Paulo Silas 12/01/2021Publicado em 1859, sendo um dos primeiros romances brasileiros de autoria feminina, "Úrsula" é uma obra cuja leitura é necessária já por esse fato. Escrito na metade do século XIX, o livro recebeu certa atenção quando da sua publicação, ganhando alguns breves comentários nos jornais da época, mas nada que fosse muito significativo. Foi apenas anos depois que a obra foi redescoberta numa pesquisa acadêmica, lançando-se então a devida luz ao ótimo romance de Maria Firmina dos Reis, estabelecendo-se assim o, em que pese tardio, justo reconhecimento da escritora, uma vez que a história construída na obra muito diz.
Como o título sugere, a história coloca a personagem Úrsula no centro do romance, cujos episódios do romance giram em torno dessa. A protagonista, mulher bela e formosa, vive com sua mãe doente, prestando-lhe os cuidados necessários. Certo dia, Úrsula recebe em sua casa a pessoa de Tancredo que, após se acidentar numa viagem a cavalo, foi encontrado, socorrido e carregado pelo escravo Túlio. Ao ali permanecer até que se recuperasse, Tancredo passa a conhecer Úrsula e se apaixona, tendo o seu amor correspondido de igual forma. Acontece que, antes de o jovem casal firmar seu compromisso, durante uma viagem de Tancredo, Fernando P., tio de Úrsula, surpreende a sobrinha na mata durante uma caçada e se apaixona, firmando para si próprio que se casaria com a moça independente de qualquer coisa. Disso surge um dos grandes conflitos da história, pois Fernando P., responsável pelo assassinato do pai de Úrsula, quer a partir de então a todo custo casar com a sobrinha, forçando que isso ocorra para além de toda e qualquer consequência.
"Úrsula" é um romance que se classifica no movimento do ultrarromantismo, cujas características literárias que evidenciam assim ser se dá tanto pelo contexto da obra quanto pela forma com a qual a história é narrada. Para além do ponto já mencionado que evidencia a importância da obra, têm-se na história uma excelente abordagem crítica sobre a escravidão, além de refletir injustiças de uma sociedade patriarcal, o que faz com que o livro também possa ser definido como abolicionista. Uma obra de grande relevância para a literatura brasileira que tanto ao seu tempo como até hoje enseja reflexões sobre a figura feminina e a da escravidão, tratando-se de um livro atemporal.