Carlos Eduardo 15/11/2019
Murakami sendo Murakami
Haruki Murakami talvez seja o escritor mais famoso do Japão. Suas obras foram traduzidas para mais de 50 idiomas e, nos últimos anos, tem sido cotado para ganhar o prêmio nobel de literatura. Seus livros são marcados pela escrita fluida e envolvente. O autor possui uma habilidade incrível de criar ambientes absolutamente imersivos. Ler Murakami é como estar dentro de um sono alucinante em que a realidade se mistura com a fantasia e os acontecimentos aparentemente não tem sentido.
Para mim, a leitura em geral é como um cantinho de refúgio, onde posso dar um tempo da realidade e me transportar para um mundo de imaginação que é só meu e Murakami tem o poder de potencializar isso ao máximo. Sinto um conforto incrível quando estou lendo um de seus livros, mesmo que suas histórias muitas vezes sejam absurdamente esquisitas.
Em “O assassinato do comendador”, o protagonista, um jovem pintor de retratos e cujo nome não é revelado, se vê diante de um divórcio inesperado. Em um belo dia sua esposa decide que não quer mais viver com ele e inexplicavelmente anuncia a separação. O jovem, então, resolve viajar de carro pelo Japão durante um tempo, até que decide ir morar na casa do falecido pintor de arte japonesa Tomohiko Amada, pai de um amigo.
Ao vasculhar o sótão da casa, o protagonista descobre uma obra inédita de Amada chamada justamente de “O assassinato do Comendador”. A partir daí as coisas começam a ficar estranhas e a fecunda imaginação de Murakami toma conta do enredo. Monges budistas enclausurados em covas profundas, um guizo tocando no meio da noite, um vizinho misterioso e enigmático, um motorista de um Subaru Forrest indefinido, e, claro, um comendador, passam a fazer parte da vida do jovem pintor.
Além da típica fantasia, diversos elementos, já carimbados em outros obras, também aparecem aqui, tais como: gatos, orelhas, sexo descrito de forma minuciosa, música e alguns elementos da cultura pop. Gostei bastante das descrições sobre pinturas, em especial, a abordagem sobre a arte japonesa Nihonga.
Enfim, Murakami pode não agradar todo mundo por causa do surrealismo aparentemente sem explicação, mas se você abandonar sua mente cartesiana e se deixar levar pela atmosfera envolvente, como eu o faço, com certeza, será uma ótima experiência literária.