Livros da Julie 27/12/2022Um romance que nos deixa aflitos-----
"que casal não trai hoje em dia, se pararmos para pensar?"
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"Se todo relacionamento começasse mal, o príncipe encantado desapareceria de todos os contos de fadas já escritos, e as comédias românticas seriam repletas de horror."
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"Nenhum profeta é bem-recebido em sua própria terra, principalmente um estrangeiro."
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"- O importante é tomar uma decisão (...) Uma que lhe permita viver no presente em vez de ficar se perguntando constantemente como seria o futuro."
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"Por que as mulheres sempre se apaixonam perdidamente por homens que só as fazem sofrer e mal olham para aqueles que moveriam montanhas por elas?"
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"É a liberdade dos personagens da ficção que achamos tão inspiradora, ou a forma com que aquela liberdade os transforma? Por que eles ousam fazer tanta coisa, e nós ousamos tão pouco?"
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"Não acha que já temos tragédias o suficiente na vida real? As pessoas já têm desventuras demais, decepções, covardia e crueldade. Por que quer piorar ainda mais as coisas escrevendo histórias com finais tristes? (...) Qual é a razão de se atuar, escrever, pintar ou esculpir, de correr qualquer um desses riscos, se não for para fazer as pessoas felizes?"
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"Se mais homens tivessem coragem de mostrar seu lado sensível, as coisas poderiam ser muito diferentes."
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"quando você acha que chegou no fundo do poço, tem que tomar cuidado, porque há outro abismo logo abaixo, ainda mais profundo "
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"Não ter esperança é o que acaba com as pessoas."
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P.S. de Paris foi o livro escolhido para novembro no Clube de Leitura Oh là là, promovido pela @eleonora_ribeiro
Suspeitando de uma traição por parte do marido, com quem contracenou em seu último filme, a famosa atriz inglesa Mia decide dar um tempo na relação e se refugia no apartamento da melhor amiga, dona de um restaurante em Paris.
Enquanto não decide o que fazer da vida, Mia entra em um site de relacionamentos e recebe um convite para um encontro com Paul Barton, um escritor norte-americano que vive em Paris. Os dois só não imaginavam que o encontro havia sido arranjado pelo melhor amigo de Paul.
Passada a confusão, Paul e Mia percebem que acham a companhia um do outro agradável e poderiam muito bem ser amigos, já que ambos ainda estavam envolvidos com outras pessoas. O destino, porém, lhes reservava muitas surpresas. Não estaria o amor entre elas?
A escrita do autor é bastante fluida, dinâmica e envolvente, o que permite uma leitura muito rápida. Há longas conversas entre Mia e Paul, que lembram o estilo do filme Antes do Amanhecer, e também entre eles e seus respectivos amigos, mas no geral as cenas são curtas e se sucedem rapidamente.
O enredo aborda a questão da interação nos sites e aplicativos de relacionamentos e bate-papos. Pode parecer mais fácil conhecer alguém virtualmente, sem os constrangimentos intrínsecos à apresentação presencial, mas as pessoas são mestres em complicar a vida e estenderam o complexo jogo do flerte para o mundo online. Há que se captar a personalidade e as intenções do pretendente nas entrelinhas das fotos, do sintético texto de descrição do perfil e das mensagens iniciais.
Levy traz um rápido vislumbre do mundo das celebridades do cinema e mostra um pouco dos bastidores do mercado literário e das implicações da fama, por vezes sufocante e indesejada, que um best-seller pode trazer ao escritor. É uma pena que o tema de um dos livros de Paul, o sofrimento causado pela ditadura norte-coreana, também seja abordado por alto, sem maiores aprofundamentos.
Os lugares citados no livro também não são descritos ou explicados. A experiência geográfica, especialmente quando a história se passa em Paris, é melhor aproveitada por quem já conhece a cidade. Ainda assim, uma rápida pesquisa na internet pode dar o gostinho de flanar pelas ruas como os personagens, passando pelos principais pontos turísticos, desde monumentos, museus e jardins a cafés e lojas. Há até uma alusão ao programa de TV francês @lagrandelibrairie e ao seu antigo apresentador, @francoisbusnel.
É mais fácil se imaginar na França do que sentir o clima de romance. Há partes que chegam a ser tragicômicas e deixam o leitor angustiado, convicto de que as problemáticas circunstâncias em que o casal se encontra não serão solucionadas.
Mia tem uma personalidade complicada e um tanto egocêntrica. Apesar das boas intenções, ela dificulta tudo ao máximo. Ela evita uma comunicação franca e direta, que lhe pouparia tempo e sofrimento. Nem para a melhor amiga, de longuíssima data, que a socorreu quando mais precisava, ela consegue falar a verdade. É difícil para o leitor simpatizar e se conectar com alguém que é incapaz de contar algo sem inventar mentiras, de modo quase patológico. Mia cria uma farsa impossível de ser mantida, que paira sobre tudo e que eventualmente começará a desmoronar.
Paul não fica muito atrás em matéria de trapalhadas, mas pelo menos ele não pode ser diretamente responsabilizado pelas situações em que se mete. Apesar da timidez, das manias um tanto excêntricas e de algumas fobias exageradas, ele tem um jeito cavalheiresco e muito adorável, que compensa a surrealidade da história e nos faz torcer por um bom final, pois feliz parece ser pedir demais.
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