Vitória 04/08/2023
Não consigo nem acreditar que esse é o meu décimo primeiro livro da Julia Quinn. Dá nisso a querida escrever séries intermináveis tipo os Bridgertons, eu li tanto livro pra estar só na metade da segunda. Enfim, depois de ter tido contato com tantas obras dela, eu aprendi a esperar pouco da querida. Às vezes ela faz umas coisinhas que me surpreendem e rendem um livro favorito, e isso aconteceu 3 vezes durante os 9 livros dos Bridgertons, mas na maior parte do tempo ela só coloca pra fora histórias que a gente já viu mil vezes por aí, uns clichêzinhos sem nada demais, mas que são suficientes pra que uma viciada no gênero como eu sobreviva à TPM. E foi justamente por causa de uma TPM que eu decidi pegar esse, e, por incrível que pareça, acabei acertando em um dos bons dela.
Eu já sou uma fã declarada do bom e velho plot de perda de memória, mas aqui a Julia consegue inserir elementos novos pra deixar o clichê interessante. Primeiro porque os protagonistas já se conheciam anteriormente, ainda que fosse por meio de cartas, então existia uma base sobre a qual o romance poderia se desenvolver, e segundo porque, ao contrário do que normalmente acontece, aqui não é a mocinha que fica desmemoriada. Eu me apaixonei pela Cecilia de cara. Ela é o tipo de mocinha que costuma me agradar nos romances de época: decidida, que mete a cara com medo mesmo e faz o que precisa fazer, e que ainda por cima não tem um tostão furado no bolso. Ela passa por muitas coisas aqui, desde a morte do pai, a perseguição do primo que talvez se torne o herdeiro de tudo e o desaparecimento do irmão. A autora não tenta pintá-la pra gente como uma fortaleza, como a mulher que vai atravessar o oceano atrás do irmão sem um pingo de insegurança dentro de si. Pelo contrário, enquanto o Edward está acamado e até depois que ela acorda ela deixa as suas inseguranças claras. De que o seu dinheiro não seja suficiente pra estadia, de que o pior tenha acontecido ao irmão ou de que o Edward descubra tudo. Sinto que, a partir do momento em que o Edward acorda, é quando ela sente que pode finalmente deixar um pouco desses problemas sob a responsabilidade de outra pessoa, e é aí que ela abre espaço pro romance. Sem falar que a hora em que tudo vem à tona e ela desaba foi angustiante em um nível que eu nem sei explicar. As últimas 80 páginas desse livro se passaram com eu perdida em lágrimas.
O Edward é muito cadelinha, e isso fica óbvio logo nas primeiras páginas. O homem simplesmente acorda numa cama de hospital, apontam uma mulher como sua esposa, e ele a reconhece do retrato que o irmão dela, Thomas, carregava e que de vez em quando ele dava uma espiada. Acho que aqui eu descobri que amo romances epistolares, porque eu me derretia a cada carta deles apresentada no início dos capítulos, ainda que eles se comunicassem por meio do Thomas, e me derreti completamente nas cenas em que o Edward lembra como ele esperava mais pelas cartas da Cecilia do que pelas da sua própria família, como ele ficava curioso pra saber se ela tinha escrito algum parágrafo, ainda que curto, pra ele, e como ele dava uma de xereta e relia as cartas enquanto o irmão dela estava fora, pensando que o Thomas não sabia de nada. É um fake dating em que só o mocinho não sabe que é um fake dating? Sim, mas é ainda mais lindo ter a consciência de que ele já estava tão perdido por essa mulher que, mesmo que ela chegasse com a proposta assim que ele acordou, ele aceitaria na mesma hora.
Como se não bastasse tudo de incrível que já apontei, ainda temos um cenário completamente novo pra romances desse tipo. Estamos nos Estados Unidos, num cenário de guerra (do qual, a propósito, eu não entendi nada, nem busquei entender, sou das latinas que não vão atrás da história de um país imperialista apoiador de ditaduras só pra preencher lacunas em um livro de romance que sequer precisam ser preenchidas, já que esse não é o foco), então os salões de baile, chás da tarde e caminhadas no hyde park ficam para trás, e foi incrível ver um romance nascendo nessas novas configurações. Os dois são jogados num quarto de hospedaria, então nós vemos o sentimento nascendo ou se aflorando dentro de cada um deles por pequenas coisas do dia a dia, seja ele comprando um doce que sabe que ela gosta na padaria só pra deixá-la feliz, ou ela permitindo que ele, ainda doente, realize pequenas tarefas necessárias para os dois, pra que ele não se sinta um completo inútil. As cenas hots são incríveis, e eu preciso agradecer à Julia por ter escrito mais de uma, a adoração do Edward pela Cecilia nesses momentos era algo que eu veria todos os dias se pudesse. Queria que tivéssemos um hot no finalzinho, depois que os dois se acertam, e depois daquele hot em que ele já sabia de tudo e me deixou chorando até o final do livro? Queria, mas vou passar esse pano porque esse negócio merece as 5 estrelas.
Aliás, estou amando o novo propósito que a autora trouxe pros epílogos dessa série. Geralmente em romances de época a gente espera ver os personagens anos depois felizes, casados e com os filhos em capítulos como esses, mas aqui ela usa só como um gancho pra o próximo, algo pra deixar o leitor com aquele gostinho de quero mais. O do livro anterior me deixou ansiosa com força pra esse, ainda que eu tenha demorado muito pra lê-lo. Esse daqui não conseguiu o mesmo efeito, mas acho que volto em breve para falar sobre Um Cavalheiro a Bordo, afinal esse também parece ser um romance fora dos padrões da Julia. Só agradeço à Vitória do passado por ter decidido ler essa preciosidade num impulso no meio da TPM, era justamente isso que eu precisava no momento, tanto que engoli esse negócio em um dia só, mesmo tendo passado a tarde fora de casa na praia. Recomendo a experiência.