steph (@devaneiosdepapel) 07/07/2015Reparação - Ian McEwan[Resenha originalmente postada no blog Devaneios de Papel]
Já tinha ouvido falar bastante sobre este livro, do conceituado autor Ian McEwan. Sabia que ele tratava de arrependimento, culpa, amor e inocência. Fiquei naquela de "compro, não compro" por meses até encontrá-lo em um bom preço, e aí, quando chegou em casa, levei mais algum tempo para começar a ler. Acho que fiz certo, pois é um livro que requer do leitor alguns momentos de reflexão, sem pressa.
Briony é a personagem principal, uma menina de 13 anos que sonha em ser escritora. Como eu e ela temos este fator em comum, foi muito fácil me identificar com ela. Briony é sonhadora e esperta, mas mesmo assim, tem aquela ingenuidade das crianças, e esta ingenuidade é que a leva a cometer um crime e carregar a culpa por muitos e muitos anos.
Eu pensava que só a cena da fonte que seria a responsável pelos mal entendidos que fazem Briony se sentir culpada ao decorrer dos anos, mas não; são diversos acontecimentos que convergem para um enorme problema. Peças que se encaixam, e como temos uma visão do todo, é impossível não ficar um pouco apavorado pensando: "não, Briony, não é isso que você está pensando!". Eu fiquei louca de raiva quando vi a bola de neve que estava se formando, queria entrar no livro e dar uns tapas em cada personagem, haha. A gente se sente muito impotente, e acho que esta foi a intenção do autor.
O livro é dividido em três partes. Na primeira, o autor nos conta todos os acontecimentos da fatídica tarde de verão de 1935; na segunda, temos uma visão da guerra e na terceira, a conclusão e as consequências do que ocorreu na primeira parte.
Gostei muito do início do livro, mesmo não sendo muito fã de romances históricos. Este aqui não se passa há tantos anos, mas há descrições de roupas, arquitetura e costumes bem típicos da época. A narrativa é em terceira pessoa e o autor alterna os pontos de vista ao longo do livro, trazendo mais dinamismo e deixando a obra mais rica.
Lá pela metade da história, na segunda parte, eu travei um pouco. Isso porque somos levados meio de supetão ao auge da Segunda Guerra, e é um período muito dramático e pesado. Fiquei angustiada o tempo todo. Este desenvolvimento foi muito útil para preparar o leitor para o que viria a seguir, na conclusão da obra.
A terceira e última parte ainda trata bastante da guerra, porém de um ponto de vista um pouco diferente. Sofri bem mais, até cheguei a ficar com os olhos marejados. Não considero spoiler o que vou dizer agora, mas o que mais me emocionou foi pelo ponto de vista ser da Briony. Ela tem uma função importante durante a guerra e é muito triste vê-la tentando dar o seu melhor, todo o seu desespero em meio a uma situação que foge ao seu controle. Acredito que boa parte das frases de impacto são ditas durante esta terceira parte.
Ian foi bem ousado no desfecho de Reparação. Fugiu do clichê e trouxe um quê de realidade bem chocante. Tudo o que eu esperava que fosse acontecer, aconteceu o oposto. A mensagem que ficou comigo foi a de que nem sempre somos capazes de contornar e apagar nossos erros, mas o fato de termos consciência e nos arrependermos pode ser suficiente para que pelo menos tenhamos paz.
Não posso deixar de falar sobre os outros personagens apresentados na obra, que são tão tridimensionais quanto Briony: Robbie, Cecelia, Leon, Emily, Lola e tantos outros que foram muito bem escritos e verossímeis. Cada um deles tem um passado, dúvidas, anseios e defeitos. Até aqueles que pouco apareceram, soaram para mim como pessoas reais.
Foi muito gostoso acompanhar a trajetória de Briony; desde sua infância até a fase adulta. Acredito que o autor soube captar muito bem como é a mente de uma pessoa criativa, o tempo todo tendo ideias, imaginando cenários, desenvolvendo histórias. No final há uma metalinguagem sensacional, que a princípio me confundiu um pouco, mas depois fez todo o sentido. Mostra como o escritor é, de certa forma, um tipo de deus.
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