spoiler visualizarGeovana Rodrigues 30/04/2022
O velho embate: um psicopata já nasce psicopata?
“Lendo isso, me convenci de que a culpa é uma questão de verossimilhança, e a moralidade tratava-se apenas de pintar um quadro que se apresente de forma convincente aos olhos dos outros.”
A história gira em torno de Yu-jin, um rapaz que sofre de uma doença misteriosa, com apagões e convulsões que o impede de seguir seu sonho no esporte. Era um exímio nadador e chegou até a competir de forma profissional antes dos remédios virarem um “empecilho”.
Acho que a partir dessa quebra de sonhos e expectativas, o personagem guia, mesmo que de forma inconsciente, seus passos.
Já nas primeiras páginas, sabemos que a mãe dele foi assassinada de forma brutal – encontrada morta na cozinha por Yu-jin. O desespero dele foi completamente tangível para mim! Imagine só: Acordar, com você e sua cama completamente encharcados de sangue, percebendo logo que não era seu, e ao se levantar, observa uma trilha vermelha que vai dar no corpo de sua mãe! É de pirar o cabeção!
Me senti completamente imersa na narrativa - era como estar observando tudo em primeira mão.
Apesar de ter gostado bastante, senti que de certa forma a história custou engatar, com um ritmo lento e muito descritivo, e o fato de estar entrando em contato com uma cultura que conheço muito pouco. Entretanto, logo fui arrebatada, ao seguir os passos do personagem principal, tentando reconstituir suas memórias.
Como personagens secundários, temos o irmão mais velho, a tia, irmã da mãe, que também era psiquiatra de Yu-jin. E eu, sendo da área da saúde, fiquei muito incomodada por conta da psiquiatra ser a tia dele. Totalmente antiético a forma de atendimento e tratamento que ela fornecia ao personagem. Os medos, opiniões próprias e preconceitos contaminavam sua visão diagnóstica. Fora que não podemos tratar parentes! Somando-se à isso, ainda deu diagnóstico errado!
Não posso afirmar que se ele fosse diagnosticado corretamente, teria impedido todas as suas ações, porque sua forma de ver o mundo não poderia ser considerada tipicamente normal. Meio que já sabemos quem foi o assassino. O brilho da história está em acompanharmos o processo de “como” foi feito.
É até engraçado porque é uma tentativa de sequências de desculpas por atos terríveis. Ele fez, sabe que fez, nega, mas tenta justificar.
A pressão da mãe, me lembrou muito a Norma Bates (inclusive o fim de ambas foram parecidos). Controladora e com comportamentos estranhos e opressivos - o vigiava constantemente. Mas logo o estranhamento passa, já que Yu-jin também não fica atrás. O personagem é extremamente egoísta e tem uma visão totalmente deturpada do mundo. Frio, calculista e rancoroso e mais alguns adjetivos que prefiro nem citar rs.
Sobre a ambientação, me senti impressionada - uma cultura totalmente nova para mim, meu primeiro contato com a literatura sul-coreana. Já adianto que pretendo ler mais autores de lá! E por fim, encerro essa breve resenha com 2 questionamentos: Até onde podemos refrear nossos instintos? Até onde podemos negar nosso eu verdadeiro?
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