O assassinato do comendador, volume 1

O assassinato do comendador, volume 1 Haruki Murakami




Resenhas - O assassinato do comendador - Vol. 1


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Debyh 27/08/2019

Eu lembro de ter lido algo do Murakami há muito tempo, me lembrava bem pouco na verdade de como a escrita dele era. Só tinha aquela impressão de que na época que li eu tinha gostado da escrita dele e que tinha sido muito bom o livro, e eu estava certa. Murakami escreve bem pra caramba. Essa coisa de misturar a realidade com elementos de fantasia é algo que geralmente os autores tendem a pender para um dos lados, porém eu acho que ele encontrou o equilíbrio. É difícil descrever, mas seria algo como se ao mesmo tempo que tínhamos o dia a dia do pintor outras coisas que aconteciam com ele pareciam palpáveis, mesmo não sendo.
Depois do seu divórcio um pintor se muda para uma casa isolada tentando novamente encontrar a inspiração para suas obras. Nesta sua nova casa ele busca inspiração tentando fazer novas coisas, mas ao mesmo tempo ainda está preso ao que aconteceu com a sua ex-mulher e o abandono que sofreu. Então ele se encontra com um homem misterioso que se aproxima dele por uma razão envolvendo uma nova pintura, porém as coisas a sua volta começam a ficar cada vez mais estranhas.
continua ► http://euinsisto.com.br/o-assassinato-do-comendador-o-surgimento-da-idea-1-haruki-murakami/

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@retratodaleitora 26/07/2019

Depois de ter me aventurado nos contos do escritor japonês Haruki Murakami, decidi que estava mais que na hora de ler um de seus romances, e fiquei muito feliz por essa vontade ter coincidindo com o envio deste novo livro do autor para mim pela editora.

Aqui conhecemos um pintor de retratos que resolve fazer pelo Japão uma viagem de autoconhecimento após o fim abrupto de seu casamento. Depois de meses na estrada ele se hospeda a convite de um amigo na casa do célebre artista Tomohiko Amada, localizada em um lugar distante, no meio das montanhas. Ali o protagonista se dedica à pintura, tentando encontrar um novo estilo que se adeque melhor a sua nova realidade.

Neste novo ambiente, ele encontra escondido no sótão um quadro de Amada intitulado O Assassinato do Comendador, nunca antes visto, e a pintura o deixa fascinado. Mas ao descobrir tal obra, coisas (e criaturas) estranhas aparecem, e uma nova amizade com um misterioso vizinho perturba sua calma rotina, o levando a refletir sobre os acontecimentos que o levaram até ali.

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Esse livro começa bem, mas o desenvolvimento dessa trama foi no mínimo lento. Passei toda a leitura esperando algo surpreende, um plot twist, mas o sentimento foi que nessas 360 páginas de narrativa em primeira pessoa o autor correu e não chegou a lugar algum.

Por ser um primeiro volume de não se sabe quantos, entendo ter sido mais introdutório, mas de toda forma a sensação é a mesma: nada de extraordinário acontece aqui, e o final aberto obriga esta curiosa leitora que vos escreve a aguardar o segundo livro torcendo muito para ser surpreendida, como aconteceu com os contos do Murakami. Ah, tem muito sobre arte no livro, o que é sempre interessante!

site: https://www.instagram.com/p/B0UDzKDDtG-/
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Fernando.Macena 23/06/2019

