spoiler visualizarSah 11/02/2023
Quotes
Ash hesitou com a pena parada no ar. Não podia acreditar que iria escrever aquelas palavras no papel. Por mais que ele temesse, aquilo tinha que ser feito. Escreveu:
Eu preciso de uma esposa.
Ele imaginou que deveria listar suas exigências: uma mulher em idade fértil, de linhagem respeitável, com uma necessidade premente de dinheiro e disposta a dividir a cama com um homem horroroso e marcado. Resumindo:
uma mulher desesperada.
*****
A sorte era uma bruxa sem coração que vivia num estado perpétuo de tensão pré-menstrual. Ash sabia bem como era.
*****
? Estou começando a desconfiar da verdadeira razão para a Srta. Worthing rejeitá-lo. Vossa Graça é excessivamente...
? Horrendo ? ele completou. ? Repulsivo. Monstruoso.
? Exasperante.
Ele produziu um som de perplexidade.
? Então estou sendo rejeitado pela minha personalidade? Que revigorante.
*****
? Agora ? ele disse ?, por favor preste atenção. Não me lembro de dizer nada com relação a amante. Acredito ter usado a palavra ?duquesa?. ? Ele apontou para a ruela decadente em que estavam. ? Eu não viria até aqui caso meu objetivo fosse outro.
? Você não pode estar falando sério. Não verdadeiramente, honestamente, sinceramente, decentemente, corretamente.
Ele deixou que se passassem alguns momentos.
? Acabou sua lista de advérbios? Eu detestaria interrompê-la.
O pequeno pinguim ao lado dele pulou de nervosismo.
Ele também estava nervoso. A julgar pela insistência com que Ema negava a possibilidade de ele querê-la de verdade, Ash desconfiou que algum outro homem a tinha feito se sentir indesejável. Isso o deixou furioso.
? Escute aqui, Emma.
Vejam só, ele já estava pensando nela como Emma. Um nomezinho pequeno e teimoso, Emma. Combinava com ela.
? A resposta é sim ? ele disse. ? Estou falando sério. Verdadeiramente, honestamente, sinceramente, decentemente, corretamente. E quero que você seja completamente minha.
*****
? Você é uma mulher saudável em idade de procriar. Você é filha de um cavalheiro. É bem-educada. É passavelmente bonita. Não que isso pudesse ser um problema para mim, mas a criança precisa ter pelo menos um dos pais com uma aparência apreciável. ? Ele chegou ao último dedo. ? E você está aqui. Todas as minhas exigências estão satisfeitas. Você serve.
Emma ficou olhando para ele, incrédula. Aquele foi, provavelmente, o pior pedido de casamento que ela poderia imaginar. O homem era cínico, insensível, desdenhoso e grosseiro.
E ela iria, com certeza, se casar com ele.
*****
Emma não apenas não tinha fugido, como estava preparada para defendê-lo ? por mais que isso soasse absurdo. Não sabia o que fazer com ela, e não tinha a ideia mais tênue do que fazer consigo mesmo. Ele não pôde deixar de sentir...
Não pôde deixar de sentir. Todos os tipos de emoções, e todas ao mesmo tempo.
Para começar, ele se sentia vagamente insultado pela sugestão de que poderia precisar da ajuda de uma garota frágil. Isso levou a um desejo crescente de possuí-la, para mostrar quem protegia quem naquela relação. E então, por baixo de todas as outras, havia uma emoção discreta, inefável, que o fazia querer deixar o orgulho de lado, descansar a cabeça no colo dela e chorar.
Esse terceiro sentimento, claro, era inconcebível. Nunca iria acontecer.
Apesar de tudo, a decisão estava tomada. Ela havia selado seu próprio destino.
Se pretendia fugir dele, Emma Gladstone tinha perdido sua oportunidade.
Porque de jeito nenhum ele a deixaria escapar.
*****
? Eu... eu insisto em levar um gato.
Ele emitiu um som de rematado desgosto.
? Um gato.
? Sim, um gato. O meu gato.
Emma, sua idiota. Você nem tem um gato.
