Mari Pereira 01/03/2022Uma boa proposta de leitura e reflexãoNo livro "A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas", Maria José Silveira nos conta a história de uma família a partir de sua descendência matrilinear, e dessa forma nos convida a repensar a história do Brasil a partir de uma outra perspectiva: a das mulheres.
Com um projeto ambicioso, a autora estende sua narrativa desde o momento da invasão portuguesa (1500) até a contemporaneidade (2017), em pouco mais de 300 páginas. Ainda que a autora demonstre ter realizado um certo trabalho de pesquisa e ao final do livro revele as fontes consultadas, é importante lembrar que não se trata de um tratado de história do Brasil, mas de uma ficção, que escolhe ao que quer dar destaque.
De partida já discordo do argumento inicial que a autora traz em seu prefácio: não me importa se a vida dos homens (ou varões) é ou não interessante. A história deles tem sido incansavelmente contada, e muitas vezes chamada apenas de "História". Quero saber das mulheres, de como viveram e sobreviveram. Quero que suas histórias sejam contadas repetidas vezes, até que sejam reconhecidas apenas como História.
Além dessa discordância inicial, me causou estranhamento a benevolência da autora com os senhores e senhoras de escravos; em como o livro nega o lugar central de agência aos escravizados/as na luta por sua liberdade, e também pelo uso de palavras e expressões de cunho racistas, tendo em vista o quão recente é o livro.
Apesar da autora prometer uma história sem suavização, o livro como um todo me pareceu suave demais, tendo em vista tamanho genocídio e a extrema desigualdade sobre as quais foi fundado o Brasil.
Ainda assim, o livro oferece uma leitura agradável e até certo ponto informativa, abrindo temas importantes para reflexão, mesmo que não consega desenvolvê-los em profundidade.