Bom mas aquém do esperado
Murakami tem o mérito de sua obra 'quebrar' com a jornada do herói que estamos acostumados a ver em obras de ficção/fantasia. No padrão, o/a protagonista vive uma vida comum e, repentinamente, é jogado/a em uma situação além da sua realidade em que toda a dinâmica de sua vida muda.
Na obra de Murakami, cotidiano e fantasia nunca se separam de forma que um evento completamente fora da caixa pode acontecer e na cena seguinte as personagens estão simplesmente cozinhando ou fazendo compras.
Em 'O Assassinato do Comendador', esta característica do escritor está presente junto ao seu estilo de escrita já estabelecido repleto de analogias, referências à música clássica e um sempre notório teor sexual. Em minha visão, a obra tem características semelhantes à 1Q84, sua obra mais famosa, mas a trama não tem o mesmo brilho.
Acompanhamos o drama do protagonista sofrendo com o recente divórcio de sua esposa. Sua dor com a perda sem entender bem os motivos rende alguns dos melhores momentos da obra como em sua divagação sobre divórcio: "É uma sensação estranha, como se você andasse tranquilamente por uma rua, achando que é o caminho certo, e de repente o chão desaparece debaixo de seus pés. Então você continua dando um passo depois do outro, no meio do vazio, sem direção, sem nada..."
Já o conteúdo fantástico da obra não possui muito brilho. As motivações do artista Tomohiko Amada que o protagonista busca compreender, as suspeitas sobre o vizinho Menshiki, e o misterioso som de guizo que é escutado na casa em que habita são tramas em que o autor sugere em que há um aspecto de perigo que não se consuma ou, que no mínimo, ficou guardado para o segundo volume.
No fim das contas, todo o volume soa como um primeiro capítulo introdutório que pode se justificar como parte do estilo do autor mas que, no fim das contas, deixa um gosto de que faltou algo a ser desenvolvido. Porém, se o leitor admirar o estilo de escrita de Murakami como eu, a obra pode garantir alguns bons momentos.
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Trix 16/03/2019

Sentimentos conflitantes
Assim como toda obra que eu li do Murakami, a história é cheia de coisas intrigantes e que despertam sentimentos intensos porém não tão facilmente identificáveis, bem próximos de um universo onírico. Assim como nos sonhos, as emoções são sentidas e muitas vezes se sobrepõe ao entendimento. Não que o livro seja difícil de entender - pelo contrário, a narrativa e a escrita do autor, como sempre, são bastante prazerosas. Os capítulos curtos e bem estruturados também te fazem devorar o livro rapidamente. Mas constantemente em seus livros muitos símbolos acabam ficando sem explicações, residindo apenas no campo dos sentimentos. Fato que eu, particularmente, gostava muito nos meus primeiros livros do autor, mas confesso que agora tem me cansado um pouco. Claro, ainda teremos o segundo volume, mas tem algumas coisas no enredo que temo que ficarão com esse status. Vamos ver.

Pessoalmente, achei o livro bem arrastado, assim como a trilogia 1Q84 (que poderia ter durado elegantemente um volume só). Só que diferentemente de 1Q84, na minha opinião, considero mais interessante a narrativa restrita em um personagem central, assim como os próprios personagens relacionados. E os elementos fantásticos também são bem mais plausíveis, mas sem perder a mágica (o que considero um trunfo).

Resumindo, foi uma leitura estruturalmente bem agradável (e rica em boas referências, como é de praxe nas obras do Murakami). Mas, acho que só vou poder dizer se realmente gostei do conteúdo quando sair o próximo volume.
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@gataleitora 28/02/2019

" As coisas já vinham sendo traçadas em linhas invisíveis para mim. "
Quem acompanha minha trajetória literária sabe como sou apaixonadinha por romances florzinha e livros colegiais,mas este ano inclui em minha resoluções de ano novo, ler livros que se enquadram totalmente fora deste meu perfil. Livros que espero me tirem da zona do conforto e até de uma certa apatia que tenho ao ler histórias às vezes bem parecidas.

Enfim...

A cultura japonesa sempre me fascinou mesmo sem entender muito de suas simbologias. Histórias como a Viagem de Shihiro ou Your Name me desafiaram a ir além do óbvio então quando me deparei com O Assassinato do Comendador, respirei fundo e me arrisquei na leitura.

O Assassinato do Comendador: o Surgimento da IDEA trouxe para mim um universo rico em cultura seja na música, nas artes plásticas, na arquitetura ou nas referências literárias.

Nosso protagonista é um homem sem identidade e perdido que se viu sem chão ao ser abandonado pela esposa por outro depois de um casamento de seis anos que para ele era feliz e tranquilo. Ele se vê sem rumo,abandona o emprego de retratista em Tóquio e começa uma viagem pelo Japão para tentar fugir das lembranças e da crise que essa situação o colocou. Obviamente, não é tão simples fugir das mémorias ruins imagine fugir de memórias que ele considera boas e pode-se dizer felizes .

" Nunca fui tão grato por dirigir um carro manual como naquele dia, porque,em meio aos pensamentos sobre a traição de minha esposa, eu era obrigado a usar minhas mãos e meus pés em ações concretas."