Ela decidiu que encontraria um. Se teria que entrar num casamento sem qualquer promessa de afeto, e ainda morar naquela casa imensa e elegante, ela precisaria de pelo menos um aliado. O que seria melhor do que um gatinho fofo de olhos grandes?
? Para uma noiva de conveniência, você está dando muito trabalho. ? Ele enfiou o pé dela para dentro do cabriolé, depois apontou o dedo para ela antes de fechar a porta. ? É melhor que esse seu gato saiba se comportar.
*****
Ash estendeu os braços, fez força para tirar o animal das mãos dela e o colocou no chão. A fera cinzenta saiu em disparada no mesmo instante.
? Esta casa é enorme ? ela protestou. ? Ele pode ficar perdido durante dias.
? Essa é nossa única esperança.
*****
? Continue tentando com seu gato. As criaturas mais difíceis de tocar no fim tornam-se os companheiros mais amorosos.
Emma sentiu uma pontada de ironia. Não duvidava da capacidade que Penny possuía de domar não apenas gatos, mas cãezinhos, cabras, bezerros escoceses e até porcos-espinhos traumatizados.
Mas o duque com que ela tinha casado era um tipo diferente de animal.
*****
Agachando-se, ele soprou a brasa até o fogo pegar e virar uma labareda. O verniz ajudou a incendiar rapidamente os pedaços de madeira.
? Pronto. ? Ele se levantou, o peito arqueando pelo esforço. ? Eu fiz um fogo para você. Agora, admire minha virilidade.
? Eu admiro, muito.
*****
? O que foi esse barulho?
? Que barulho?
? Alguma coisa arranhando. ? Ela o fez ficar quieto. ? Escute.
Ele ficou em silêncio, escutando.
? Isso! ? Ela bateu no ombro dele. ? É isso. Você ouviu agora? E de novo.
Sim, ele ouviu. Um barulho leve, de arranhar, que coincidia com cada brisa leve.
? Ah, isso ? ele disse. ? É só a Duquesa Louca.
? A Duquesa Louca?
? O fantasma residente. Toda casa de campo tem um. ? A voz dele assumiu um tom misterioso. ? Conta a história que meu bisavô casou com uma noiva de conveniência, com o objetivo de ter um herdeiro. Ela era bem bonita, mas logo após a lua de mel, meu bisavô começou a se arrepender do casamento.
? Por quê?
? Mil razões. Ela arrancou as cortinas da casa. Conspirou com os criados.
Ela o chamava de nomes ridículos. E o pior: tinha um assecla, um demônio que assumia a forma de um gato.
? Oh, é mesmo?
? Sim, é verdade.
? Parece que ela era horrível.
? E era mesmo. Causou tantos problemas que ele a trancou num armário no andar dos quartos e a manteve lá durante anos.
? Anos? Parece um pouco exagerado.
? Era o que ela merecia. Ela o deixou louco, e ele quis retribuir a gentileza, trancando-a. De vez em quando, jogava para ela umas migalhas de pão ou uma esponja úmida. Nas noites frias dava para ouvi-la arranhando a porta do armário, tentando escapar. Está ouvindo? ? Ele fez uma pausa. ? Escute:
arranha, arranha, arranha.
Ela engoliu em seco de forma audível.
? Você é um homem cruel e horroroso. Espero que pegue um berne.
? Se duvida de mim, fique à vontade para subir e verificar você mesma.
? Não, obrigada.
*****
? Emma? ? Ele deslizou até o lado dela. Ela tinha puxado os pés para baixo das saias, abraçando os joelhos junto ao peito.
? D-d-desculpe. Vai parar em um in-instante.
? Não está tão frio ? ele disse, como se pudesse fazê-la parar de tremer com argumentos.
? Estou sempre c-com frio. Não posso evitar.
Sim, ele lembrava dos cinco cobertores.
Ash a pegou nos braços, segurando-a bem apertado para compartilhar seu calor com ela. Bom Deus. Ela tremia violentamente dos pés à cabeça. Aquilo não podia ser devido à temperatura. Ele pôs a palma da mão na testa dela.
Não parecia febril.
