spoiler visualizarSofia235 20/03/2024
O Retrato de Dorian Gray
{Resumo para me lembrar da história no futuro}
Antes de ler entrei de cabeça numa ficção fantástica. Mas me deparei com uma poesia em forma de prosa fantástica e subjetiva. Oscar Wilde conta através de seu único romance, creio, um reflexo sobre sua própria cosmologia de vida. Dorian Gray é amigo de um pintor, Basil H., que é fascinado pela figura de Dorian em toda sua inocência e pureza. Dorian é sua inspiração e motivação para sua produção de obras e para mostrar isso mais para si mesmo do que para qualquer um, Basil cria um retrato em tintas, sua obra mais maravilhosa, segundo seu amigo Harry, da figura jovial e pura de Dorian Gray. Mas Dorian um dia conhece Harry W., o amigo de Basil, que o fascina com sua visão de mundo adoradora da beleza e dos prazeres hedonistas. Harry o cativa com um discurso sobre o poder da beleza juvenil e os dois passam a ser melhores amigos compartilhando tal interesse em comum, ficando Basil do lado de fora dessa amizade, por não compartilhar dos mesmos estilos de vida antirealistas de Harry, e agora de Dorian. Mas Basil permanece apaixonado pelo seu amigo agora corrompido por Harry.
No dia em que recebe o retrato de Basil, junto ao discurso cosmologico antipuritado de Harry sobre o poder que o rapaz detinha com sua aparencia explendorosa, Dorian lamenta dentro de sua alma o fato do tempo o fazer envelhecer e o obrigar a perder sua melodiosa juventude. Lamenta a ponto de fazer um pacto com o universo ao redor, desejanto que o seu retrato tão belo envelhecesse em seu lugar, para que mantivesse o viço da sua aparência diferenciada. Dorian passa assim a viver uma vida parecida com a de Harry, até o dia em que o mesmo lhe envia um exemplar de um livro cuja história da personagem contagia Gray de uma forma deslumbrante. Ele se identifica com a personagem, que parece estar contando a história de si mesmo, sobre sua vontade de viver, seus desejos mais obscuros, a influencia de sua aparencia em sua vida, e trata tais prazeres como a única forma bela para que a vida fosse de fato vivida. Dorian passa a usar tal livro como insígnia de vida, baseando toda sua dedicação e vivência à tal filosofia dos prazeres e à veracidade e curiosidade que há neles. Os sentidos passam a ser a sua única essência do viver, custe o que deva custar.
Dorian então passa por uma serie de infortúnios que o estilo de vida hedonista acarreta aos que estão ao seu redor. Se apaixona por uma atriz de família podre, e está se apaixona ainda mais por ele. Mas ele não está apaixonado por ela, mas sim pela sua atuação diferenciada, pelas personagens que interpreta a cada dia. Quando ela é exposta ao mundo conceitual de Dorian, Sybil passa a não ver mais sentido em sua atuação e atua muito mal em sua peça. Dorian que havia levado Harry e Basil para assistí-lá se envergonha e se deixa sofrer horrores por esse chamado infortúnio. Ele briga com ela no camarim, e a deixa para sempre. Sybil, apaixonada tira sua vida naquela noite e apenas Harry e Dorian sabem o motivo disso.
Diante de tudo isso, o fato mais importante da história está em seu retrato, que agora fica escondido atrás de um pano grosso. Dorian reparou com horror que o seu retrato havia mudado ao longo de seus dias hediondos. A figura imóvel guardava a velhice e a maldade que o corpo dele não trazia para si. O olhar mau, cheio de astúcia, as rugas que o autor chama de rugas do pecado passaram para o quadro, deixando o corpo de Dorian intacto. Com a morte de Sybil, as mãos do retrato se encheram de sangue e Dorian o afastou ainda mais de si mesmo, infiltrando o objeto dentro do sótao sob o pano grosso para esquecer cada uma de suas maldades e das consequencias de seus prazeres. E assim continuou vivendo despretenciosamente e em todo seu esplendor juvenil.
Os anos passaram e por dois capítulos do livro, estremamente destonantes do resto, Wilde narra os interesses chatíssimos, fúteis e gramurosos do Sr. Gray. Chega a ser díficil ler tais capítulos, de tão irritantes e monótonos, creio que para mostrar o quão desinteressante de fato a alma da personagem se tornara.
