Larissa.Manucci 17/11/2021Não me abandone Jamais foi escrito por Kazuo Ishiguro, vencedor do prêmio Nobel de 2017.
A história se passa em um passo alternativo entre os anos 1980 e 1990. O livro começa com Kathy contando um pouco sobre sua rotina como cuidadora, não há explicações ou contextualizações, de modo que fiquei um pouco perdida e confusa nesse início. Logo depois somos levados ao passado através das memórias de Kathy, ela conta sobre o período em que passou por Hailshaw, uma escola (aparentemente normal) muito parecida com o formato de internato britânico, a diferença é que as crianças nunca saem de seu terreno, porque o lado de fora é perigoso...ou pelo menos foi isso o que foram ensinadas. A escola é comandada pelos guardiões, responsáveis pelas aulas e pela coordenação. A trama é toda desenrolada através das memórias de Kathy, as vezes de forma cronológica e outras vezes nem tanto. É perceptível que há algo de especial com as crianças, porém, devido ao fato delas desconhecerem o seu mundo, nós leitores, também demoramos a entender a real situação em que elas se encontram e isso é um entrave na busca pelas razões por trás de tudo que acontece.
Aos poucos fica mais claro o real intuito de Hailsham. No mundo distópico de Kazuo, foi descoberta a cura para diversas doenças (como câncer e outras doenças incuráveis), entretanto essa cura depende da doação de órgãos feitas por jovens que são criados para esse propósito, os doadores. Na escola, as crianças tem essa vaga ideia do que os espera para o futuro, mas é apenas durante a juventude que eles realmente se encontram com sua missão, elas são criadas com um futuro traçado desde o seu nascimento e isso faz com que tenhamos uma certa empatia com os personagens.
O livro é considerada uma distopia, porém não apresenta um confronto direto ao sistema, como em outros livros famosos desse gênero. Ele faz um debate ético que traz a tona o egoísmo humano e a capacidade de distorcer a ideia de igualdade, é uma metáfora do eterno dilema do ser humano com a morte.
Kazuo explora muito o diálogo interno da mente humana, é um eterno perder-se e encontrar-se no labirinto que é a mente de Kathy. No geral eu diria que a narrativa foi um pouco morna e deu muitas voltas, é só por volta da página 100 que começamos realmente a entender a história. Não há pontos altos e a história me pareceu muitas vez muito distante do leitor, o que me incomodou em alguns pontos.
Essa foi meu segundo contato com o autor, no passado eu li O Gigante Enterrado e gostei bastante do livro, entretanto, Não Me Abandone Jamais não foi um livro que me prendeu muito e que não entrou na lista dos meus favoritos.