flá(vinha) 18/03/2024
Arrancar pétala por pétala
A escrita de Baldwin é surpreendente. Somos levados pela sua narrativa, página por página. Nos envolvemos com os personagens, criamos ruas, casas, rostos, sabores e sensações. Gosto como o livro consegue ser leve e envolvente como um romance e, ao mesmo tempo, extremamente político e reflexivo. Me peguei desnorteada por apontamentos de suas páginas refletidos no meu dia a dia, no meu caminhar pela cidade. Me atrai muito o olhar sobre questões raciais, de classe e carcerárias que Baldwin traz, mas me pego em conflito em relação ao que eu penso sobre seus apontamentos de gênero e sexualidade.
Destaco aqui, trechos da crítica de Márcio Macedo, sobre o livro: ?A capacidade de Baldwin de criar efeitos visuais com as palavras se evidencia em descrições de cenas e personagens tão apuradas e ricas em detalhes a ponto de sua escrita se aproximar do trabalho de um pintor?. ?A narrativa é marcada pelo tom melancólico que vem do blues e pela musicalidade de spirituals, soul, jazz além do próprio blues [?] A musicalidade é utilizada pelo autor como meio de reflexão e forma estética?. ?O escritor mostra como traços fenotípicos dos corpos negros e brancos interferem nos privilégios, nos esteriótipos e nas representações?.
Por fim destaco, também nas palavras de Macedo, o ponto que mais me fascina da narrativa: ?O estupro é o ápice da afirmação de uma masculinidade hegemônica que perpassa a história deste livro e organiza uma relação de hierarquia social, sexismo e violência. Essa masculinidade é performada no modo como Fonny vê a si próprio e como atua para proteger Tish dos perigos das ruas do Village; na agressão de Frank [?]. No entanto, a impossibilidade de essa masculinidade hegemônica - que subordina mulheres, crianças e mesmo outros homens - ser exercida por homens negros é exemplificada [?]. A masculinidade dos homens negros é vivida na impossibilidade de sua realização plena, uma vez que coloca em risco a subalternidade que organiza as relações sociais.?