Wellington Silva 12/01/2018
SOBRE A AUTORA:
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Andréa Maciel Pachá nasceu no Município de Petrópolis/RJ e se formou Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro no ano de 1985.
Filha do ex-desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJERJ), Miguel Pachá, Andréa assumiu o cargo de juiz de direito pelo TJERJ em 1994.
Foi conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável pela criação do Cadastro Nacional de Adoção, pela Comissão de Conciliação e Acesso à Justiça e pela implantação das Varas de Violência contra a mulher em todo o País.
Presidiu, em 2008 e 2009, duas jornadas sobre a Lei Maria da Penha, com objetivo de discutir aspectos doutrinários e traçar políticas para especialização das Varas. Foi vice-presidente de comunicação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e integrou a equipe que produziu a cartilha sobre as novas regras para a adoção.
Coordenou a campanha pela Simplificação da Linguagem Jurídica, publicando uma cartilha para entender o juridiquês.
Foi produtora de teatro e trabalhou com Amir Haddad, Aderbal-Freire Filho, Luis Arthur Nunes e Rubens Correa.
No ano de 2012 lançou o livro livro "A vida não é justa" pela Editora Agir, onde reune casos coletados ao longo de mais de 15 anos na Vara das Famílias da Comarca de Petrópolis/RJ, contados através na forma de crônicas, onde não só narra os fatos, mas introduz sua visão pessoal e profissional.
Vale frisar que o respectivo livro originou um quadro (minisérie) no Fantástico, pela Rede Globo, ainda disponível no site http://g1.globo.com/fantastico/quadros/segredos-de-justica/
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ESTILO ESCOLHIDO: CRÔNICA
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Crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens.
Possui como características principais: uma narração curta, de linguagem simples e coloquial, com poucos personagens, se houver, com espaço reduzido e acontecimentos cotidianos.
Logo, na crônica o autor narra um fato de seu contidiano, cujo texto mesmo que curto, deve ter início, meio e fim, mesmo que o fim não seja o fim (entendem?!)
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MINHA EXPERIÊNCIA:
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O livro é dividido em: Apresentação; Parte I; Parte II; Parte III; Parte IV; e Agradecimentos.
A autora optou por essa divisão visando apresentar um grupo de histórias com alguns fatos em comum: PARTE I - Amores líquidos: casos relacionados a casamento/separação; PARTE II - Pais e filhos: casos legados a relação pais e filhos; PARTE III - Realidade ampliada: casos diversos que fazem parte da competência da Vara de Família (correção de certidões de nascimento e óbito, por exemplo); e PARTE IV - Recomeço: casos de reconciliação.
As duas partes iniciais são bem claras quanto a escolha dos casos, sendo evidente que uma trata de casos de casamento e a outra de relações paternas.
Todavia, a parte III e IV requer uma leitura mais atenta, caso o leitor queria identificar quais as relações entre os casos narrados.
A autora cumpre a proposta feita, narrar casos, interessantes, do seu cotidiano como juíza de direito da Vara de Família, mas claro sem deixar de demonstrar a sua posição profissional e pessoal sobre cada caso.
A leitura é simples, sem nenhum juridiquês (inclusive a autora se empenhou pela simplificação da linguagem jurídica), possibilitando que o grande público possa ter acesso ao livro sem medo de estar lendo uma doutrina chata de direito, cujo texto é voltado para operadores do direito.
Duas histórias me chamaram atenção: "O enterro do filho de Édipo" e "Sagrado é um samba de amor".
O primeiro narra a história de dois jovens, onde a menina teria engravidado, mas escondeu a gestação de todos. O que me chamou atenção neste caso foi a forma como as partes trataram a gravidez, nascimento, falecimento e sepultamento do filho do casal. Não só os pais da criança demonstram um total despreparo, como os "responsáveis" pelo casal também demonstram uma falta de humanidade.
Apesar do caso poder ser considerado uma história surreal, não pude deixar de rir de certas colocações da autora, até porque a crônica tem um pouco disso, humor, mesmo que nas situações mais estranhas.
O destaque para o segundo caso vai para o fato de como as pessoas podem ser influenciadas, principalmente nos momentos de fragilidade ou quando há um interesse. A autora narra o caso de um casal de músicos que se conheceu em uma roda de samba. Ambos se amavam, mas a mulher deixou de lado aquela suposta vida errada para seguir um "guia" espiritual. Na sua tentativa de arrastar o marido para a sua vida espiritual, a mulher acaba por optar pelo desfazimento da relação, por orientação do seu "guia". Todavia, o mesmo "guia" acaba por mudar a sua orientação, isso porque a autora lhe mostra o caso sobre outra perspectiva.
É claro que os demais casos são interessantes, pois demonstram um pouco do cotidiano de uma Vara de Família (inclusive demonstrando um pouco de falta de respeito da juíza com os colegas advogados, desmarcando audiências em cima do laço), além de apresentar fatos que podem ou já aconteceram com todos nós.
Os casos mais "pesados" são relacionados na Parte I, onde vemos 12 crônicas sobre fim de relações conjugais, algumas amigáveis e outras muito tristes.
Nota-se que a autora vivenciou muito mais do que os casos narrados no livro, o que lhe deu bagagem para analisar e tentar fazer o que achou justo.
Também confesso que em alguns casos torci para uma sentença justa, mas também torci o nariz para alguns posicionamentos que achei, no mínimo, sem pulso. Talvez eu não tenha tanta bagagem emocional para analisar os casos como a autora, mas o ser humano é assim, nem sempre concordamos.
Inobstante, isso diz que o livro realmente cumpre a sua proposta, pois, assim como a autora, nos envolvemos com os casos e queremos um final feliz para as histórias (mesmo que o final não seja o fim, pois a vida continua).
site: http://jujusilvadog.blogspot.com.br/