Depois de um tempo vagando sem rumo, ele aceita a oferta de um amigo de passar uma temporada na casa isolada do pai deste amigo ( o renomado artista plástico japonês, Tomohiko Amada que está internado numa clínica para cuidar de Alzheimer) no meio da montanhas e aos poucos entre lembranças e angústias, ele vai se redescobrindo, redescobrindo seu gosto pela pintura e seu amor pela vida sem a esposa,mesmo ainda carregando pensamentos sobre porquê seu casamento não deu certo, porquê ele não foi suficiente para a esposa, porquê ele não percebeu que a estava perdendo.

Em meio a isso, ele encontra um quadro abandonado entitulado O Assassinato do Comendador e diferente do estilo do pintor dono da casa com uma imagem que o lembra da ópera de Mozart Don Giovani e o deixa intrigado sobre o motivo deste quadro estar escondido e sobre a época em que Tomohiko Amada o pintou.

" Um homem vitorioso, outro vencido. Um homem que fere, outro qque é ferido."

Junto com o quadro, a amizade com o misterioso Watasu Menshiki e o surgimento da IDEA, nosso protagonista irá se deparar com situações inusitadas, aparentemente confusas e carregadas de fantasia.

Apesar de achar que em alguns momentos o escritor foi um pouco repetitivo, circulando sempre no ponto da traição e do casamento desfeito, entendi depois o intuito dele de realçar bastante a dor do protagonista e a forma como sua vida mudou drasticamente.

Um detalhe que achei super interessante é que nos casos do livro são as mulheres que traem e querem sexo casual. Algo que de certa forma me surpreendeu um pouco tamanho foi o destaque que o escritor deu neste sentido e já estou com umas suposições sobre a esposa que espero que sejam esclarecidas no livro 2.

A capa é fantástica, passando bem a mensagem do livro da surpresa e choque de se sentir apunhalado.

4/5 estrelas


site: https://www.gataleitora.com/
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Jeff.Rodrigues 24/02/2019

Resenha publicada no Leitor Compulsivo
Estreando na leitura da cultuada obra de Haruki Murakami confesso que tive uma mescla de sentimentos que entraram bem em conflito entre si. Em um primeiro momento, foi difícil vislumbrar toda a densidade por trás do enredo, aparentemente simples, de O Assassinato do Comendador. A partir do avanço da leitura e aproximação dos momentos de maior clímax (embora o livro não tenha um desfecho, pois há um volume dois a caminho) meu envolvimento foi ficando maior e simplesmente eu não conseguia mais desgrudar os olhos do livro. Junto com o personagem, eu precisava saber mais.

O Assassinato do Comendador é uma obra carregada de uma nostalgia com o amor ao mesmo tempo que mergulho fundo na solidão humana. Em linhas gerais, o protagonista, que nunca tem seu nome revelado, é um pintor de retratos por encomenda que vê seu casamento desmoronar. Pego de surpresa pelo fim de uma relação que ele considerava estável, decide viajar sem rumo pelo país até aceitar uma oferta e passar a morar na casa que pertenceu ao famoso pintor Tomohiko Amada, pai de seu amigo. Ali, ele descobre uma misteriosa pintura retratando um assassinato, e paralelo a isso recebe a oferta irrecusável financeiramente para pintar o retrato de um cliente misterioso e estranho, chamado Wataru Menshiki. Com base nesse super resumão vai se desenrolar uma trama bem envolvente com muitas doses de mistério e investigação.

A rotina do pintor protagonista narrada no livro se divide em rememorar lembranças do passado, buscar se encontrar no universo da pintura – ele está decidido a não mais pintar retratos, casos amorosos dispersos com boas doses de sexo, e o mistério envolvendo de um lado o quadro retratando o assassinato, e de outro o cliente Wataru. Tudo isso narrado pelo próprio protagonista.

O que mais chama a atenção na obra, que pode parecer confusa pela forma simples como resumi sem enredo, é a musicalidade que jorra de suas páginas. Apreciador de óperas e músicas clássicas, o protagonista a todo momento está ouvindo alguma e compartilhando suas impressões. Existe também, e de forma clara, uma troca cultural entre a bagagem oriental que é cenário do livro com as experiências ocidentais tanto do protagonista quanto do pintor Tomohiko. Em O Assassinato do Comendador, os costumes japoneses esbarram em conceitos ocidentais e encontram eco em mundos fantásticos a partir de histórias e lendas. Posso estar equivocado na comparação, mas diria que temos bons ecos do realismo fantástico sul-americano neste trabalho de Murakami.

