Luiz Gustavo 13/08/2020"Minha vida de menina" é ambientado em Diamantina nos anos de 1893 a 1895 – muito antes da pandemia de covid, do atentado às torres gêmeas, do desastre de Chernobyl, das ditaduras latino-americanas, das três grandes guerras mundiais (incluindo a guerra fria), e antes mesmo da invenção do avião. Pensei que uma história que se passa antes de todos esses eventos seria muito aprazível de se ler, e nesse livro temos acesso aos diários de Helena Morley (pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant) na época em que ela tinha entre 12 e 15 anos. É um livro autobiográfico, portanto. Pois bem, inicialmente a vida e os acontecimentos provincianos são realmente divertidos. Alguns casos beiram o absurdo, e ri muito com as loucuras que aconteciam na cidade mineira no final do século XIX. Também fiquei impactado com a banalidade da morte e as desigualdades sociais. Helena tem alguns pensamentos marcantes, apesar da pouca idade, mas é muito difícil simpatizar com ela. A partir do diário de 1894 fica mais evidente que Helena distorce a realidade que descreve. Muitas vezes ela se faz de vítima e "arruma" os acontecimentos a fim de fazer com que o leitor tenha uma boa impressão dela, mas logo percebemos as constantes tentativas de enganação por parte da narradora. Helena romantiza a pobreza e o sofrimento dos outros e reclama de sua vida, julga todos ao seu redor, é extremamente mimada, egoísta e vaidosa, mas faz pose de boa moça sofredora e eu só queria dizer a ela: "Não gosto de você. Não sinto verdade em você. Acho você, sim, incoerente. Você está onde te convém, em todos os seus jeitos, falas, andados, posicionamentos e etc. Acho você uma falsa, acho você extremamente sem educação, extremamente grossa com as pessoas e extremamente soberba". Apesar dos acessos de raiva causados pela narradora antipática, "Minha vida de menina" foi uma boa leitura.