Mariana 03/06/2021
O autoritarismo representa o antônimo da democracia
Em Sobre o Autoritarismo Brasileiro, a historiadora e antropóloga Llia Moritz analisa 8 temas, separados em capítulos - (i) escravidão e racismo; (ii) mandonismo; (iii) patrimonialismo; (iv) corrupção; (v) desigualdade social; (vi) violência; (vii) raça e gênero; (viii) intolerância -, abordando-os desde o período colonial e mostrando como eles se repercutem e se reproduzem até os dias de hoje.
Lilia consegue desconstruir, de forma clara, a imagem clássica e popular de que o Brasil é um país tolerante e pacífico. Ao contrário: a realidade é que somos intolerantes, preconceituosos, conservadores e autoritários.
Sobre a intolerância, nossa atual plataforma política, que joga mais pela divisão do que pelo consenso, investindo em códigos e narrativas binárias que exploram o "bem contra o mal", "honestos contra corruptos", "cristãos contra ateus", "cidadãos de bem contra comunistas", acaba por acirrar esse sentimento beligerante de contraposição, ampliando a intolerância social. A autora tem um trecho excelente que quero reproduzir:
"Se é possível dizer que intolerância não é um sentimento ou uma postura existencial que nasce do dia para a noite, e que, como tentamos mostrar, encontra raízes no nosso passado - de longo, médio e curto curso - apesar de nossa continua denegação do conflito, é também forçoso reconhecer que deixamos de esconder tal sentimento, para muitas vezes exaltá-lo publicamente. E essa talvez seja a maior novidade: o que eram antes manifestações recônditas e apenas furtivas, agora viraram ocasiões para o orgulho e a autocelebração."
É interessante como ela desenha, de forma simples, como sempre houve aqui, desde os tempo coloniais, a exaltação de figuras patriarcais, que nos "protegem', e punem nossos inimigos. Daí vem a exaltação do colonizador português, do Imperador, do bandeirante, do militar e, agora, do Mito.
Enfim. Nosso autoritarismo, sobretudo a ascensão desse novo governo de direita, autoritário, popular, não deixa de ser resultado de um país que ainda se sustenta em bases do colonialismo, dominado por um sistema latifundiário, escravocrata, misógino, racista, em que a figura do "salvador da Pátria", do "mito", depende e se alimenta da continuidade da desigualdade social para se manter no poder.
Livro necessário, atual, de linguagem clara e didática.