Para ser lido sem pressa, O Assassinato do Comendador não me encantou a ponto de encher os olhos, mas me envolveu de uma forma como poucos livros conseguiram. No aguardo do segundo volume, que provavelmente vai clarear muito do meu entendimento da história, ficou um bom gostinho para conhecer outras publicações e desvendar melhor o trabalho do autor.

site: http://leitorcompulsivo.com.br/2019/01/07/resenha-o-assassinato-do-comendador-vol-01-haruki-murakami/
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Karini.Couto 11/01/2019

Olá. Hoje a resenha é sobre um livro de Haruki Murakami, um autor que eu conheci quando fui presentear uma amiga secreta e não resisti a ler o livro e então me apaixonei pela escrita do autor.
Para quem nunca ouviu falar do autor.. Vocês não sabem o que estão perdendo! Simples assim! Uma história que trás um misto de sensações que não consigo descrever em sua totalidade.

Neste volume, conheceremos um pintor de trinta e seis anos, nome?, desconhecido. Este pintor é especialista em retratos e sua vida é comum até que de repente ele é pego de surpresa quando se vê abandonado por sua esposa de seis anos sem mais nem menos. Ele acreditava estar vivendo uma vida estável ao lado de Yuzu e até mesmo feliz, porém parece que não era bem assim. Nosso protagonista sem entender o que tinha acontecido, dá um tempo em uma viagem, até que quando retorna vai viver em outro local ofertado por um amigo. Um lugar isolado no alto de uma montanha e nosso protagonista vê nisso uma chance de se conectar com a pintura e poder produzir um trabalho diferente daquele que vinha produzindo. Afinal, um lugar assim só poderia servir de inspiração. Mas nada sai como o esperado e a inspiração que tanto acreditava que encontraria não vem, e meses depois ele se vê do mesmo de volta ao ponto de início, sem nenhuma produção, quando ele acha uma pintura do antigo morador da residência, que também era um pintor, porém conhecido, mas que o destino fez experimentar uma vida ingrata com o surgimento do Alzheimer e a vida em um asilo. A pintura encontrada tem o nome de "O Assassinato do Comendador". Essa pintura não faz parte da coleção pública de Tomohiko (o pintor famoso) e essa pintura soa fascinante, pois é diferente de tudo que Tomohiko costumava pintar, as imagens de dois homens em o que parece ser um duelo mortal, onde o mais velho deles acaba morto é hipnotizante, realista e parece saltar da tela. Isso mantém nosso protagonista em uma espécie de adoração e êxtase.

Em uma observação mais atenta percebemos junto com nosso protagonista que as representações no quadro não condiz com o título, uma vez que o mesmo retrata uma época que não tem muita relação com o titulo, porém o quadro em questão pode ter muito mais história do que se imagina em um primeiro momento, remetendo ao período nazista e a podemos perceber elementos históricos juntamente com a escrita maravilhosa do autor.

A história é rica, intrigante e interessante. Muito bem ambientada e perfeitamente detalhada e entrelaçada. Recomendo demais, não apenas esse livro, mas todos os outros do autor.

Beijos.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 20/12/2018

Haruki Murakami - O Assassinato do Comendador - Vol. 1
Editora Alfaguara - 360 Páginas - Tradução: Rita Kohl - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Lançamento: 23/11/2018.

Os leitores de Haruki Murakami certamente não irão se decepcionar com este seu novo romance que volta a abordar temas recorrentes de obras anteriores, tais como a solidão e inadaptação dos personagens à rigidez de costumes da sociedade japonesa, mundos paralelos repletos de fantasia e mistério que se chocam com a realidade e a já tradicional habilidade do autor em mesclar, com muito bom gosto, diga-se de passagem, referências culturais (principalmente música e literatura) do ocidente e oriente, fazendo de seus livros, a cada novo lançamento, um fenômeno de vendas em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Murakami levou quatro anos para terminar este livro, depois de seu último romance, O incolor Tsukuro Tazaki e seus anos de peregrinação. A estratégia de marketing da editora no Japão manteve o conteúdo em segredo absoluto até o lançamento oficial, que ocorreu em fevereiro de 2017, quando se conhecia apenas os títulos em japonês (“Kishidancho Goroshi”) e inglês (“Killing Commendatore”), tendo sido impressas 650.000 cópias de cada um dos dois volumes. Hoje, menos de dois anos depois, a obra já conta com traduções disponíveis publicadas em inglês, francês, alemão, espanhol e português, juntando-se a uma extensa bibliografia que já totaliza 14 romances traduzidos para mais de 50 idiomas.

