Gabriela M. 07/09/2021Resenha-ode à James Baldwin, pela minha primeira leitura de uma obra suaMais uma leitura que me abre mundos. Havia comprado o livro publicado em 1974 somente em 2019, ano no qual a companhia das letras o publicou. Se a rua Beale falasse é uma obra de James Baldwin, um autor que conheci quando comecei a pesquisar um pouco sobre autores negros.
Pelas indicações, sabia que a experiência seria profunda - de algum modo.
No primeiro parágrafo, já me encontrei:
"Estou cansada, e começando a pensar que tudo o que acontece faz sentido: se não fizesse sentido, como poderia acontecer? Mas esse é um pensamento realmente terrível. Só pode ser resultado de um problema - um problemão que não faz sentido."
A narrativa, que parte da perspectiva de Tish, é repleta de coragem, leituras de mundo poéticas - ora agressivas, ora contemplativas -, trocas de ambientes e tempos feitas de maneira cirúrgica: é impossível não acompanhar de alguma forma esse casol pela Nova York des anos 70. Tish nos narra, então, seu período de gravidez enquanto seu esposo, Fonny, está preso.
Me comoveu o amor que integra e rege as relações familiares dos Rivers. A compreensão de vida dos pais enquanto indivíduos únicos e pais possibilitaram esse amor, porque, uma vez entendidos a si mesmos como resultados pontuais de suas experiências, sabiam que suas filhas seriam também seres únicos. Suas filhas têm então a liberdade de se construir, de amarem. E a função familiar persiste neste amor, não é algo que será posto de lado por conta dessa liberdade ou por qualquer problema.
Como nos diz o pai de Tish:
"'Cuidem um do outro', ele disse. 'Vão descobrir que isso não é uma coisa tão simples.'"
E problemas nos são apresentados também no primeiro parágrafo. As construções problemáticas e as questões sociais são apresentadas no decorrer do texto através de experiências de diferentes personagens que convivem com o casal.
Outro ponto que me marcou foram os deslocamentos e acompanhamento musical que nossos personagens vivem. São descritos de uma maneira que só vi em Baldwin e Morrison - que eram amigos, e vemos, no posfácio, que ambos buscavam
"fazer da literatura um projeto estético e político que assuma esse compromisso [de dar significado e forma à subjetividade]".
Não sei bem como descrever, mas esse livro me deu força e coragem. Terminei a leitura no dia 7 de setembro, logo ao acordar com a chuva na janela e me lembrar do que poderia vir no decorrer das próximas horas. Termino a resenha também no dia 7 de setembro, dia que decidi fazer o dia por mim.
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