Passados anos de uma vida extravagante em luxos e prazeres, pessoas passaram a entender o mau que o homem causava a quem permanecesse algum tempo em sua vida, ou mesmo a influencia negativa que acarretava à outras criaturas jovens e mais puras. Harry se admirava com tudo aquilo e com a fantástica vida de seu melhor amigo.
Após muito tempo sem sequer ter contato com o antigo amigo pintor, Basil aparece em sua vida, numa noite fria, e pede pra conversar com Dorian. O rapaz não queria, mas fingiu um grau de interesse e o levou para sua casa. Basil o contou que estava partindo para Paris no trem da meia noite e como o tempo era curto, contou ao seu amigo para que tomasse cuidado, pois ele estava sendo muito mal falado, e que ele sabia que tais rumores não eram verdadeiros, pois conhecia o seu antigo amigo. Mas dentro de si, Dorian sabia que cada rumor era de fato verdade, e num ato incalculado, convidou Basil para ver o que o havia lhe tornado daquela forma, afinal de contas, tudo havia começado com Basil para começo de conversa. Após muita tensão literária no caminho até o sótão e o diálogo entre os dois, Dorian revelou o quadro e explicou, de maneira quase exaltada, o que o quadro havia feito a ele. Basil estava perplexo, sem chão, e sem entender nada com clareza, e antes que pudesse entender qualquer coisa, Dorian o matou com uma faca.
O quadro voltou para seu esconderijo.
Dorian entrou em completo desespero psiclógico e físico após sua ação impensada, e mandou que chamassem um antigo amigo que havia sido um dos quais Dorian causou extrema dor. Alex Campbell, cientista, foi encontrá-lo sem vontade de continuar em sua vida e ali mesmo foi coagido a sumir quimicamente com o cadáver que estava no sótão. Negou muitas vezes, e Gray escreveu a ele algo que apenas Wilde sabe, que o empalideceu e o forçou a realizar aquele crime sem seu consentimento. E assim foi feito.
Dorian passou mais tempo buscando esquecer seu passado e justificando suas ações para si mesmo, afinal Basil havia lhe dito coisas insuportáveis, em suas palavras, e havia sido o responsável pelo retrato, para começo de conversa. Até que um dia, não aguentando a dor de seu passado, resolve buscar a solução em ópios, no lugar onde os desafortunados buscavam prazer. Naquele bar escondido, uma mulher o viu e o chamou com desgosto, pelo apelido de Príncipe Encantado, seu antigo nome dado por Sybil Vane. O irmão de Sybil estava ali, vestido em seus trajes de marinheiro, e reconheceu o apelido que a irmã citava com frequência. Mal sabia Dorian que James ainda era menino quando prometeu à sua irmã que mataria aquele homem se um dia ele lhe fizesse mal. E qual mal ele havia lhe feito, a a ponto de Sybil haver deixado o mundo. James o perseguiu e o alcançou no escuro da noite dentro de uma passagem ainda mais escura. Dorian em desespero, clamou para que o deixasse, pois não sabia o que tinha feito àquele homem. James explicou os motivos, e Dorian empalideceu, mas num subito relance de esperança, pediu que o levasse para a luz, para ver que era um moço jovem, não poderia ser aquele que um dia causou mal à sua irmã, pois aquele deveria hoje estar mais velho, com seus 40 e poucos anos. E na luz isso foi revelado. O rosto de Dorian de fato tinha aspecto de 20 e não poderia ser o homem procurado. Ele o deixou ir embora, e Dorian voltou para casa desacortinado. A mulher do bar encontrou James e revelou que aquele era mesmo o Príncipe Encantado, ao qual James tanto procurava, e que seu rosto de fato era conservado, e que ela sabia que era ele. James os perdeu de vista, tanto Sr. Gray, quanto a mulher logo em seguida, e permaneceu em sua promessa de matá-lo.