O livro é narrado retrospectivamente em primeira pessoa por um pintor de 36 anos, cujo nome não é informado. Especializado em retratos por encomenda, ele leva uma vida simples e acomodada em Tóquio, quando é repentinamente abandonado pela esposa, Yuzu, sem maiores explicações, depois de um casamento de seis anos que julgava ser feliz. Desiludido com a separação, ele parte para uma viagem solitária de carro pelo norte do Japão. Depois de algum tempo, decide retornar e aceita a oferta de um amigo para morar na casa que havia sido de seu pai, um renomado pintor chamado Tomohiko Amada, internado em um asilo devido a complicações do mal de Alzheimer. A localização da casa é bastante peculiar, no alto de uma montanha, próxima à cidade de Odawara, região de Kanagawa, mas ele imagina que terá tempo e disposição de se dedicar a um tipo de pintura menos comercial neste ambiente isolado.

"De maio daquele ano até o começo do ano seguinte, morei no alto de uma montanha, nas imediações de um vale estreito. Durante o verão, chovia sem parar dentro do vale, mas fora quase sempre fazia sol. Esse fenômeno acontecia por conta do vento sudoeste que soprava do mar, trazendo as nuvens carregadas para dentro do vale. Quando essas nuvens subiam ao longo das encostas, faziam chover. Como a casa ficava bem na fronteira do vale, costumava bater sol na frente enquanto caía uma chuva pesada no jardim dos fundos. No começo, eu achava aquilo bem estranho, mas com o tempo me habituei, até que passei a achar que era muito natural." (Pág. 11)

Depois de alguns meses vivendo sozinho na casa e sem conseguir inspiração para o trabalho, o protagonista encontra uma antiga pintura de Tomohiko Amada escondida no interior de um sótão secreto, intitulada O assassinato do Comendador. Ele fica fascinado pelo quadro, não mencionado em nenhum dos catálogos anteriores do pintor que costumava trabalhar com pinturas a óleo no estilo ocidental em sua juventude mas, depois da Segunda Grande Guerra, havia passado a pintar apenas conforme a escola nihon-ga, utilizando técnica e materiais tradicionais japoneses com temas serenos, normalmente reproduções figurativas da natureza. Neste quadro, entretanto, dois homens, um jovem, outro velho, se enfrentavam com pesadas espadas antigas em um violento duelo no qual o jovem acaba de desferir um golpe mortal no peito do velho em uma cena realista e sangrenta.

Na tentativa de entender a razão do título do quadro, que é inconsistente com os trajes e o período histórico retratado no estilo nihon-ga, o protagonista supõe que a inspiração vem da ópera Don Giovanni de Mozart, na qual o personagem "Il commendatore" é assassinado pelo jovem Don Juan. Um mistério que pode ter relação com o período em que Tomohiko Amada viveu em Viena, de 1936 a 1939, presenciando a ascensão do nazismo na Europa e eventos históricos importantes como a anexação da Áustria pela Alemanha em 1938, conhecido como Anschluss. As referências históricas são utilizadas no contexto ficcional assim como em outro famoso romance de Murakami, Crônica do Pássaro de Corda.

Durante o impasse criativo do protagonista, surge uma proposta irrecusável em termos financeiros de um rico e estranho cliente, Wataru Menshiki, que faz a encomenda de um retrato. No decorrer da trama ficamos sabendo que este personagem terá um papel central no romance. Ele mora em uma mansão que pode ser avistada do outro lado do vale e coisas surpreendentes passam a ocorrer depois que o nosso ingênuo e solitário narrador, ainda apaixonado pela ex-esposa, aceita o trabalho. Segundo uma das raras entrevistas de Haruki Murakami, este romance é uma homenagem ao Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald, seria Wataru Menshki uma releitura de Gatsby? Bem, nada é tão simples nas citações e metáforas de Murakami.

