior e o início dessa. Aqui, ela simplesmente enfeitiça seu (agora) namorado contra a vontade dele sempre que lhe convém, fica chateada quando ele se posiciona contra isso (com toda a razão), sai chorando pela rua ao descobrir que sua irmã mentiu (até aí tudo bem). O estopim do absurdo se revela quando ela “compra”, sem nem pestanejar, o discurso floreado de Grindewald. Mesmo quando a mesma já sabia que ele queria causar reformas no mundo bruxo que em nada favoreceriam os trouxas.
2- A CENA NO MAUSOLÉU
J. K. sempre foi boa ao nos entregar enredos e plot twists na série original de Harry Potter. Infelizmente, essa característica não se repete aqui.
A construção de um enredo que teria seu ápice de revelação na cena do mausoléu dos Lestrange falha miseravelmente, a meu ver. Consiste em uma série de revelações que, no fundo, levam a lugar nenhum, em nada influenciam no enredo de Creedence, e pior, em nada interessam o leitor ou espectador. Eu não sei vocês, mas eu não vi sentido em saber os respectivos passados de Yusuf Kama e de Leta Lestrange. Me passou a impressão de que faltou criatividade ou esforço para criar um enredo que realmente valesse a pena. E o pior é que a partir dessa cena, a história vai ladeira abaixo.
Apesar dos pesares, eu realmente gostei muito da cena do discurso de Grindewald, pois além de entendermos melhor sua ferramenta de coesão (a oralidade), podemos traçar um oposto com o já conhecido Voldemort. Enquanto Voldemort convencia pelo terror e ameaças a seus seguidores (aqueles que já haviam se aliado a ele em detrimento de ideais semelhantes), aqui, Grindewald reúne seus seguidores com a fala e a persuasão, tratando-os bem. Eu não sei se isso se dá por ser um estágio inicial de sua ascensão (onde ele realmente precisa angariar fiéis) e por conhecermos o lado mais decadente de Voldemort em sua fase final (pois bem me recordo de ele ser um jovem agradável nas cenas das horcruxes). Mas, no momento, eu não consigo imaginar Grindewald tratando ninguém da forma como Voldemort tratava a família Malfoy, por exemplo. E, bem, J.K. Rowling já afirmou que queria alguém com charme o suficiente para interpretar Grindewald (não que eu ache o Johnny Depp o seja).
2- MINERVA MCGONAGALL
Sabe aquela frase que diz que ou você morre como herói, ou vive o suficiente para se tornar vilão (obrigada, Batman, aliás). Isso, infelizmente, acontece aqui. J.K. fez aquilo que os fãs de Peter Jackson e George Lucas já criticavam em seus ídolos: mexeu em algo que não precisava ser mexido.
Claro que as suspeitas de que ela deu uma de Peter Jackson já vinham desde o anúncio da nova série de filmes. Afinal, 5 filmes assegurariam, no mínimo, mais 10 anos de franquia por vir. E todos nós nos questionamos: isso é realmente necessário?
Necessário não é, mas boa parte dos fãs vibrou com o primeiro filme, pois, além de ele nos levar de volta ao universo que ela criou e que é tão estimado por nós, a autora e roteirista estreante não mexeu em nada que já fosse canônico... até o momento.
A inserção de uma jovem Minerva McGonnagal como professora de Hogwarts nos tempos do Newt estudante e do Newt adulto decepcionou uma legião, já que a mesma não teria nem nascido em ambas as épocas, de acordo com o próprio site Pottermore (local com conteúdo extra, previamente desenvolvido pela autora como uma tentativa relativamente falha de inserir características novas e oficiais à sua, até então concluída, história).
A leitura deste volume confirma que sim, é a nossa Minerva que aparece aqui. Depois das reclamações acerca do anacronismo envolvido, J.K. e sua equipe tiveram uma ideia simples: apagar as informações sobre a data de nascimento de Minerva no Pottermore. Vemos aqui que ela mesma tem se perdido em seu próprio universo.
3- NICOLAU FLAMEL
Outro fan-service? Talvez. A inclusão inusitada de um personagem que até então só havia sido mencionado foi realmente interessante, ainda que sua participação tenha sido mal aproveitada. Mesmo assim, acredito que ele vá aparecer de forma mais relevante no futuro.
Afinal, o que é aquele livro onde ele se comunica com outras pessoas quando em situação de emergência? Trata-se de uma sociedade de combate ao estilo Ordem da Fênix?
4- A DESTRUIÇÃO DE PARIS
Eu sei que estamos lidando com um mundo mágico, onde praticamente tudo é possível. Mas a ideia de Paris sendo destruída ao fim do discurso de Grindewald simplesmente PORQUE SIM não é muito absurda?
Isso se dá na parte final da história, na conclusão do clímax, mais especificamente. Eu realmente tive a impressão de que, a partir daí, tudo acontece muito rápido e este fato em específico acabou por ficar sem explicação plausível...
Bom, essas foram as minhas considerações. Eu realmente não acredito que Creedence seja o irmão perdido de Dumbledore, já que seu pai (e detentor do sobrenome) foi preso e morreu em Azkaban após os ataques a Ariana.
Pelo menos é o que se sabe, não é?
Ou teria algo do passado da família que a engenhosa Rita Skeeter não conseguiu desvendar?