Gabriela 25/11/2019"I want to survive this world that keeps trying to destroy me"Mais uma resenha amadora. Eu tô fazendo isso certo? Leia por sua conta e risco.
"Ninth House" é um livro de fantasia urbana/mistério/terror, o primeiro da Leigh Bardugo que não se encaixa na categoria Young Adult – o que significa que não se deve esperar uma leitura leve e tranquila. É sombrio, macabro e mágico e eu não consegui parar de lê-lo. Sou suspeita para falar da Leigh, fã do Grishaverse que sou, mas este livro virou um dos meus favoritos do ano. É válido dizer que tem temas de abuso, drogas e violência que podem servir de gatilhos para algumas pessoas.
Já sabia que o livro iria envolver magia, e ocultismo, e sociedades secretas, e terror, e fantasmas, mas logo no primeiro capítulo levei um baque, porque não sabia o quão sinistro o livro realmente seria – não costumo ler a fundo as sinopses ou resenhas, gosto de ser surpreendida. Já me vi logo de cara num ritual obscuro que envolve tripas, previsões da bolsa de valores e membros encapuzados envolta de uma mesa cirúrgica. Quem diria? E, no meio disso tudo, Galaxy "Alex" Stern sendo responsável por manter o círculo de proteção livre da interferência dos fantasmas (que só ela consegue ver), já que, afinal, ela é um membro da Lethe, a "nona casa", a organização (secreta) responsável por manter todas sociedades (secretas) da Universidade de Yale na linha. Porém não pensem que Alex se encaixa nesse ambiente – muito pelo contrário: ela está o tempo todo atuando.
As sociedades de Yale podem ser resumidas em uma frase: gente rica e poderosa brincando com mágica e para ficar ainda mais rica e poderosa. Mas quem paga o preço por essa mágica? Esse poder todo é às custas de quem?
Alex corre atrás dessas respostas, com unhas e dentes, ao se deparar com o cadáver de Tara Hutchins, uma garota traficante da cidade que é assassinada em pleno dia de ritual, mas ninguém está afim de fazer as perguntas certas, principalmente com Darlington (não confundir com "Darkling"), o mentor de Alex – garoto de ouro, nerd, amorzinho – sumido. Afinal, é ano de financiamento e a Lethe conta com o dinheiro das sociedades para se manter de pé. Inclusive, acho que um dos maiores erros da dinâmica entre a Lethe e as sociedades é o fato dela depender economicamente das casas. Por mais que ajude as sociedades protegendo os rituais, sua função também é puni-las. Não seria muito fácil as sociedades boicotarem a Lethe por não concordar com uma das suas decisões?
O livro é fora da ordem cronológica, divididos em três períodos de tempo que se entrecruzam. Bardugo começa a história com muita construção de mundo trazendo muita informação sobre as sociedades, a universidade, referências a figuras famosas estadunidenses, descrições de lugares e arquiteturas do campus – detalhes que requerem pesquisa à parte e tempo e energia para serem processados. Desta forma, o início foi, para mim, um pouco cansativo e complexo – sei que isso levou muitos a abandoná-lo já no começo. Porém, passados esses capítulos mais densos, a tensão só aumenta e a vontade de parar de ler é zero.
O humor ácido de Alex, o contraste na relação entre Alex – deslocada, "vulgar", feroz – e Darlington – o garoto rico e culto num belo casaco, a dinâmica com Dawes, a pesquisadora da Lethe (desconfio de que ela tenha ansiedade social) faz a história ainda mais imersiva e fascinante e, mais uma vez, Leigh explora de maneira sensível e eloquente o passado dos personagens, levando-nos a não querer sair do lado deles. Uma cena específica do passado da Alex me deixou muito afetada e triste.
O final pode ser pouco catártico para algumas pessoas, mas não deixa de ser interessante e de levar a uma boa reflexão. Há pontas soltas sim, lógico: a ideia é fazer essa história uma série de cinco livros. Só digo uma coisa: quero logo o próximo livro e não sei como vou sobreviver até lá. Ah, "Ninth House" vai virar série pelo serviço de streaming da Amazon. A Leigh tá rica.