Dhiego Morais 12/09/2020O InstitutoEscondido nas profundezas de uma floresta no Maine, o Instituto se ergue silencioso, imponente e misterioso, tão desconhecido da população quanto se poderia imaginar. Embora persista nas sombras da ignorância humana, sua influência se estende longe e mortal. Entrar para o Instituto é como entrar para a máfia: uma vez lá, não se consegue mais sair.
“Sabe, Jamieson, essa vida que achamos que levamos não é real. Não passa de uma brincadeira de sombras e eu vou ficar bem feliz quando as luzes se apagarem. No escuro, todas as sombras desaparecem.”
Lançado em 2019, praticamente em simultâneo aos Estados Unidos, O Instituto é a obra mais recente de Stephen King, trazido em terras tupiniquins pela editora Suma, um braço da Companhia das Letras. Enquanto If we bleed, previsto para meados de 2020 – e ainda sem título no Brasil – não sai, comentemos um pouquinho sobre este romance que, já adianto, é muito bom. Bora lá?
Assim como Stephen King já fez anteriormente em IT, a Coisa e em O Talismã, por exemplo, O Instituto promoverá o encontro do público leitor com protagonistas crianças, e, se há algo que o autor faz muito bem – normalmente bem – é desenvolver crianças cativantes e tão complexas quanto seus personagens adultos.
Luke Ellis é um garoto de doze anos e bastante especial: além de ter uma inteligência extremamente elevada, de tal modo que é capaz de resolver testes universitários e se propor a concorrer a duas bolsas de graduação e estudá-las concomitantemente, ele também possui uma habilidade paranormal fraca, latente. E é justamente por este último detalhe que Luke se torna alvo do Instituto, uma organização científico-militar secreta e sinistra.
No Instituto, após ser sequestrado, Luke passará a conviver com outros jovens, mais novos e mais velhos na mesma situação de clausura que está. Ali, todos são recrutas, todos serão guardiões de sua nação, reunidos para um bem maior – pelo menos é isso que os funcionários querem que eles acreditem. No interior daquelas paredes, médicos executam experimentos cruéis com as crianças, aplicam substâncias desconhecidas, agridem e violentam quem age em desacordo. A punição é realizada com bons olhos e sorrisos no rosto dos cuidadores.
A leitura se torna dolorosa em alguns momentos. King transforma o Instituto e seus funcionários em vilões dignos de nota – e desafeto. No entanto, vale ressaltar que esses fatos não são usados em desarmonia com a construção das personagens, nem com o tom da história.
Avery Dixon é outro dos jovens raptados pelo Instituto. Mais novo que Luke, a situação em que se encontra o torna mais mimado e assustado de início. Mas o pequeno esconde uma habilidade telepática extremamente poderosa e, unido a Luke e sua mente, talvez exista algo que possam fazer para virar o jogo.
Pode parecer “chover no molhado”, mas não posso deixar de citar as personagens tão bem construídas e que fazem de O Instituto um livro tão delicioso de se ler. Boa parte da história ocorre no interior dessa organização, o que permite que investiguemos a vida daquelas crianças, criando um vínculo de empatia que se estende até o final da história. Enquanto as crianças dão um tom mais ameno e ágil à trama, as personagens adultas promovem o rebuliço, as reviravoltas revoltantes e angustiantes. Entre as crianças, vale manter o olho aberto para Kalisha, George e Nick, por exemplo.
Não poderia ser uma história de Stephen King se não tivesse uma trama dentro da trama, certo? É aqui que entra Tim Jamieson, um ex-policial que segue sem rumo certo, até aportar em DuPray, uma cidadezinha na Carolina do Sul. Lá, trabalhando como vigia noturno para o xerife John, o destino se mostrará para ele definitivamente. Às vezes estamos no lugar certo para na hora certa as coisas andem como devem andar.
Um ponto interessante para se comparar é a história de A Incendiária e O Instituto. Embora nada esteja confirmado, há quem sugira que a Oficina tenha ligação com o Instituto. Talvez sim, talvez não, mas a verdade é que ambas as instituições tem o seu interesse em crianças com habilidades incomuns.
“Ocorreu a ele de repente que era preciso ficar preso para entender de fato o que era liberdade.”
Outro ponto bacana de citar é como o autor encaixou bem as referências a vários livros. Em determinado momento, cita-se, por exemplo, As Crônicas de Gelo e Fogo. Há, é claro, referências ao kingverso – universo compartilhado das obras de Stephen King –, com lembretes a Salem.
Com um ritmo que aumenta gradativamente, O Instituto assegura mais uma vez ao leitor saudoso das obras dos anos 70 e 80 de Stephen King, tais como O Iluminado, IT e Salem, que King ainda tem boa mão para histórias eletrizantes, cheias de suspense e personagens complexos. Dos finais, que sempre dividem opiniões, em O Instituto o autor amarra bem a história, ressalta críticas políticas, mas deixa espaço para um saboroso – e se...?
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