Só restava uma explicação. Ela estava com medo. Sua esposinha, que não temia duques nem bandidos, estava morrendo de medo.
? É o escuro? ? ele perguntou.
? N-não. É só... ? Ela se agarrou ao colete dele. ? É só algo que acontece às vezes.
Ele apertou mais os braços ao redor dela.
? Eu estou aqui ? ele murmurou. ? Estou aqui.
*****
? Você veio até aqui, e se escondeu atrás do meu sofá, para ceder à sua fascinação mórbida.
Ela sacudiu a cabeça.
? Admita.
? Não posso admitir! Não é verdade. ? Eu... a voz dela falhou. ? Eu olho para você, sim. Mas não é porque eu o acho grotesco. E com certeza não é fascinação mórbida.
? Então diga, por favor, o que poderia ser.
O coração dela martelou o peito por dentro. Ela ousaria admitir a verdade?
? Paixão.
? Pai... ? Ele recuou um passo e a encarou. Como se chifres tivessem nascido em sua cabeça. E então tivessem nascido flores e bolinhos nos chifres.
Emma não sabia o que fazer ou dizer. Ela já tinha feito e dito demais.
Sem mais palavras, ela saiu correndo do quarto.
*****
? Você é um homem irritante. E estou estupidamente atraída por você, apesar disso. Talvez até por isso. Estou certa da paixão. Já senti antes.
Foi a vez de Ash se tornar um turbilhão de emoções irracionais. Sendo ciúme raivoso a principal emoção.
? Por quem?
? Por que isso importa?
? Porque ? ele disse ? eu gosto de saber os nomes de quem eu detesto. Eu os anoto num caderninho que, de tempos em tempos, releio enquanto saboreio conhaque e solto gargalhadas guturais e malévolas.
*****
? De todos os nomes em que eu podia ter pensado ? ela disse. ? Brutus.
Bambino. Até Floquinho teria sido melhor. Mas não. Eu tinha que dizer Calças. E você quer saber o porquê?
? Eu não sei por que você imagina que eu me importe com isso, neste momento. ? Ele seguiu em frente, memorizando cada contorno das coxas dela.
? Porque era para onde eu estava olhando naquele instante. Calças. Mais exatamente, para as suas calças. Admirando como você... ? ela engoliu em seco. ? ...as preenchia.
Ash levantou a cabeça. Agora ele se importava.
? Admirando ? ele repetiu, incrédulo.
? Sim. Talvez até desejando.
Então era isso. Nada daquilo era real. Ele estava sonhando.
Senhor, nunca me deixe acordar.
*****
? Você entendeu tudo errado ? Trevor disse num sussurro alto, andando rápido ao lado de Ash. ? Não quero expor você. Quero ser seu parceiro.
Isso fez com que Ash parasse.
? Meu parceiro?
? Assistente. Aprendiz. Protegido. Você sabe o que eu quero dizer.
? Não. Não sei.
? Quero acompanhar você à noite. Ajudar a fazer justiça. Sovar uns bandidos e tal.
Ash olhou o rapaz de alto a baixo.
? Você não consegue sovar nem massa de pão.
*****
? Você tem razão ? Trevor disse, animado, atrás dele. ? Amanhã à noite será melhor. Eu preciso de tempo para arrumar meu disfarce.
Ash puxou a aba do chapéu para baixo e grunhiu.
Se aquele garoto era representativo da próxima geração, que Deus salvasse a Inglaterra.
*****
? O duque ficou de cama por quase um ano ? o mordomo respondeu. ? Isso seria uma crueldade. Mas um pequeno acidente, talvez...
O mesmo criado disparou a mão para cima.
? Abelhas! Vespas! Aranhas! Cobras!
? Sapos. Gafanhotos. Rios de sangue ? a cozinheira falou. ? Acho que já cobrimos todas as pragas, Moisés.
*****
Depois que o mordomo saiu, Emma começou colocar as coisas no lugar, evidentemente contrariada.
? É só um hematoma ? Ash disse. ? Derivado de uma atividade masculina.
Eu garanto que ele adorou.
? Ele estava chorando ? ela retrucou.