"Voltei os olhos para a mansão branca, na montanha oposta, antes de olhar outra vez para Menshiki. Provavelmente era o homem que aparecia quase todas as noites no terraço daquela grandiosa casa. Analisando bem, dava para ver que sua compleição e seus movimentos batiam perfeitamente com aquela silhueta. Eu não saberia dizer quantos anos ele tinha. Pelo cabelo branco como a neve, poderia estar no final dos cinquenta ou no começo dos sessenta. Porém, a pele era firme e lustrosa, sem uma única ruga no rosto, e os olhos mantinham o brilho de alguém ainda na faixa dos trinta. Por isso, era difícil reunir todos esses elementos e calcular sua idade. Se me dissessem que ele tinha qualquer idade entre quarenta e cinco e sessenta anos, eu acreditaria." (Pág. 90)

Quando um estranho ruído, semelhante ao som de um sino ou guizo, passa a ser ouvido de forma intermitente durante as madrugadas, assim como outros eventos fantásticos na casa e suas imediações, é Wataru Menshiki quem alerta: "talvez existam momentos em que perdemos de vista a noção entre o que é real e o que não é. Às vezes parece que essa linha divisória está em movimento constante, como uma fronteira que muda a cada dia. Nessas horas, é preciso prestar muita atenção. Caso contrário, você pode não saber mais de que lado está." O nosso protagonista é arrastado contra a sua vontade por esta série de eventos e descobre que, como aconselha outro personagem, "Tem coisas que é melhor não saber."

"Deitado no escuro, me perguntei por que havia acordado àquela hora. Era uma noite qualquer. A lua, quase cheia, pairava no céu como um gigantesco e redondo espelho. Toda a paisagem estava esbranquiçada, como se tivesse recebido um banho de cal. Fora isso, não notei nada incomum. Sentei na cama e passei algum tempo escutando com atenção, até entender o que havia de estranho. 'Tudo estava quieto demais'. O silêncio era excessivamente profundo. Não se ouvia nem sequer um inseto, apesar de ser uma noite de outono. Ali, no meio das montanhas, os insetos começavam seu coro ensurdecedor assim que o sol se punha e continuavam o alarido noite adentro (aliás, fiquei surpreso com isso, pois antes de viver na natureza eu achava que eles só cantavam no começo da noite), fazendo tanto barulho que pareciam ter dominado o mundo. Porém, quando acordei naquela noite, não escutei nem um único inseto, o que era bem estranho. [...] De repente, ouvi um som desconhecido. Ou pelo menos tive essa impressão. Era algo muito tênue. Se os insetos estivessem cantando como de costume, com certeza eu não teria escutado. Prendi a respiração e agucei os ouvidos. Não era o som de nenhum inseto, nem da natureza, e sim algum tipo de instrumento ou objeto. Um som metálico, 'tlim-tlim'. Como um guizo." (Págs. 131-132)

Um dos temas preferidos de Murakami, o sentimento nostálgico do amor romântico, é utilizado novamente neste romance, apesar do sexo sem compromisso estar mais presente do que em outros livros do autor, com cenas explícitas das relações do protagonista com uma mulher casada que o faz esquecer da ex-esposa durante eventuais encontros na casa nas montanhas, tanto que o livro foi censurado recentemente em uma polêmica decisão das autoridades em Hong Kong por ser enquadrado na categoria "indecente" e permitida a venda nas livrarias locais apenas com uma tarja de "proibido para menores de 18 anos", um exagero na minha opinião.

Como sempre, a "trilha sonora" do livro é muito refinada, tanto em termos de música clássica, que apresenta seleções de óperas e quartetos de cordas (Mendelssohn, Mozart, Schubert), quanto na escolha de mestres do Jazz (Thelonious Monk e Modern Jazz Quartet, por exemplo). A arquitetura, arte e a pintura também, obviamente, são elementos centrais na trama, além de citações a obras de literatura de Franz Kafka e Lewis Carroll. Enfim, um autêntico Haruki Murakami recomendado para ler durante as férias de verão, que deverá agradar aos já iniciados na obra do autor assim como aos iniciantes.
Márcio_MX 20/12/2018minha estante
Ótima resenha, Alexandre.
Você tem informação de quando o volume 2 deve ser lançado aqui no Brasil?


Alexandre Kovacs / Mundo de K 21/12/2018minha estante
Márcio, alguma data remota no ano que vem, o problema de se ler uma sequência ainda não totalmente publicada. :)


mai 01/01/2019minha estante
Nossa, eu tô muito agoniada pra ler o segundo volume! Ótima resenha ?


Alexandre Kovacs / Mundo de K 05/01/2019minha estante
Obrigado, agora só resta esperar o lançamento do segundo volume!




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