Danilo sm 30/11/2021
A única verdade perene é a Mudança
Deus é Mudança
Após a fundação da comunidade Bolota, em 2027, Lauren Oya Olamina está vivendo relativamente bem, e juntamente com seus amigos agregados, a comunidade estão crescendo e se estabilizando. Não só Bolota, mas a Semente da Terra está sendo ensinada. Mas, como diz o primeiro livro dos vivos, Deus é Mudança. Então, aconteceria algo que faria a todos mudarem de certa forma, mas esse algo não seria tão bom assim.
Esta história, acredito, é consideravelmente melhor do que no primeiro livro, Semeador. Aqui, além de expandir a personagem principal, a autora inseriu novos pontos de vista que complementaram com novas visões de mundo e críticas à própria Olamina, mantendo toda a verossimilhança e humanidade nela e nos outros personagens. Esse é um dos pontos mais fortes e um dos mais delicados da escrita de Butler, ela desenha as personagens como pessoas reais e falhas, mas ao mesmo tempo destrói nossas expectativas com ações complexas, e isso me fez levar um pouco mais de tempo para me adaptar a essa distopia, em ambos os volumes.
É uma narrativa com saltos, idas e vindas no tempo por causa dos diferentes narradores que foram inseridos. Foram um pequeno mas simples quebra-cabeça que, quando totalmente exposto, você vê que tudo o que passou, tudo o que teve que suportar ou percorrer, tudo resultou naquilo. Me surpreendi pela forma com que a Semente da Terra pôde ser moldada, de acordo com o que fora ensinado. Houveram situações difíceis, lamentáveis, de dar nojo e ódio por tamanha brutalidade, a violência aqui é direta, sem qualquer rodeio e enfeite. Não há essa glorificação aqui, é para das asco e chocar, o que já alerto para quem se dedicar a esse livro num futuro próximo. No entanto, retornando aos destaques, achei muito interessante o modo com que a autora trata sexualidade, com normalidade admirável por parte da autora, e como nos relacionamos a outras pessoas, no geral. Infelizmente essa questão é por vezes silenciada (durante a história em si), porque o mundo aqui mostrado é cruel e não é um lugar no qual queiramos viver. Esse caos nunca foi normal.
Depois de Semeador, você se vê entendendo Lauren, e durante Talentos, você se vê criticando e moldando a Semente da Terra com o andar da narrativa. E no fim, observa a trajetória de vida desses personagens, alguns de tanto tempo atrás, eles amadurecereram, cresceram e são o que são. Não tenho como descrever a sensação ao final disso tudo, depois dessa jornada, a não ser com um dos versos que me chamaram atenção nos livros dos vivos, alguns deles particularmente me interessaram e fizeram-me refletir bastante sobre o mundo em si.
"O Destino da Semente da Terra
É criar raízes entre as estrelas".
E assim moldaremos o futuro. Moldaremos Deus. Não quero ser romântico sobre essa religião, tenho questões sobre isso, mas é uma doutrina que faz uma associação de teorias e práticas interessantes, para dizer o mínimo.