? Lágrimas de alegria. ? Ele abriu os braços.
Emma suspirou.
*****
Ele passou rapidamente pela pilha que ela lhe mostrou.
? ?Monstro de Mayfair ataca garoto.?
? ?Monstro de Mayfair aterroriza três homens na Rua St. James.?
? ?Monstro de Mayfair rapta ovelha do açougue. Suspeita-se de rituais satânicos? ? ela concluiu.
? Rá. O ?garoto? tinha pelo menos 20 anos e fez muito por merecer. Eram quatro na Rua St. James. Janotas mofados importunando uma dama da noite enquanto voltavam do clube Boodle?s. Eu não gostei da atitude desrespeitosa deles. Esse último... eu nem fiz isso. Ovelha uma ova. ? Ele riu. ? Sabe o que isso significa?
? Estou casada com um justiceiro descontrolado?
? Não. Quero dizer, talvez. Mas também significa que as pessoas estão inventando histórias do Monstro de Mayfair só para ganharem notoriedade.
Significa que sou uma lenda.
*****
? Esta noite ? ele disse ?, você vai brilhar como uma joia. Um rubi. Um rubi extraordinariamente grande. ? Ele inclinou a cabeça para o lado. ? Você vai ser o maior rubi que já existiu, eu imagino. Um rubi com... braços.
? Alguma parte disso era para ser um elogio?
Ele suspirou, frustrado.
? Deixe-me começar de novo. Você é a minha duquesa. Você é linda.
Todo mundo tem que saber disso.
*****
? Por que você quer tanto ir embora?
? Você também deveria querer. ? A voz dele ficou sombria. ? A menos que queira levantar as saias e sentar no meu colo, para que eu possa possuir você aqui mesmo no camarote.
Então era ela o motivo da inquietação dele?
? Você fica sugerindo essas coisas como se fossem ameaças. Mas elas apenas me deixam curiosa. ? Fingindo indiferença, ela pôs a mão na coxa dele, desenhando círculos preguiçosos com a ponta do indicador.
A coxa dele ficou tensa debaixo de seu dedo.
? Mulher, assim você me mata.
Ela deu de ombros.
? Como você mesmo disse, é uma tragédia de Shakespeare. Todo mundo morre no final.
? Basta. ? Ele se colocou de pé. ? Vou pedir a carruagem e nós vamos para casa. Para a cama. E você vai ter nada menos que dez ?pequenas mortes? antes que eu fique satisfeito.
*****
? Me solte.
? Prefiro morrer. ? Ele passou o braço direito ao redor da cintura dela e usou a mão boa para segurar-lhe o queixo, inclinando o rosto dela para o seu.
Segurando-o com força, proibindo que ela desviasse o olhar. ? Olhe para mim.
Ela fungou, piscando para afastar as gotas de chuva.
Segurando o queixo dela, ele a sacudiu de leve.
? Droga, Emma, olhe para mim.
Olhe para mim. Olhe para mim. Porque você é a única que olha.
Provavelmente será a única que irá me olhar.
*****
Oh, Emma. Sua tonta e linda mulher.
Só mesmo uma tola para chorar por ele.
*****
Quando ela estava com frio, ele a aquecia. Só isso era mais carinho do que Emma jamais tinha recebido de outro homem. Não importava que vinha acompanhado de caretas e tiradas irônicas.
Ela o amava por isso. Ela o amava, amava, amava.
*****
Ele se acomodou atrás dela sobre a cama, ajeitando-se ao corpo curvado de Emma, puxando as costas dela para seu peito. Ele estava quente como um tijolo tirado do forno. O calor delicioso de Ash irradiou por toda ela, relaxando seus membros. O tremor dela passou.
? Não está mais com frio?
? Não.
? Ótimo. ? A palma da mão dele deslizou pelo braço dela. ? Então durma.
As pálpebras de Emma ficaram pesadas.
? Ash...
? Durma. ? Ele contraiu o braço, apertando-a contra si. ? Vou manter você quente e em segurança. Sempre.
