spoiler visualizarNivia.Oliveira 30/03/2024
O Kanun é um código de honra baseada na vingança sucessiva. Aplicado no Norte da Albania e do Kosovo, primeira oral e depois escrito no século XIX, a Lei da Morte é cruel e inflexível.
Depois do fim do comunismo no país (1992), as famílias voltaram a utilizar a crença de que sangue se paga com sangue. Hoje, há adolescentes que não saem de casa pelo medo da morte.
“Recuperar o sangue”, era uma tradição do norte da Albania e do Kosovo, primeira Oral e depois escrita no século XIX.
Resumindo a coisa funciona assim: se X da família A, mata Y da família B, o filho(ou irmão) de Y mata um um homem da família de X. E assim sucessivamente. “A lei de Talião, olho-por-olho,dente-por dente” não tem fim. Esse é mais implacável que o Codigo de Hamurabi.
Depois do fim do comunismo no país, retornou, isto é, as famílias acreditam que sangue se paga com sangue. Vi uma notícia no G1, de 2008, de um garoto de 17 anos que não sai de casa porque seu pai matou um homem.
O Kanun - começou porque um desconhecido foi vítima de Krieqyqe depois de ter abrigado na casa dos Berisha. Mas o tal código define até como a pessoa deve morrer (tiro de fusil no meio da testa), a posição do corpo (de costas com o fuzil do morto na cabeça dele), o velório (carpideiras que esfolam o próprio rosto), o imposto.
Esse círculo vicioso de execuções nos faz pensar se a vingança realmente vale a pena. Principalmente porque percebemos quanto é sofrido para quem é vingado e para o vingador. As famílias não têm paz, tampouco liberdade.
No livro, Gjorg, o protagonista, não quer fazer nada disso. Questiona a tradição, mas faz porque é sua obrigação. Se não fizer sua família sofre as consequencias (pagar imposto do sangue ou comer). O curioso é que depois que ele tem os dias contados, sabe quando será sua morte, não muda sua rotina.
Com isso o autor nos faz pensar sobre o tempo de vida. Será que faríamos algo diferente se “medissemos a vida com o metro da morte”? A presença da morte nos dá limites?
Terrível a cena de terras que são extensos cemitérios...
Apesar do tema pesado, o livro é fácil de ler. E a presença de um casal em lua de mel por aquelas bandas, Bessian e Diana, curiosos por essa tradição, suavisa a nossa angustia de esperar o resignado Gjorg matar e ser morto na manhã do dia 17 de Abril (daí o título), exatamente 30 dias após ele ter matado o outro. Enquando ele caminha pela estrada da morte, nós vamos refletindo sobre divindade, destio, fatalidade, e entendendo (se é que dá para compreender) esse código de honra absurdo.
Eu que sou da Hotelaria, achei curisoso a parte que destaca como o hópede é sagrado. A casa do albanês é morada de Deus e do hóspede. O hóspede é uma divindade. É isso que explica o motivo do Kanun. Foi assim que tudo começou. Então se alguém chega na sua casa, vc é obrigado a dar comida e cama. Vemos a hospitalidade acontecendo quando os vingadores subiam ao Monte Maldito para pagar o imposto do sangue.
Eu assisti ao filme brasileiro e ambos são ótimos. Acabei gostando mais do filme pela esperança do final.
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