Dorian passou seus dias com imenso terror, temendo a morte em cada momento. Passava mal em suas tardes com seus amigos, com a duquesa Gladys, prima de Harry, com quem estava tendo um caso, mas ninguém sabia verdadeiramente o motivo. Nem mesmo Harry. Certo dia, numa tarde como essas, com Harry, Gladys, e outros que frequentavam essas tardes finas em seu orquidário, Dorian viu o sembrante do rosto de James Vane do lado de fora do orquidário e entrou em estado de terror. Mais tarde foi até o bosque, e no meio da conversa com um colega que estava ali com outros para a tarde de caça, pediu que esse não atirasse em uma lebre que acabara de passar por ali. Ele não aguentava mais ver a morte, e o caçador nada entendeu e atirou mesmo assim. Mas por infortúnio, ele havia acertado não apenas a lebre, mas um homem! 'Quem estaria ali na frente dos tiros?!' Dorian passou mal, e foi descansar em seu quarto. Mais tarde Harry foi vê-lo, preocupado. Mas Dorian afirmou estar bem e que desceria para o jantar. Antes que descesse, porém, o guarda-caça foi até seus aposentos e informou Sr. Gray que o homem morto era um desconhecido em roupas de marinheiro. Sim, Dorian foi confirmar o rosto do homem, e o cadáver era de fato de James Vane. Dorian entrou em êxtase de alegria pois agora estaria seguro. Mas quem não estava segura era sua alma. Tomava cada dia consciencia de seus feitos e suas consequências. Passou a se afastar de tudo, de todos, queria não ser mais reconhecido.
Certo dia estava em uma tarde na casa de Harry, e disse que iria se tornar diferente, que mudaria para sempre, e deixaria de ser esse hedonista frívolo vivendo por prazeres e sentidos. Seria bom. Harry zombou e ficou incrédulo, pois seria um desperdício de vida. Que interessante era a vida deles, e especialmente a do seu amigo Dorian, para ele, cheia de sentidos dos mais ricos e vívidos ao longo de tantos anos. Por que desperdiçaria o resto de sua vida buscando redenção? Mas Dorian sabia que o mal que havia causado era tamanho na vida de muitas pessoas, e queria ser melhor. Ser bom. E começaria de fato a ser. Seus pensamentos e remorsos consumiam sua alma, o saber de seus assassinatos. Tudo. Harry ainda o informou sobre o suicídio de Campbell, mais essa para somar ao seu saldo de vida, sem que Harry soubesse o que isso significava para Gray.
Mas Dorian estava destinado a melhorar. E Harry, em sua elegancia e firmeza filosófica, o contou que mesmo seu desejo de ser bom não passava de pura vaidade, hipocrisia e vontade de experimentar novas sensações para sua alma. E ria de prazer, pois sabia que ambos eram assim, e admirava isso neles. Mas Dorian sofria. E nessa noite foi embora para sua casa, destinado a ser melhor, a começar pela moça, Hetty, que havia decidido poupar de permanecer em sua vida para estragá-la.
Chegou em casa com pensamentos novos! Será que esse primeiro ato de bondade, a despeito de tudo que Harry zombara, não seria uma nova vida para ele? Para redimir suas maldades. Ou melhor! Será que o seu retrato, há tanto tempo guardado não estaria voltando ao normal, a cada boa ação que optasse por tomar de agora em diante!? E se ter poupado Hetty já houvesse tido efeito sobre aquela pintura? Precisava saber, e então subiu até o sótão para ver o novo formato de seu retrato! E então se deparou com uma figura ainda mais horrenda do que antes, e gritou assustado. O quadro estava ainda mais repugnante do que antes, os olhos eram astudos, e as mãos pingavam mais sangue do que antes dos dedos enrrugados. O sangue aumentara a ponto de pingar nos sapatos. Dorian entrou em uma argumentação consigo mesmo, tentou justificar de todas as formas sua nova forma de vida, mas olhou pra si, finalmente, olhou para dentro e percebeu que Harry tinha razão quanto a ele. Nada passava de vaidade. A vida perdera o sentido para a própria sede de sentidos e não restava nada a ele, senão apagar o passado, rasgar aquela obra a quem a vida havia levado à tantos caminhos sensitivos e insensíveis. Dorian rasgou a imagem com a mesma faca que matou Basil. E gritou. Pessoas na rua ouviram, seus funcionários acordaram imediatamente. Precisaram entrar pela sacada subindo no telhado, pois a porta estava trancada. E ali estava uma figura disforme, enrrugada, um semblante irreconhecível, com uma faca no coração. E ao lado, o retrato intacto de um homem jovem, puro, cuja beleza era identica à que conheciam.