*****
Pela segunda vez no casamento, Emma teve o prazer de acordar nos braços do marido. Com a alegria de descobrir que o cabelo havia se transformado num ninho, e a felicidade de uma dor de cabeça perdendo força.
Mas sim, os braços. Acordar nos braços dele foi uma delícia.
Ela rolou para o outro lado e ficou de frente para ele.
O olhar de Ash era carinhoso e seu toque ainda mais. Ele deslizou uma carícia pelo rosto dela, depois desceu até o ombro. Ash parecia não ligar para o cabelo emaranhado. Então ele a abraçou e lhe deu um beijo que foi tão doce e delicado quanto o da noite anterior fora apaixonado e exigente.
? Emma ? ele suspirou quando separaram os lábios.
*****
? Vocês estão em perigo.
? O que isso quer dizer? ? Ash fez uma careta de deboche.
? É meu novo bordão. Um tipo de slogan. Ainda estou aprimorando a forma de dizer. ? Trevor baixou a voz para um grunhido sinistro, então levantou a mesma sobrancelha. ? Vocês... ? pausa ? ... estão em perigo.
Emma apertou os lábios, tentando não rir.
*****
? Eu estava pensando, meu bolinho.
Ele caiu de costas na cama e grunhiu.
? Em-ma.
? Desculpe, mas não quero chamar você de Ash. Não é quem você é. Ash [cinzas] são os restos frios, mortos, que ficam depois do fogo. As partes que são varridas e jogadas fora. Você não é nada disso para mim. Você está vivo, é resplandecente e um pouco perigoso. E sempre me mantém quente. ? Para que ele não ficasse em pânico com o elogio, ela decidiu amenizar seu tom. ? Além do mais, é muito divertido provocar você.
? Pode ser divertido para você.
*****
? Você é incorrigível ? ele disse.
? E sua. Totalmente sua. Você não vai se livrar de mim.
*****
Ash sabia que estava a ponto de ir longe demais. De magoar demais, ferir demais. Se ele fosse o homem de que Emma precisava, iria se conter. Mas ele não era mais um homem sadio e completo. Algumas partes dele estavam faltando. Outras estavam retorcidas, impossíveis de reconhecer, tanto por dentro quanto por fora. Ele estava amargurado demais para merecer o amor dela, deformado demais para mantê-lo.
E ele era feio demais para ficar ao lado dela. Num salão de baile ou em qualquer outro lugar.
Esse era o motivo, ele procurou se lembrar, pelo qual tinha insistido em um acordo temporário. A situação da amiga da esposa era um lembrete oportuno.
O casamento deles não foi feito para durar.
? Ash, não faça isso.
Ele pôs a mão na maçaneta e se preparou para sair.
? Como você disse, nosso acordo foi cumprido. Você não precisa voltar.
*****
? Deus, olhe seu vestido.
? Eu sei. Parece até que me enrolei em cortinas velhas e depois um lustre caiu e se espatifou sobre mim.
Ele apertou os olhos e observou o vestido.
? Eu ia dizer que você parece um anjo que velejou pela noite escura e voltou para a terra coberto de estrelas.
Ela corou com o elogio.
? Eu precisava de algo digno de uma duquesa.
? Isso ? ele disse ? é digno de uma deusa. Mas ainda acho que vai ficar melhor amontoado no chão.
*****
? Eu já lhe contei por que me casei com você?
? Acredito que já. Parece que eu atendia a todas as suas exigências.
? Verdade. Mas não fui totalmente sincero. Você superava as exigências, todas elas. Você não é apenas saudável para ter filhos, mas é forte o bastante para me aguentar. Filha de um cavalheiro, mas também é corajosa o bastante para se defender diante de toda a sociedade. Você é instruída, sim, mas também é espirituosa e muito inteligente.
? Bonita ? ela completou. ? Você me fez esse elogio. Você me chamou de bonita.
? Bem, eu menti. Eu não a acho bonita. Acho, sim, que você é a pessoa mais linda que já conheci, por dentro e por fora.
