@aprendilendo_ 09/10/2022
Resenha de Anna Karênina
De Otelo, de Shakespeare, a Dom Casmurro, de Machado de Assis, o adultério sempre foi um dos temas mais abordados e marcantes da literatura mundial, sendo responsável por trazer consigo uma diversidade de histórias tristes e personagens conturbados. Nesse sentido, quando a discussão é sobre os grandes clássicos da temática, poucas são as obras capazes de rivalizar com a monumental Anna Karênina, de Liev Tolstói. Publicado entre os anos de 1875 e 1877 na forma de folhetins e depois concretizado em um livro, o clássico do grande escritor russo é considerado uma das narrativas mais complexas e profundas da história.
Sobre a trama, quando Dolly Oblonsky descobre a traição de Stepan, seu marido, ela toma a decisão de se divorciar até que Anna, irmã de Stepan, é chamada para acalmar os ânimos do casal. No entanto, quando Anna, já casada e com um filho, conhece o militar Vronsky no período de estadia na casa do irmão, tem-se o início de uma intensa paixão entre os dois. A partir disso, acompanha-se os dias dos diversos personagens afetados direta e indiretamente pelo controverso caso de amor.
Com uma escrita serena e descritiva, o livro é narrado em terceira pessoa e intercala as histórias de diversos personagens, tendo, como principais, Anna e Konstantin Levin, grande amigo de Stepan. Nesse contexto, a forma sútil com que a história é desenvolvida é essencial para uma construção singular de personagens, a qual explora com perfeição as complexidades e os dilemas do ser-humano em seu cotidiano. Assim, apesar do desenvolvimento um tanto quanto devagar, o livro conquista o leitor justamente pela maneira como o imerge nos sentimentos e reflexões extremamente reais descritas na obra, as quais vão ganhando contorno aos poucos até alcançar o seu ápice.
Como consequência da estrutura narrativa e do intenso foco nos diálogos e atitudes dos personagens, a história em si acaba por se tornar tão somente um elemento secundário. Dessa forma, com um tom novelesco, os acontecimentos relevantes na trama são pontuais e acontecem apenas depois de um grande desenvolvimento emocional de cada personagem. Tal característica torna a obra mais propícia para uma leitura vagarosa e calma durante os dias, o que pode vir a decepcionar aqueles em busca de uma história repleta de grandes eventos e aventuras. Isso, no entanto, não traz ao leitor uma experiência ruim ou cansativa, mas tão somente uma experiência literária diferente e que demanda muito mais concentração e paciência para a devida imersão.
Anna Karenina, de Liev Tolstói, traz consigo uma das grandes construções de personagens da literatura mundial, com sujeitos intensos e extremamente complexos, os quais apresentam uma imensidão de dilemas em seus cotidianos. Vale a pena a leitura.
Nota: 9.9