*****
? Você está aqui ? ele repetiu, pegando a mão dela e a colocando no peito, bem em cima dos batimentos cardíacos. ? No meu coração. De algum modo você forçou sua entrada nele quando eu não estava prestando atenção. Do mesmo modo que invadiu minha biblioteca, eu imagino. Mas agora você está aqui dentro. Emma, você é a vida que há em mim.
*****
? Isso foi lindo ? ela disse.
? Acha mesmo?
? Você praticou enquanto estava a caminho?
? Não. ? O queixo dele recuou, como se Ash estivesse ofendido.
? Eu não pensaria menos de você se tivesse praticado.
? Então sim, eu pratiquei. Mas isso não torna minha afirmação menos sincera. ? Ele massageou o espaço entre as escápulas dela com o polegar. ? Você consegue entender o quanto eu a amo?
? Estou tentada a dizer sim. Mas acho melhor ouvir você se explicar um pouco mais.
? Pode demorar anos.
? Tudo bem, por mim. É claro que isso significa que você vai ter que escutar todas as minhas razões para amá-lo.
? Argh. ? Ele fez uma careta.
? Não se preocupe. Você já sobreviveu a coisa pior.
? É verdade. Imagino que sim. ? Ele deu aquele sorriso lento, de lado, que Emma tinha começado a adorar.
E então, na frente de todos, ele abaixou a cabeça para beijar a esposa.
*****
? Ser ferido em batalha não faz de um homem herói de guerra.
Ela o encarou no fundo dos olhos.
? Ser pai deles fará de você herói de seus filhos.
O coração dele ficou apertado como se tivessem lhe dado um nó.
Puxando-o para si, Emma encostou sua testa na dele.
? Tornará você meu herói, também.
Ele a puxou para si, mais apertado.
Emma, Emma.
*****
Fazia mesmo uns poucos meses desde que ela tinha irrompido em sua biblioteca? Mal ele sabia que a filha de um vigário, envergando um vestido branco horrendo, seria a ruína de todos os seus planos. Seria o fim dele, também. O que Emma tinha feito com ele? O que Ash iria fazer com ela?
Amá-la, isso sim.
Amá-la e protegê-la, e tudo que ela lhe pedisse e ainda mais.
Talvez ele não tivesse realizado nenhum ato de bravura extraordinária em Waterloo. Mas travaria a maior de todas as batalhas por ela e pela criança que carregava, e por qualquer outra criança que Deus achasse por bem dar a eles.
*****
Ash fez uma promessa silenciosa para ela ? e para si mesmo ? de que nunca mais esconderia suas cicatrizes. A totalidade de seu maldito passado o tinha levado até esse momento, e negar o passado seria o mesmo que negar Emma. Outros podiam ver suas cicatrizes como sua ruína. Mas Ash sabia qual era a verdade. As cicatrizes lhe deram um novo começo.
E Emma foi sua salvação.
*****
? Agora escute, Richmond. Seja um bom garotinho enquanto eu estiver fora. Não dê trabalho para o seu padrinho. ? Emma fez um carinho no queixo gorducho do bebê.
? Não desperdice saliva ? seu marido murmurou. ? Ele não vai se comportar. É meu filho, afinal.
*****
? Você pode deixar a chemise?
Ele pareceu ler os pensamentos dela.
? Sério, Emma. Não seja absurda.
? Meu corpo mudou. Você não é o único que tem vaidade.
? Não vou me dignar a responder a isso.
A chemise caiu, juntando-se à pilha de roupas jogadas na grama.
Momentos depois, eles juntaram os corpos nus à pilha, entrelaçando suas línguas, seus membros, respirações e corações.
Dali em diante foi fácil. Familiar. Eles fizeram amor em plena luz do dia, sem esconder nada. Ele se moveu sobre ela, dentro dela. Emma o manteve o mais apertado possível. Eles chegaram juntos a um clímax doce, como se o êxtase simultâneo não fosse uma raridade, mas a coisa mais natural do mundo. O sol nasce, o vento sopra, orgasmos vêm aos pares.
E após esse momento de felicidade transcendente, quando afastou o cabelo úmido da testa e sorriu satisfeita para o marido, Emma pensou que ele não poderia ser mais perfeito.